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Vale deve ser liderada por moçambicanos

Por admin

Está baseada em Maputo, mas viaja com frequência para a província de Tete, concretamente para Moatize, distrito onde a Vale Moçambique possui uma das suas mais importantes operações no 

sector do carvão. Recentemente, Paula Eller concedeu uma entrevista ao nosso jornal, durante a qual falou das estratégias que a empresa usa na gestão dos recursos humanos, incluindo a visão de como contribui para o desenvolvimento das comunidades das regiões onde opera, incluindo a Vila de Cateme.

Segundo Paula Eller, a grande aposta da Vale é o desenvolvimento dos trabalhadores. Em 2012, a Vale investiu cerca de 12 milhões de dólares na formação do pessoal. Para 2013, está programado o investimento de cerca de sete milhões de dólares, além dos treinamentos internos. “A redução está ligada à reprogramação na implementação do projecto de expansão da Mina de Moatize, a construção da linha férrea de Nacala, bem como do respectivo porto”, explica-se Paula Eller.

Ao todo, as actividades da Vale em Moçambique empregam cerca de sete mil trabalhadores, dos quais cerca de cinco mil são das empresas contratadas. “Do contingente da Vale, 85 por cento dos trabalhadores é moçambicano. É que, do nosso ponto de vista, para a Vale ser sustentável em Moçambique, ela, cada vez mais, deve ser operada e liderada por moçambicanos. É nisso que nós acreditamos e é a esse objectivo que dedicamos o nosso trabalho no dia-a-dia, com o fim de transformá-lo em realidade”.

A esse propósito, a Vale está a fazer um grande investimento nos seus aprendizes. Paula Eller diz que os aprendizes recebem uma parte da formação aqui em Moçambique. A Vale leva-os depois ao Brasil para fazer uma qualificação técnica com uma empresa parceira na área dos equipamentos e mais tarde estagiam no ambiente das operações da empresa.

Porquê é que a mineradora leva os seus profissionais para o Brasil? Paula Eller responde do seguinte modo: “Em Moçambique, a indústria extractiva do carvão ainda é emergente. Mandamos as pessoas para o Brasil, mas também poderíamos enviar para qualquer outro país onde a Vale tem operações em fase mais adiantada. Para ter uma ideia, a Vale está presente em mais de 30 países”.

A empresa tinha 56 aprendizes recrutados em Tete em formação no Brasil. Todos eles fizeram uma formação profissional em manutenção de equipamentos de mina. Recentemente eles regressaram ao país. Uma parte deles esteve no Estado do Pará e outra, em Minas Gerais. Paula Eller esclarece que “estes lugares foram escolhidos por serem regiões onde a Vale tem as suas maiores operações. Pará, por exemplo, é onde se localiza a maior mina de carvão a céu aberto do mundo”.

Esta acção no exterior constitui para os aprendizes uma oportunidade de treinamento numa operação que já está madura e na sua capacidade máxima, contrariamente à operação de Moatize, que ainda está a dar os primeiros passos. “No Brasil, os aprendizes têm todo o conceito operacional, toda a vivência do dia-a-dia, o domínio dos aspectos de saúde e de segurança que é, aliás, um grande valor na cultura da empresa. E o grande ganho é que estes profissionais estão de volta ao país e serão os grandes replicadores em Moçambique do que terão aprendido no Brasil. É uma formação que no total tem nove meses de duração, abarcando a teoria e on the job training”.

Neste mês de Abril, ruma para o Brasil um segundo grupo de aprendizes. Até ao momento, foram confirmados 58 candidatos para essa oportunidade. Tal como o primeiro, este grupo vai integrar o curso de manutenção dos equipamentos de mina, mas com uma abordagem diferente. A sua formação será de seis meses, entre a teoria e a prática e mais três meses de formação em Moçambique.

“Nos últimos três meses de formação, eles serão acompanhados e treinados por instrutores, alguns dos quais saídos do primeiro grupo de 56 aprendizes. E você é capaz de me perguntar se todos os 56 aprendizes serão instrutores? Eu digo que não, porque isso depende de quem se destacar ou de quem tiver perfil adequado para ser instrutor”, disse Eller.

Depois desta segunda leva, a Vale pretende descontinuar o envio de moçambicanos para o estrangeiro. “A nossa ideia no futuro”, disse Paula Eller, “é concluir todo o nosso processo de qualificação de profissionais das nossas operações em território moçambicano, porque só assim poderemos ser sustentáveis. Por isso, estamos a desenvolver a ideia de se ir criando capacidade interna para satisfazer as necessidades de formação técnica. Mas dependendo das áreas, a Vale poderá continuar a enviar mais gente para fora, especialmente nos casos de certos treinamentos que ainda não estejam disponíveis em Moçambique. No geral, queremos descontinuar. Enviar para fora, será excepção”

Para os cursos disponíveis em Moçambique, a Vale conta com a parceria de instituições de ensino nacionais. Neste contexto, foram organizadas duas especializações em 2012. O curso de especialização em segurança ocupacional, em regime intermitente, com mil e.640 horas de duração, compreendeu aulas presenciais, seminários, palestras, estudos individuais e visitas de estudo. No mesmo regime, o curso de especialização em engenharia ferroviária teve a duração de 568 horas. Paula Eller explicou que nessas especializações, “a empresa reuniu profissionais provenientes dos Caminhos de Ferro de Moçambique, do Ministério do Trabalho, do Ministério dos Transportes e Comunicações, para além dos nossos próprios trabalhadores. Este é um trabalho feito em parceria com instituições de ensino locais. Está nos nossos planos a implementação em Moçambique do curso de especialização em engenharia portuária.»

