Artes & Letras

É preciso lutar para alcançar sucesso

A força de vontade, paciência e objectividade foram os principais requisitos que fizeram com que o músico moçambicano, António Joaquim Mabote, ou, simplesmente, Antoninho Sotchwa, como 

é popularmente conhecido, conseguisse alcançar o sonho de um dia cantar e encantar multidões. domingo conversou com o artista que, segundo conta, apesar das inúmeras dificuldades que enfrentou, nunca deixou de lutar para realizar o seu maior sonho: ser cantor de renome.

 

Antoninho Sotchwa, 46 anos de idade, começou a sua carreira artística na década 80, quando tinha 19 anos. A paixão pela música, segundo conta, “invadiu-o” em 1986, altura em que começou a frequentar algumas casas nocturnas, onde ouvia grandes músicos da época.

Descobri a minha paixão pela música numa altura em que era admirador de grandes artistas como Lucky Dube, Soul Brothers, entre outros. Desde então, não parei de lutar para chegar onde estou. Inicialmente tive oportunidade de estar na banda Cossa, um grupo que era constituído por membros da mesma família, os quais, ao perceberem o meu interesse em aprender, deram-me oportunidade de integrar a banda durante um ano, tendo depois investido numa carreira a solo.

O artista, que reside no Bairro Trevo, na Matola, Província de Maputo, revela que teve imensas dificuldades para se afirmar como cantor. Segundo conta, foram muitas as dificuldades encontradas ao longo do seu percurso, pois tinha até amigos que também sonhavam em ser grandes cantores e acabaram por desistir.

Sotchwa revelou que a sua maior motivação “vinha do facto de ter conversado com outros artistas, que me disseram que a estrada era longa e difícil de percorrer. Nesse percurso descobri que até Lucky Dube tinha passado também por dificuldades para chegar ao nível em que chegou.”

 

Sotchwa, um nome que carrega uma mensagem 

Em 2002, quando já tinha algumas letras de músicas feitas, Sotchwa teve a iniciativa de procurar alguns artistas que tinham singrado no mundo da música antes dele. Mário Ntimane, também cantor moçambicano, foi a pessoa a quem Antoninho recorreu para poder gravar as músicas do seu primeiro álbum, com oito temas, intitulado “Tatana Sitoe”.

“Mário Ntimane ajudou a gravar o meu primeiro álbum. Ele partilhou comigo a sua experiência musical”, recorda Sotchwa.

As músicas de Antoninho versam sobre problemas candentes da nossa sociedade. Após a gravação do seu primeiro álbum enfrentou dificuldades para a divulgação do mesmo, tendo sido obrigado a ficar cinco anos sem divulgar o seu trabalho. “Só em 2007 editei o meu primeiro álbum, porque finalmente já tinha conseguido patrocínio de algumas individualidades residentes no meu bairro (Trevo)”.

Foi na sequência de todas as “cambalhotas” que deu até conseguir lançar o seu trabalho discográfico que resolveu adoptar o nome de Antoninho Sotchwa. “Todos sabem que os soldados são pessoas batalhadoras, que, mesmo sabendo do perigo, não deixam de ir à guerra, por isso resolvi me identificar com esse nome.”

Antoninho Sotchwa, que conta actualmente com dois álbuns intitulados “Tatana Sitoe” e “Anina Male”, diz que a sua agenda de shows tem sido boa, dado que tem actuado semanalmente em discotecas, festas e, por vezes, é convidado a actuar em concertos nas províncias e até mesmo na vizinha África do Sul a convite do artista General Muzka. “Tenho tido oportunidade de escalar províncias como Gaza e Inhambane, onde o meu cachet é razoável. Na terra do rand chegam a pagar-me cerca de 6 a 7 mil randes por um show, gabou-se Sotchwa.

 

O Governo deve combater a pirataria

Sotchwa partilhou com o domingo a sua indignação com o facto de Moçambique não ter ainda uma editora digna desse nome. “É inaceitável que ainda não tenhamos uma editora num país desta dimensão. Isso não se difere de um jogador sem campo”, referiu.

Outro problema apontado pelo músico é o da pirataria. “Algumas pessoas continuam a ganhar dinheiro às nossas custas. Mas as autoridades não estão a tomar medidas severas para desencorajar esse tipo de actos. Como é que se explica que as autoridades competentes vejam aquele triste cenário sem no entanto tomarem as devidas medidas?”, questiona Antoninho.

 

Refira-se que por falta de editora no país, o artista tem se encarregado de vender seus próprios discos a 300 meticais, escalando assim diferentes lugares. Já nas províncias e na África do Sul ele tem vendido nos dias de concerto.

 

Os músicos não são unidos

A nossa reportagem questionou ao artista como é que ele vê o ambiente artístico em Moçambique, ao que respondeu: “no país debatemo-nos com a falta de entendimento entre os artistas, facto que acaba culminando com o fraco desenvolvimento da nossa cultura, pois para que Moçambique cresça é preciso que estejamos todos de mãos dadas.

Alguns músicos são convidados para actuações em concertos com base apenas na amizade e não na qualidade da música que tocam. Outro facto é que algumas pessoas não querem ver os outros a desenvolverem e tentam sempre destruir a carreira dos outros”, referiu Antoninho.

Sotchwa fez um vigoroso apelo à união dos artistas, porque acredita que desta maneira “todos sairemos a ganhar. É preciso saber que nem sempre as pessoas estão em cima e quando elas descem outros sobem, pelo que é importante saber respeitar e valorizar os outros.”

Antoninho diz ter tido dois momentos marcantes ao longo da carreira. O primeiro, por sinal mau momento, aconteceu no dia 18 de Março de 2010, data da celebração da elevação de Manhiça à categoria de vila.

“Desloquei-me para lá para uma actuação mas na hora do show informaram-me que o meu nome não constava do cartaz de espectáculo, por isso não poderia actuar. Isso deixou-me muito triste e revoltado com os organizadores do evento, desabafou Sotchwa, acrescentando que o momento positivo deu-se “durante uma actuação na Praça da Independência, em 2009, onde vi muita gente a vibrar comigo, aquilo foi mágico e marcante, por isso não vou apagar nunca da minha memória,” afiançou.

Refira-se que o cantor é casado e pai de 9 filhos. Neste momento está a preparar o seu terceiro álbum intitulado “Belinha”, nome de uma das suas filhas, e que pretende lançar no presente ano. O disco terá 10 faixas musicais e conta com o patrocínio de Ezequias Muchanga e do músico Colonel Muchongo, ambos de Magude.

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