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DO NOSSO FUTEBOL E DO RETORNO DOS FUGITIVOS

Por admin

 “Quando o espírito imundo sai, (…), anda por lugares áridos, procurando repouso, (…) E, tendo voltado, 

(…), Então, vai e leva consigo outros espíritos, piores do que ele…” Lucas 11:24

Em 1975, antes e depois da proclamação da nossa Independência Nacional, muitos portugueses fugiram em debandada, alguns deles depois de sabotarem algumas das infra-estruturas então existentes. Recursos humanos, havia muito poucos ou quase nada. Todos ou grande parte dos técnicos qualificados seguiram para a “metrópole”, muitos deles por recearem possíveis represálias, tanto mal tinham feito (aos da minha geração, aos da geração do meu pai e a todas as gerações anteriores). Para quem já não se lembra ou não sabe mesmo, basta dizer que para os portugueses, todos os homens “pretos” moçambicanos eram “crianças”. Rapazes que nunca cresciam e todas as mulheres “pretas” chamavam-se “Maria”. Tanto mal nos fizeram os portugueses. Por isso fugiram. Só que, volvido este tempo, os moçambicanos formaram-se, reconquistaram a sua identidade própria e já somos auto-suficientes em quadros nalguns sectores. Por outro lado, assistimos agora ao retorno massivo dos portugueses, muitos deles sem nenhuma qualificação profissional por aí além. Daí que, como moçambicano, não posso assistir comodamente a esse vai-e-vem, muitas vezes com a corrupção e a ganância à mistura (esta última sinónimo muitas vezes de ambição desmedida). Isso seria sinal de rendição incondicional ao espírito de “faz-de-conta” que não é comigo. Pois, na verdade tudo quanto acontece de bom e ou de mal no meu país também me afecta directa ou indirectamente. Por exemplo, as cheias e inundações que assolam muitas cidades e aldeias um pouco por toda esta “Pérola do Indico” incomodam-me profundamente e de que maneira. Por isso todos nós e cada um conforme a sua capacidade devemos dar um pouco daquilo que pudermos, de preferência sem tocar batuque ou aparecer nas televisões, muito menos escolher onde o donativo deve ir, pois alguns aproveitam o sofrimento dos outros para se projectarem, isso também fere muito a minha sensibilidade, já que eu só consegui doar aquilo que só eu é que sei. Aliás, um dia, o filho do carpinteiro teria chamado a atenção para esse tipo de gestos:“Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. – Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens.” (Mt 6:1-4). Mas, destavez, o assunto seria o desporto, particularmente o chamado “desporto-rei”. O facto é que o nosso futebol não cresce mais do que cresceu. As coisas começaram quando algumas pessoas perderam completamente a sua auto-estima, o orgulho de serem moçambicanos, restando-lhes apenas a sua ambição desmedida. Essa gente é capaz de negociar com o Diabo e vender a própria pátria. E as negociações já iniciaram. Por exemplo, alguns clubes que, após a nossa Independência Nacional tinham enveredado pela emancipação total e completa do seu antigo “patrão”, repensaram e o arrependimento veio-lhes cedo e regressaram para coçar o umbigo do seu antigo papão e pentear-lhe as barbas brancas. Vamos aos factos. No tempo colonial, grande parte dos nomes dos clubes desportivos do nosso país eram réplicas de clubes da “Metrópole”, trazidos para o “Portugal Ultramarino”. Um falecido colega e amigo meu era sócio do Sporting Clube de Portugal, onde pagava quotas e, em compensação, recebia camisetas, galhardetes, emblemas, bandeirolas e tudo mais. Num dia em que o seu Sporting perdeu com o Benfica, equipa da qual era e ainda sou apenas simpatizante, o meu saudoso amigo fechou-me a porta da sua casa durante três dias, bateu na mulher e nos filhos, enfim armou uma verdadeira bagunça. Sentia-se um verdadeiro “Leão rampante de cor branca, e dourado”. Ferido! Como aquele meu saudoso amigo, há muitos por esse Moçambique adentro. Ambiciosos e poderosos. São pessoas perigosas. Senão, vejamos: alguém poderá explicar-me como é que treinadores como Artur Semedo e Chiquinho Conde, com o curso da UEFA, que lhes habilita a treinar qualquer equipa do mundo; Arnaldo Salgado, Mussa Osman, Nacir Armando, João Chissano, Akil Marcelino, Lucas Bararijo (Lucas II), Euroflim da Graça, estes com o curso da CAF, que lhes permite treinar qualquer equipa da primeira divisão em África, (das Ilhas Galite no Norte, (Tunísia) ao Cabo das Agulhas a Sul (África de Sul) e da Ilha Rodrigues no Leste (Maurícias) a Ilha de Santo Antão no Oeste (Cabo Verde), porém, todo este leque invejável de profissionais da bola, moçambicanos de rija tempera como sói dizer-se, são preteridos em favor de ilustres desqualificados, só por serem indígenas! LúcioAntunes,um jovem indígena cabo-verdiano,inspirando-se em Mourinho,com quem se aconselhou durante algum tempo,pediudispensa do seu trabalho como controlador do tráfego aéreo para se dedicar ao treinamento dos “Tubarões Azuis”. O resultado é a histórica presença de Cabo Verde no CAN´2013 após domar e afastar ostemíveis “Leões Indomáveis”. O meu grande receio neste momento é que com esta bajulação aos portugueses, qualquer dia os maridos moçambicanos ao regressarem do serviço ou dalguma ausência das suas casas, encontrem nos seus quartos ao lado das suas mulheres homens portugueses a substitui-los! Que o diabo seja surdo.

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