CRESCENDO COM AS PESSOAS

Em Moçambique e noutros países, a mineradora tem a prática de desenvolver os trabalhadores. Hoje em dia, é comum na mina de carvão de Moatize ver-se um camião fora de estrada que é uma máquina de alta complexidade, produzida com tecnologia de ponta e com capacidade para transportar mais de 300 toneladas de carvão de uma única vez, a ser dirigido por profissionais moçambicanos, incluindo mulheres.

“Alguns deles”explica Eller, “não tinham sequer alguma habilitação para dirigir uma viatura ligeira” E acrescenta: “numa das minhas visitas, tive a oportunidade de rodar na mina com uma mulher moçambicana, dirigindo aquele camião. E eu perguntei a ela: “qual foi o seu sentimento?” Ela disse: “de superação”. De superação, sim, porque operar um camião daqueles dá muita auto-confiança, aumenta o amor-próprio da pessoa. É, sem dúvida, um valor tangível da qualificação que queremos alcançar dentro da Vale. E isto é, para nós, um motivo de grande orgulho”.

Para Paula Eller, um trabalhador preparado faz o seu trabalho motivado, com mais eficácia e muita segurança. Ele vai fazer o seu trabalho sem risco de acidentes. Eller reforça que na empresa é importante o trabalhador conhecer a actividade que faz e estar seguro das decisões profissionais que toma.

Depois, revela:“no mês de Março, foi nomeado o nosso primeiro instrutor moçambicano. Foi antes ao Brasil para formação e já se qualificou. Antes todos os instrutores dos camiões fora de estrada eram estrangeiros”

De acordo com a nossa entrevista, dentro da empresa também tem havido muita discussão sobre a equidade de género. «Para as áreas administrativas, é mais comum encontrar profissionais do sexo feminino. A escassez está nas operações. Estamos a caminho de promover a nossa primeira supervisora aqui em Moatize, a primeira mulher líder de equipa. Será um marco importante. Está dentro do grande objectivo que é passarmos de 7 para 14 por cento a presença feminina na força de trabalho nas operações . Temos de ter mais mulheres. Definitivamente, temos de continuar a buscar o equilíbrio no género”.

A 40 quilómetros da Vila de Moatize, a comunidade de Cateme, que, em Janeiro de 2012, protagonizou manifestações violentas em protesto contra a Vale, foi incluído no raio de actuação de Paula Eller. Cateme acolhe 716 famílias transferidas da área concessionada à mineradora em Moatize, com o fim de extrair carvão. “Sempre que possível”, explica Paula Eller, “temos estado a criar oportunidades de emprego para as comunidades das regiões onde operamos. Não é possível empregar toda a gente, mas estamos comprometidos com o bem-estar das famílias que foram transferidas da área de concessão de Moatize, com acções que incluem iniciativas de auto-emprego e geração de renda. Por exemplo, já temos 205 habitantes da Vila de Cateme a trabalhar na Vale e nas empresas contratadas. Só no bairro 25 de Setembro, na Vila de Moatize, um dos locais que acolheram essas famílias, são 315 pessoas com emprego na empresa ou nas contratadas. E fizemos mais: este ano, iniciamos a formação de 24 aprendizes de Cateme no ramo de operação de equipamentos de mina. É com orgulho que enfatizamos isso. E seis dos aprendizes são os primeiros graduados da 12ª classe da Escola Secundária Armando Emílio Guebuza, que a Vale construiu na Vila de Cateme. Mas a atenção não está virada apenas para Cateme. Estamos a preparar acção semelhante para jovens do Bairro 25 de Setembro, na Vila de Moatize. Este trabalho está também a ser feito em Nacala e na Beira. Na verdade, nós estamos a falar deste crescimento com a comunidade a pensar em Moçambique como um todo”.

OS DESAFIOS DO RECRUTAMENTO

Paula Eller recorda que desde a sua implantação em Moçambique foi um enorme desafio para a Vale preencher as suas vagas com profissionais experientes e com carreira consolidada nos domínios da geologia, gestão, planificação, controlo de qualidade e engenharia (saúde e segurança, civil, mecânica e eléctrica). Embora com menos pressão, o desafio ainda se mantém nos dias de hoje e aplica-se também para o recrutamento de recém-graduados e jovens com potencial de gestão liderança nestas mesmas matérias.

“Temos realizado o nosso trabalho através de anúncios na imprensa e em parceria com agências de recrutamento. Fazemos a triagem das candidaturas, tendo em conta o perfil que buscamos em termos de escolaridade – nível médio ou superior -, tempo de experiência profissional, perfil das empresas onde o candidato actuou, o domínio de idiomas, etc”,explicou Paula Eller. “O processo é depois seguido de entrevistas por competências e técnicas assim como o recurso a testes. Privilegiamos sempre localidades em torno das operações”, concluiu.

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