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A vitória da inocência

Por Idnórcio Muchanga

Você precisa mudar junto com o gosto do público– Nat King Cole

Quando Esparta e Tróia entraram em guerra (1193–1183 a.C)por causa de Helena, a mulher que trocou os olhos ao jovem Páris, a mãe de Aquiles disse-lhe mais ou menos o seguinte: “Se ficares em Esparta, terás mulher e filhos; terás netos mas com o passar do tempo, o teu nome será esquecido. Se fores a Tróia, travarás grandes batalhas mas não voltarás para casa; entretanto, o teu nome ecoará pelos próximos mil anos”. Aquiles, como se sabe, escolheu ir para Tróia…

Séculos depois, em 1995 realizou-se, na cidade de Harare, Zimbabwe, o primeiro Festival Cultural da SADC. A música foi o pretexto escolhido para juntar centenas de artistas dos países da região austral de África. Os Ghorwane, Omar Issá (ex-Eyuphuro), Wazimbo, Carlos e Zaida Lhongo tiveram a responsabilidade de representar Moçambique. Produção e organização impecáveis, e a presença massiva do público ajudaram a transformar o Festival num momento único de festa e convívio entre os povos da região e não só.

Dos artistas moçambicanos – nomes firmados sem dúvidas – avultou uma figura insuspeita: Zaida Lhongo. Na altura era mais bailarina do que cantora. Mas na apresentação do Conjunto Carlos e Zaida Lhongo, ela interpretou um tema, agigantou-se. Incendiou literalmente o palco com a força da sua dança. Uma energia contagiante. O público rendeu-se. Era impossível ficar apático diante daquela força da natureza. Até Mutukudzi fez um comentário sobre a moçambicana; elogiou a energia e a ousadia dela.

Um marco interessante na carreira de Zaida Lhongo foi o primeiro prémio que ganhou no Ngoma Moçambique. Com plateia cheia – incluindo alguns governantes – a cantora deu uma nova definição à palavra ousadia. Assim do nada, com um sorriso infantil no rosto, ao ritmo da canção “Kiriribone”, mostrou as cuecas. Fê-lo duas vezes. A plateia ruiu. Naquele instante ela pareceu dizer “Eu sou Zaida Lhongo e vocês vão me conhecer”. Inaugurou uma nova etapa no nosso “show business”. No jeito dos nossos artistas – especialmente as cantoras – de se exibirem e se comportarem em palco. Passou por cima de todos preconceitos que enformam a nossa sociedade. Exemplos de “seguidoras não assumidas” existem aos magotes. 

Texto de Belmiro Adamugy
belmiro.admugy@snoticias.co.mz

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