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MITOS E REALIDADES SOBRE O COMUNISMO E SOBRE CHINESES

Por admin

Por ter nascido e crescido numa pequena Povoaçãozinha do litoral, juntinho ao Índico, com cerca de uma centena de almas todas elas pertencentes a mesma Tribo, isso permitiu-nos que todos

 

 nos conhecêssemos até pela simples peugada, assobio, Di Byati ou “txigovila”. Essa condição de vida, fez com que de pequeno experimentasse uma dificuldade de me relacionar com outras gentes diferentes dos nossos falares. Pior ainda se fossem de outra pigmentação. Nunca antes tinha estado num grande aglomerado populacional superior à do meu Lugarejo. Tinha por isso horror aos magotes de gente, em particular da que se falava, residir na grande Cidade de Maputo, nessa altura que a conhecíamos pelos nomes de Lourenço Marques, Kampfumu, Xilungwini ou Darakube, (este último corruptela de De Lagoa Bay); por um ladopelas muitas peripécias porque passavam os que de lá regressavam, por outro, pela desdita de só saber falar a língua aprendida no Leite do Leito Materno. Afeiçoado e grudado à minha Povoação, só de pensar em abandoná-la causava-me terror. Mais definhado ficava ainda, quando me falavam da existência naquela gigantesca Cidade, de um determinado tipo de pessoas chamado “Chineses” que se dizia terem o mau hábito de alimentarem as suas presas para depois de engordá-las transformá-las em postas e deliciar-se delas. Preferia milhares de vezes nunca abandonar o meu Santo Matagal. Lá, nunca podia me perder, porque desde tenra idade, eu e as minhas saudosas avós calcorreávamo-lo, (o sítio) de dia, de noite e ou ao alvorecer, metendo-nos em veredas sem temer mal algum, nessa época, bastando munirmo-nos de um báculo para abrir caminho sacudindo o orvalho e afugentando as cobras, afastar as teias de aranha que nos folhavam as faces, mas… a frente é que era o caminho. Na verdade, os perigos na minha aldeia eram mais imaginários do que reais, como o medo do esvoaçar de uma coruja que nos horrorizava, pois tínhamo-lo como uma ave agoureira pelo facto de ser noctívaga e geralmente prenunciar desgraças. Por causa disso, só de pensar que nesse tal movimento frenético dos carros, motorizadas, bicicletas e a algazarra das pessoas no Mercado, (Xiphamaneni em particular que já nessa altura era afamado), poderíamos depois dar-nos de chofre com um desses apreciadores de carne humana…isso atolava-me de susto. Mas, como tudo na vida, após concluir o meu “Doutoramento” em Curso Geral do Ensino Primário (4ª.Classe), acabei mandando-me para a grande cidade em busca de Emprego (não de trabalho), acabei “aterrissando” na gigantesca Urbe. “Afortunadamente”, o primeiro emprego “arrumei-o” no restaurante de um Chinês chamado Li Chang Lu, ali na Avenida da República (agora 25 de Setembro), como Servente. “Sorte pior não podia ter”, pensei, já que um dia, o simpático Li Chang Lu, poderia “antropofagar-se” e conceber-me como Pitéu. Para adoçar ainda mais o mito Chinês, alguém inventou uma espécie de um grito de guerra: “Ti vonele, ka Nkongogi Xitimela xa Muxina xa ku famba hi Marhambo” (Cuide-se do navio Chinês (Nkongodgi), funciona na base dos ossos humanos). Entretanto, um ano decorreu desde o meu contacto com Li Chang Lu e nada de anormal me aconteceu e nem ví acontecer a alguém. E, como que para dissipar de uma vez por todas os meus temores, o senhor Li Chang Lu, decidiu Moçambicanizar-se ao “Lowolar” uma Tombazana, uma catorzinha diga-sede Hlambankulu, chamada Maria Tereza Mulungu, o que o tornava nosso “cunhado”. Uma década passou e, depois de adquirir mais um “Doutoramento” em 2º.Ciclo dos Liceus, (5º.Ano) decidi candidatar-me a um Emprego sério: Contínuo dos Serviços de Educação. O Espectro do Canibalismo Chinês reapareceu-me. Fomentado pelo próprio Governo de então, para o ingresso na Função Publica, tínhamos que enfrentar o famigerado Decreto-Lei n.º 27003, de 14 de Setembro de 1936, cujo artigo Primeiro rezava o seguinte: “Artigo 1 – Para a admissão a concurso, nomeação efectiva ou interina, assalariamento, recondução, promoção ou acesso, comissão de serviço, concessão de diuturnidades e transferência voluntária, em relação aos lugares do Estado e serviços autónomos, bem como dos corpos e corporações administrativos, é exigido o seguinte documento, com assinatura reconhecida:Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933 com activo repúdio do Comunismo e de todas as ideias subversivas”.  Fim da citação. Nessa época, o número de Moçambicanos presos, torturados e mortos na Vila Algarve e no Djamanguana suspeitos de Comunistas (alimentado pelos Chineses – dizia-se),aumentava, na medida em que também a produção de Bananas para exportação proveniente das Machambas dos pacatos Chineses em Marracuene e naManhiça também subia. Meter a palavra “China ou Chinês” numa conversa, era uma auto-condenação. Proclamada a nossa Independência, e pese tudo o que a China fez por nós na preparação político-militar dos Combatentes para a libertação desta “Pérola do Indico”, gente houve que assumiu o Comunismo, e por tabela os Chineses, como “Bichos-de-sete-cabeças”. Apesar de alguns deles desfrutarem por exemplo do conforto do Centro Internacional de Conferências “Joaquim Chissano”, fruto das mãos Chinesas, o espectro de “NKongodgi”, persegue-lhes. Eu já estou fora desse trauma pois um amigo Chinês garantiu-me que: “Nós na China não comemos pessoas, mas comemos tudo o que é bicho que se arrasta ou que voa…excepto  Avião!”

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