Realizaram-se no dia 20 de Novembro de 2013 as quartas eleições autárquicas em Moçambique, que no cômputo geral foram ganhas pela Frelimo e pelos seus candidatos, que arrecadaram um total de 49 (quarenta e nove) municípios.
Porém, estas eleições foram marcadas pela ausência da Renamo, que do nada decidiu não participar, ficando à margem desta grande festa da democracia, deixando-se afogar em si mesma, e saindo da arena política nacional com o próprio pé.
Ao não participar nas eleições autárquicas, a Renamo não só suicida-se politicamente, mas deixa em branco o principal objectivo de um partido político, que é o alcance do poder através do voto popular, preferindo acantonar-se em exigências e tentando travar o vento democrático com as mãos.
Uma coisa interessante que notei durante a campanha e o processo de votação foi que ninguém se lembrou da existência da Renamo, a não ser quando os homens armados deste movimento atacavam pessoas em Muxúnguè; isto é, a ausência da Renamo não foi notada durante o processo da campanha eleitoral e durante a votação, o que para mim significa que a Renamo não faz tanta falta para que a democracia funcione, embora seja um dos actores principais do processo.
Assim, com a ausência da Renamo, o MDM surge sedenta, e bafejada pela sorte de a Renamo como instituição ter desistido da política activa, e de os membros respectivos precisarem de participar no jogo democrático, por isso que aquele (MDM) “roubou” as estruturas deste, e sonha em se cimentar como o segundo maior partido em Moçambique.
Aliás, não admira que a liderança do MDM tenha cimentado o seu apoio à Renamo nas suas exigências impossíveis, numa clara estratégia de afastar este movimento armado da cena política, de modo a que o MDM apresentasse-se como alternativa da oposição, e assim aproveitar este gap e “roubar” a base eleitoral da Renamo.
O que a Renamo não entende, é que será muito tarde quando pensar em recuperar o seu eleitorado, porque primeiro ela tem que se organizar, mormente nas suas várias vertentes, de modo a haver um só comando, e não haver este modelo multicéfalo que caracteriza este movimento por agora.
Segundo, deve entrar no terreno e fazer nova “evangelização”, uma missão difícil se tomarmos em conta que há gente ressentida com este movimento guerrilheiro, por ter assassinado pessoas próximas, e será corrida das bases de uma forma vergonhosa; e terceiro, depois de ser corrida das bases em razão dos assassínios que vai abraçando por agora, terá que aguardar um intervalo de tempo para o povo esquecer este momento que ela está tentando implantar em Moçambique.
Mas durante tudo isso, o que vai acontecer é que muitos renamistas da cidade, que estão na Assembleia da República e ou noutro órgãos de soberania e ou políticos, optarão por se aliarem a outros partidos de modo a salvarem as suas carreiras políticas. Ficar num defeso de cinco anos sem um microfone da TV ou da rádio não será fácil.
Outra hipótese a se considerar é a possibilidade de vir a sobressair uma outra Renamo política, que se dissocia das armas; mas esta hipótese não tem muitas chances de vingar, uma vez que há um controlo rígido por parte da Renamo militar, o exemplo é do aparecimento do senhor Bissopo vindo directamente da “Parte Incerta”, para demonstrar onde está o verdadeiro poder naquele movimento armado.
Para a Renamo reconstituir-se como o segundo maior partido em Moçambique, terá que ser ela mesma, a Renamo, um partido político nacional, e não aparecer aos pedaços de diferentes cores e posicionamentos como tem feito: ora matando pessoas, ora negociando no Centro de Conferências Joaquim Chissano.
A Renamo deve entender que os objectivos que desenhou, de subverter a ordem constitucional (não realização das eleições, forçar uma guerra, desestabilizar o país, e forçar para a existência de um Governo de Unidade Nacional), já não vai acontecer, porque a dinâmica política está a correr dentro da normalidade, apesar do seu esforço em sabotar isso.
Os ataques e o assassinato de pessoas em Muxúnguè, já não se configura como uma forma de pressão, mas transforma-se em banditismo da pior espécie, porque as pessoas que assassina têm seus familiares que não vão entender as razões que evoca para agir daquela forma! Por isso que a Renamo precisa de pôr a mão na consciência e pensar numa nova estratégia para as suas pretensões que não passam pelo desrespeito à Constituição, mas sim pela sua inclusão e participação na vida política.
Ao não participar nas eleições autárquicas, a Renamo assina com convicção a sua certidão de morte política, e aceita andar à margem dos processos políticos nacionais, enquanto isso forças políticas mais novas e com pouco tempo de existência vão ganhando este espaço vazio que a Renamo deliberadamente vai deixando, patrocinando inconscientemente, não só a sua morte política, mas também a ascensão sem esforço de outros partidos.
Não se precisa ser um expert em política para se ver que a sua não participação está a matá-la lenta e definitivamente, e só ficará por algum tempo nas conferências de imprensa e nos debates televisivos, porque esses também um dia vão descobrir que não precisam de uma organização sem relevância actualizada no desenvolvimento político do país, e vão descartá-la, e… bye-bye Renamo.
Américo Matavele