Opinião

Daqui não queremos sair

Tem 68 anos. Maimuna Madivela Mussulmade possui celular, mas, muitas vezes, não atende porque os dedos doridos nem sempre lhe permitem teclar naturalmente. Quando o neto está por perto, torna-se mais fácil porque é ele que se ocupa disso e lhe passa para se comunicar com os seus parentes e amigos, do outro lado da linha. Quando as pessoas do bairro querem falar com a vovó Maimuna, batem-lhe a porta de casa no interior do bairro Munhava Matope, na cidade da Beira, uma zona baixa e alagadiça. Se chove um pouco mais do que o normal, a água quase lhe entra pela sala, onde tem um armário com objectos decorativos, fotografias de familiares e dos cinco filhos que criou naquela mesma casa. Maimuna Mussulmade chegou ao bairro há 50 anos, vinda de Bajone, distrito de Pebane, na província da Zambézia, juntamente com o marido que trabalhava como motorista na empresa do senhor Campos Pires. Segundo ela, um senhor de bom coração, “pois, para além de pagar um bom salário ao meu marido, ajudava na escola dos meninos” – disse quando me explicava que “daqui não quero sair”, porque guarda muitas recordações e tem ali as suas árvores de fruta e alguns coqueiros. Diz que também ali tem bons vizinhos. No bairro é conhecida como “maquelimanense”.

O “Idai” destruiu o bairro e a sua casa. As autoridades decidiram que todos devem ser transferidos para um lugar mais seguro, num lugar mais alto, onde, quando a chuva cair, não haja riscos de alagamento. A água não chegará aos joelhos. Não dormirão por cima das mesas. Todas as casas das zonas peri-urbanas, principalmente as de construção precária, transformaram-se em escombros, por conta do “Idai”, uma depressão tropical, considerada a pior do hemisfério Sul nos últimos cem anos. As entidades governamentais e municipais fazem apelos para que os moradores aceitem mudar-se para lugares mais seguros, para reconstruírem as suas vidas. Contudo, para os moradores, seria mais fácil reconstruir as suas casas no mesmo local, onde viveram muitos anos, em harmonia familiar. Leia mais…

Por António Barros

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