Opinião

Descongestionar Maputo (1)

Estamos a ser reféns dos apetites da história. Foi ela que decidiu que, apesar de a geografia ter informado que Maputo ficava longe do resto do país e que fisicamente era um território demasiadamente limitado, devia ser a capital de um Moçambique assaz comprido e reconhecidamente grande.

A história, que até não é tanto passada quanto isso, decidiu que por ser capital do país tudo que dissesse respeito a este imenso território, devia acontecer neste diminuto espaço geográfico ou que devia ser o local de chancela de todos os actos legais e oficiais.

Ao decidir deste jeito a história, infelizmente, estava, por outras palavras, a convidar os cidadãos de todo o país a irem, de qualquer jeito, a (para) Maputo, onde como sabemos e se tem vindo a confirmar, não há meios de sustentar a avalanche que não se deve comparar com algum êxodo, visto que neste caso e durante muito tempo foi obrigatoriamente conveniente cá vir.

Para fazer a 11-classe era necessário vir a Maputo durante determinado período da história, até que, a pouco e pouco, foram sendo abertas as escolas pré-universitárias na Beira, em Nampula e Quelimane. Para fazer a Universidade era só em Maputo. Era só aqui onde, em 1980, ano da abertura da Escola de Jornalismo, se devia fazer o curso respectivo, bem como a formação mediana de professores.

A história insistiu, durante muito tempo que a instrução militar que devesse ter certa “ legitimidade” devia ser só em Maputo; bem dito, em Munguíne, distrito de Manhiça. Ficou assente que qualquer formação de Policias, devia acontecer em Maputo: primeiro em Matalane e mais tarde em Michafutene. Aliás, tentou-se em Natikiri e morreu!

Ficou normal que quem não fosse a Maputo ficava diminuído à sua insignificância resultante do facto de não ter sido bem formado, ou no mínimo, não ter conhecido a capital do país.

A geografia, por assim dizer, perdeu campo ante uma história intolerante, chefiada por homens que não sentiram o arrepio, durante muito tempo, de que só se podia ir para o estrangeiro a partir de Maputo, sabendo embora que, por exemplo, a Europa fica mais perto de Pemba, Lichinga, Nampula, Tete e outras regiões acima de Maputo.

Por esse andar, uma viagem oficial, para Dar-es-Salaam, por exemplo, a partir de Pemba, Nampula ou Lichinga, devia passar por Maputo, aumentando, diga-se, de propósito, três vezes mais a distância, simplesmente porque devia exibir o carimbo da capital do país.

Os talentos desportivos tinham a obrigação de migrar para Maputo para serem elegíveis e assim representarem as selecções nacionais, tal como acontecia em todas as frentes socioculturais, políticas e económicas, sem o que não era possível singrar.

Alguns tipos de registo (por sinal os principais) só se faziam em Maputo, sendo que até hoje o criminal mante-se, obstando com o facto de que os tribunais que decidem sobre a culpabilidade de determinado cidadão estão espalhados pelo país.

Algumas prisões de cidadãos só tinham interesse legal quando fossem feitas em Maputo. Em 1994/5 os detidos do caso Haxixe de Nacala foram recolhidos para Maputo, onde deviam ter sido julgados. O próprio Haxixe viajou para Maputo, pretensamente para ser queimado nos fornos da CIFEL, porque só aqui havia fornos com tal capacidade.

O Haxixe de Quissanga, em 1998, em Cabo Delgado, viajou de Pemba, via marítima, para Maputo, embora não tenha havido nenhuma notícia a confirmar a sua chegada e os guarnecedores terem sido “esquecidos” em Pemba. Era para ser incinerado, embora ninguém se lembre desse episódio.

Todavia, Maputo, sendo um espaço físico-geográfico, não aumentava, embora os ditames que os homens achavam convenientes mantivessem a sua teimosia de que devia ser assim, para alimentarem um egoísmo que a mesma história dará, um dia, o próprio nome.-

Pedro Nacuo

nacuo49nacuo@gmail.com

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