Cerca de 54 novas variedades de feijão nhemba foram testadas nos últimos tempos em campos agrícolas de camponeses associados, singulares, assim como do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM). Os resultados obtidos nos ensaios animam os agricultores. Assim, três variedades serão aprovadas, ainda este ano, para estarem disponíveis no mercado nacional.
Trata-se de variedades
que foram seleccionadas
por pesquisadores, cujas
características ajudam
os produtores a progredirem
na sua actividade. Das
54, cerca de 30 são nacionais,
algumas melhoradas pelos pesquisadores.
Outras tantas foram
adquiridas além-fronteira.
O projecto está a ser desenvolvido
no país desde o ano de
2010 pela Universidade Eduardo
Mondlane (UEM), que pretende
trazer novas opções aos agricultores
de forma a melhorarem o
seu nível de produção agrícola.
Acredita-se que com a estratégia,
cujo objectivo é desenvolver
variedades de alto rendimento
com tolerância a diversos problemas, dos quais a seca, o
camponês estará em condições
de produzir o suficiente para o
seu consumo, assim como para
a comercialização, uma vez que
as novas variedades têm grandes
capacidades para resistir a
várias anomalias.
Outra vantagem encontrada
é o facto de precisarem de
pouco tempo para a colheita e
serem de alto rendimento. Por
exemplo, no passado, o camponês
colhia, com a semente antiga,
cerca de 300 quilogramas
por hectare, mas com as novas
variedades colhe cerca de 1500
quilogramas, no mesmo espaço,
enquanto os pesquisadores conseguem
produzir, nos seus campos
de ensaio, mais de duas mil
toneladas.
Destaque-se que o feijão
nhemba é uma das culturas que
garante a segurança alimentar
das famílias. Todavia, os rendimentos
obtidos nas machambas
são muito baixos.
SOLICITAÇÕES
Os resultados que foram
apresentados, recentemente, em
Nhacoongo, distrito de Inharrime,
província de Inhambane,
pelo investigador Rogério Chiulele,
sobre as potencialidades das
novas variedades, suscitaram
no seio dos agricultores, assim
como das autoridades governamentais
locais, vontade de ver o
projecto a ser executado noutros
distritos, uma vez que têm enfrentado
dificuldades para conseguir
boa quantidade daquela
cultura, tudo por causa da praga.
A vontade de ver expandida a
produção daquelas variedades é
pelo facto de as mesmas serem
resistentes à seca, para além de
terem características apropriadas
para diferentes usos, como
é o caso da sua folha e ou grão.
Carlos Guila, agricultor da
Associação Samora Machel, em
Morrumbene, disse que ficou
impressionado com o que viu
nos campos de ensaio dos seus
colegas, mas lamentou o facto de
não ter sido contemplado.
“Em Morrumbene, nós temos
boas terras para a prática
de agricultura, é por isso
que este ano não choramos
por causa das consequências
da seca. Acredito que mesmo
com a falta de chuva se consegue
produzir essas quantidades,
então, nos campos será
muito mais”, disse Guila.
Guila falou também das dificuldades
que a classe está a
enfrentar naquele ponto da província
de Inhambane, tais como
a falta de equipamento para a
limpeza. Conta que em 100 m²
paga 1500 meticais aos donos
de algumas cabeças de vaca pelo serviço de limpeza.
“É muito dinheiro. Imagine:
eu tenho quatro hectares
e a limpeza não é feita de uma
só vez. Assim, estou a lutar
para comprar algumas cabeças
porque actualmente acumulo
prejuízos”, disse.
Por sua vez, Custódio Petula,
agricultor no distrito de Zavala,
outro ponto que ainda não
foi contemplado, lamentou o
facto de alguns projectos sobre
o melhoramento das culturas
agrícolas não abrangerem o seu
distrito.
“Precisamos de muitas
técnicas para melhorarmos a
nossa produção. Este ano, só
fiz um hectare de feijão jugo e
ainda não colhí. Lancei a semente
à terra de modo atrasado
por causa da seca. Portanto,
a produção foi fraca.
Apenas consegui garantir o
sustento. Isso está a criar-me
problemas sérios. Tenho três
filhos que estão a estudar na
universidade. Todas as despesas,
desde propinas, pago a
partir da venda dos produtos
que vêm da machamba. Agora
não sei como é que vou suportar
as despesas deste e do
próximo ano”, disse Petula.
Por seu turno, Fernando
Cumbana, produtor de Nhacoongo,
um dos beneficiários dos
ensaios das novas variedades,
conta que a produção superou
as anteriores. “Tivemos boa
produção, mesmo com a praga
que invadiu as nossas machambas.
Essa praga atacou
as variedades nacionais. Contactamos
os investigadores.
Deram-nos instruções apropriadas
e assim conseguimos
controlar a situação. A experiência
está a valer a pena, pois
anteriormente a produção não
correspondia com os nossos
gastos para aquisição da semente,
disse.
Expansão vai ocorrer
O investigador da Universidade Eduardo Mondlane e promotor
desta iniciativa, Rogério Chiulele, garantiu que a experiência
será estendida, a partir do próximo ano, 2017, para outros distritos
do país.
Na ocasião adiantou que na província de Inhambane serão
contemplados dois distritos, sendo um deles Zavala. O outro
está por identificar.
Numa primeira fase, os trabalhos decorreram em sete
distritos, de cinco províncias do país, nomeadamente, Gaza,
Inhambane, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado. Entretanto,
há planos para, nos próximos tempos, ser estendido para mais
lugares, para responder à solicitação de vários agricultores que
ainda não foram abrangidos e demonstram interesse em trabalhar
com as novas variedades.
“Ainda não temos condições para cobrir todo o país
por causa de problemas logísticos, mas garanto que no
próximo ano vamos abranger mais alguns na província de
Nampula e dois de Inhambane”, disse.
Num outro desenvolvimento, Chiulele disse que brevemente
a sua direcção vai apresentar um relatório com o comportamento
de três variedades para serem aprovadas de modo a serem
comercializadas, tanto no mercado nacional, assim como
internacional.
Aliás, durante a nossa presença em Nhacoongo ficamos a
saber que existem produtores nacionais que já começaram a
fazer a comercialização no mercado internacional de uma parte
daquelas variedades. Nesta fase, os agricultores estão a fazer a
comercialização de forma tímida, pois as áreas de cultivo ainda
são menores.
Abibo Selemane
abibo.selemane@snoticias.co.mz