Economia

BM apela ao consumo do essencial

O Governador do Banco de Moçambique (BM), Ernesto Gove fez um vigoroso para a necessidade de os moçambicanos começarem a consumir bens e produtos essenciais e a aproveitarem ao máximo os recursos existentes no país, sobretudo na agricultura e pequena indústria, para melhor fazer face à inflação galopante e à crise financeira em curso.

 

Segundo Gove, perante o presente momentos de crise económica que o país está a atravessar e face às medidas de austeridades recentemente anunciadas pelo governo, os moçambicanos devem começar a seleccionar aquilo que é essencial para o seu dia-a-dia, sobretudo, ao nível doméstico.

Para além de optar por produtos fundamentais deverão começar a fazer melhor usufruto dos recursos de que o país dispõe no sector agrário e na pequena industria porque, conforme disse, há um potencial muito grande, mas para a sua materialização será preciso passar da palavra para acção.

Precisamos enaltecer os recursos potenciais de que Moçambique dispõe para passarmos para acção. Assim, poderemos transformar esses recursos em algo que possa vir para o mercado para alimentar os cidadãos”, disse.

Ernesto Gove sublinhou que o país sairá da crise por via das medidas de adaptação do sector monetário que o Banco de Moçambique tem estado a tomar, combinadas com as do sector fiscal, adoptadas pelo governo. “Esta conjugação poderá ajudar a trazer a estabilidade macroeconómica para o país, no entanto devem ser acompanhadas pela atitude de todos os moçambicanos e dos sectores da economia através do aumento da produção e da produtividade com vista a equilibrar a procura e a oferta”.

É que, o país continua a registar um nível de exportações que não está na proporção do crescimento das importações. “Notamos com alguma satisfação que as importações tem tido uma tendência decrescente nos últimos tempos, mas ainda assim não é de tal forma que possam ser cobertas pelas exportações”.

O equilíbrio desejado, segundo Ernesto Gove, pode ser alcançado mediante um aumento da produção interna capaz de substituir as importações e incrementar as exportações visando aumentar, em última instância, as Reservas Internacionais Líquidas (RIL).

MEDIDAS DURAS

O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique decidiu aumentar em 300 pontos base a taxa de Facilidade Permanente de Cedência (FPC) que passou para 17.25 por cento contra 14.25 por cento no passado mês de Junho e a taxa de Facilidade Permanente de Depósito (FPD) em 300 pontos base para 10.5 por cento contra 7.25 por cento em Junho.

Enquanto isso, o Coeficiente de Reservas Obrigatórias para os passivos em meticais foi incrementado em 250 pontos base, passando para 13 por cento, com efeitos a partir do dia 22 de Agosto.

Estas decisões foram tomadas depois de se constatar que a inflação tem vindo a crescer, sendo que actualmente a inflação anual de Maputo está situada em 17.75 por cento e de Moçambique é de 19.7 por cento.

domingoapurou que a inflação é sempre uma variável negativa tanto para os aforadores como para os investidores. O nível da inflação actual supera as taxas de juro, sobretudo as de depósito retirando, desse modo, o incentivo aos aforadores de manter os seus activos em depósito a prazo.

É preciso que se restabeleça essa situação porque o investimento depende muito da poupança e com o nível de inflação pode surgir tendência de as pessoas usarem outros activos para as suas aplicações ao invés de usarem o sistema bancário. Isto é negativo para a economia, pois pode restringir o investimento”.

O governador do BM, referiu ainda que o ajustamento as taxas de referência visa introduzir alguma selectividade na componente de crédito. É um processo que vai trazer para o sector bancário e para os investidores a reflexão sobre que crédito a contrair e para onde investir.

Estas medidas estão alinhadas no conjunto das medidas que o país está a levar a cabo com vista a restabelecer a estabilidade macroeconómica e estão alinhadas com a revisão do orçamento, trazendo um orçamento rectificativo que é de restrição fiscal.

É preciso que haja um pacote coerente para que não existam fugas de ponto de vista de ligação das variáveis macroeconómicas. É por isso que os ajustamentos anunciados estão perfeitamente em sincronia com as medidas de política fiscal que também estão em curso”.

Ernesto Gove disse ainda que os ajustes que estão em curso na taxa indicativa do Banco de Moçambique não cobrem o actual nível de inflação, dai a necessidade de se não criar incentivos apropriados para que os aforadores continuem a deixar as suas poupanças no sector bancário, em detrimento da conversão dos seus recursos para bens que não sofram o impacto da inflação.

No curto prazo, devem ser vistas como medidas muito fortes, de algum sacrifício, mas necessárias e inadiáveis. No médio e longo prazo vão surtir, no nosso entender, os efeitos desejados e devolver para o país a estabilidade macroeconómica e, ao mesmo tempo, que garantir a estabilidade do sector financeiro”, sublinhou.

ORIGEM DA CRISE

O governador do Banco de Moçambique recordou ainda que o ano 2016 iniciou com um choque externo que foi causado pela seca nas regiões Sul e Centro e de inundações na zona norte. Este é um factor que impacta directamente na economia real, uma vez que impede a produção.

A tensão política militar que ao impedir o movimento normal de pessoas e bens faz com que a oferta de bens no mercado não seja na quantidade desejável, pelo menos ao nível da produção interna.

Para além disso, o país vinha convivendo com a baixa dos preços das commodities, nomeadamente alumínio, gás e carvão, no mercado internacional desde a segunda metade de 2015, o que tem reflectido no abrandamento do crescimento.

Por outro lado, a China e a União Europeia, que são os que demandam as matérias-primas que Moçambique produz e exporta continuam a ressentir-se da crise financeira internacional.

A adicionar a isto, os parceiros internacionais suspenderam o seu apoio a Moçambique, na ordem de 500 milhões de dólares americanos que deixaram de fluir normalmente para o país.

 “O somatório de todos estes factores fazer com que o custo de dinheiro seja mais caro porque não conseguimos importar aquilo que desejamos quer em bens de consumo quer em bens intermédios para manter a produção nacional, logo estamos a importar com componentes de inflação o que faz com que a inflação doméstica também seja influenciada”.

Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticicas.co.mz

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