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O ÚLTIMO FLATO DO DEFUNTO

Por Idnórcio Muchanga

“Aquele que tocar o cadáver de um morto, estará imundo durante sete dias” Números 19:11

Respeitando e receando o peso das palavras, conversei muito com os meus botões antes de me decidir se devia ou não trazer ao conhecimento de muitos, aquele episódio angustiante por aflitivo, mas no fim vingou a firmeza de ânimo que acabou vencendo a timidez e, cá estou eu despido de nenhum véu de vergonha na cara, prestes a descrever aquela cena constrangedora que sucedeu no momento exacto em que o Caixão contendo os restos mortais deSadreke Masirane Mbawulwane, já se encontrava no fundo da cova. Porquê timidez? Porque “Flato”, apesar de soar bem, porém, não é nada mais, nada menos do que o sinónimo e porque não o disfarce ou embelezamento da palavra certa, mas feia que é “Peido”, nome próprio dado ao movimento de tirar fora os gases intestinais. Poeticamente diríamos que “Flato” é a designação dada aosuspiro de um ânus apaixonado. E ponto final! Portanto, o título perfeito seria “o último peido do morto”. É vergonhoso descrevê-lo, mas como aconteceu e eu testemunhei, não quero ficar sozinho com esse desconcertante por esquisito acontecimento. Segue a descrição minuciosa. Corriam as exéquias fúnebres do finado Sadreke Masirane Mbawulwane, homem que em vida ganhara a alcunha popular de “Maningane”, (o generoso), devido a sua liberalidade em dar, pois não tinha braços a medir na partilha da sua faustosa fortuna, porque, apesar de ter muita riqueza de bens, não era avarento, como geralmente costumam ser os abastados. Comia com todos e socorria a todos os necessitados que fossem do seu conhecimento. Daí que no inditoso dia em que o “Proprietário das Vidas” de todos, incluindo a dos ricos, decidiu cobrar o preço da dele (vida), o estimado e desejado “Maningane”, houve choros copiosos por todos lados em surdina ou silenciosamente. Ninguém conseguiu ficar indiferente. O desaparecimento físico de Sadreke (Maningane), era uma perda verdadeiramente irreparável. Estávamos já no cemitério e, terminadas as derradeiras palavras pronunciadas pelo caudilho da cerimonia, antes de nos livrarmos dos restos mortais do finado, junto da urna, que são: “o pó retorne à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o concedeu”, seguiu-se um momento de um curto silêncio imediatamente interrompido por uma espécie de estampido, impetuoso, inesperado e seco semelhante a uma buzina, provocado por um flato ou peido, vulgarmente chamado de “bufo”, exalando um cheiro de enxofre intenso, proveniente do fundo da cova: “Puuuuiiimmm!” . 

Kandiyane Wa Matuva Kandiya

nyangatane@gmail.com

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