Sociedade

Dou banho e conforto aos mortos

A sua actividade passa por fazer a higiene e acomodar os corpos. A força, coragem e o profissionalismo de Isabel Munembe, de 44 anos, desfaz todos os estereótipos à volta do sexo feminino. Longe de ser o sexo frágil, é um exemplo de valentia da mulher na sociedade.

domingo entrevistou-a por ocasião do 7 de Abril e convida o leitor a conhecer a sua estória.

Funcionária da saúde há cerca de 14 anos, Isabel Munembe, natural do Niassa, trabalha na morgue do Hospital Geral José Macamo (HGJM) há três meses. No seu dia-a-dia no trabalho, intermedia a confirmação dos corpos: “abro a câmara, chamo a família para que faça o reconhecimento” e, acto subsequente, quando chega a altura do cumprimento do programa do enterro por parte das famílias, “tiro o corpo, coloco na maca, retiro o lençol e faço a higiene e o conforto. Terminada esta fase, visto-o e, somente nesta circunstância, peço ajuda para a colocação no caixão”, explica-nos.

Apesar de trabalhar num clima deprimente, Isabel Munembe afirma que estar ligada à saúde foi sempre seu sonho. Antes de ser integrada para lidar com finados, desempenhava a função de auxiliar de enfermagem na maternidade do HGJM. “Não me imagino noutra área que não seja esta”, confessa.

Trata-se de uma paixão sem condicionalismos: “Sinto-me feliz em qualquer sector, inclusive tratando de cadáveres. É isto que escolhi para mim”.

Diluindo medos e confusões, esta mulher solta o verbo ao afirmar que “a morgue não é coisa do outro mundo”. E mais: “pretendo, neste momento, fazer entender a todas as pessoas que o traço que marca as mulheres como seres fracos, não faz mais sentido. Hoje em dia temos mulheres em vários sectores. Veja-se o trabalho que faço e entenda-se que não peço ajuda de nenhum homem para executa-lo”, assegura.

INÍCIO ARREPIANTE

Os longos anos de Saúde não foram suficientes para poupar Isabel de alguns calafriosnos primeiros dias de trabalho na morgue. “Foi um pouco difícil, senti um pouco de arrepio, mas depois pensei ‘Saúde é isto mesmo! E é o que escolhi para a minha vida’. Passado pouco tempo habituei-me”.

De qualquer forma, questionámo-la sobre as suas noites de descanso. Haveria alguma visita indesejada ou seria um sono acobertado pelos anjos. Júlia respondeu disparada: “Nem uma, nem outra coisa! Durmo tranquilamente. Nunca tive pesadelo decorrente do meu trabalho”.

É muita paz de espírito e força no braço para transportar corpos de um local para o outro, de tal sorte que afasta qualquer mimo vindo de algum colega do sexo masculino. “Não aceito ajuda, não pingo uma lágrima sequer, pelo contrário, procuro ser firme principalmente para dar força aos infortunados”, garante-nos.

Mas, com tanto peso nas costas a casa de Deus adquiriu uma função importante na vida de Isabel: “A igreja para mim é o escape. É onde descarrego todos os ares pesados, através da reza. Poderia ser, também, através de actividades físicas, mas não o faço por preguiça”, confessa esta valente mulher moçambicana aos risos.  

Fotos de Jerónimo Muianga

Carol Banze
carol.banze@snotícias.co.mz

One Comment

  1. An outstanding share! I’ve just forwarded this onto a colleague who had been doing a little research on this. And he in fact bought me dinner simply because I discovered it for him… lol. So allow me to reword this…. Thanks for the meal!! But yeah, thanks for spending time to talk about this matter here on your site.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo