Opinião

O velho mastro de madeira

Estamos no distrito de Namarroi, entre os distritos de Mocuba e Ile, na província da Zambézia. A guerra tinha terminado havia escassos seis meses. A vila estava completamente destruída e em escombros. As ruínas misturavam-se com as tendas móveis dos deslocados. Era um cenário muito triste. Filas de pedaços de mandioca secavam ao sol, para serem transformadas em “magadada” que, depois de triturada na moagem, dá lugar à farinha de mandioca para fazer a “caracata” que alimenta as barrigas vazias. Crianças pequenas de barrigas inchadas brincavam com brinquedos feitos de caixas velhas e pedaços de madeira ou pneus velhos transformados em carros minúsculos. Algumas enrolavam-se na circunferência da roda, como se fossem jantes. A nossa bandeira, símbolo nacional, completamente esfarrapada, ondulava num mastro velho de madeira que parecia olhar para mim querendo dizer que ao longo dos 16 anos assistira as coisas incríveis praticadas pelas partes beligerantes.

Olhei para o velho mastro com a bandeira no topo, percebi a sua mensagem de resiliência, e apeteceu-me dizer-lhe que concordava com a ideia de unir esforços vindos de todos os quadrantes, realizar acções, trabalhar duro para melhorar a vida das pessoas e ajudar as crianças a alcançarem os seus sonhos. Ajudá-las a realizarem as suas utopias interrompidas no decurso da guerra que apenas fez crescer a pobreza. A minha conversa com o mastro ficou animada. “Mas será que as crianças daqui têm sonhos e utopias? Perguntou-me o velho mastro com a bandeira no topo a ondular cada vez mais. De repente, o vento soprou com uma rajada mais forte. Respondi à pergunta feita pelo velho mastro com um dissimulado encolher de ombros. E fiquei pensativo, olhando para o velho mastro. Só despertei desses pensamentos quando o Funhamwendo, servidor do Estado que trabalhava na administração, que aparentemente acompanhava a conversa virtual e amena que estava a ter com o velho mastro de madeira, interrompeu com um convite: “Vamos sentar-nos e comer”. Leia mais…

Por António Barros

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