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População denuncia discriminação

Por admin

Algumas pessoas afectadas pelas enxurradas que deixaram milhares de pessoas sem-abrigo, no distrito de Cuamba, província do Niassa, denunciaram há dias, num encontro com o governador Arlindo Chilundo, que estão a receber um tratamento diferenciado e discriminatório em relação aos seus compatriotas da região centro e sul do país que, segundo afirmaram, recebem apoios em alimentos, vestuários e material de construção.

A inquietação foi manifestada num comício popular realizado no bairro municipal de Sapura, arredores da cidade económica de Cuamba, integrado no périplo que Chilundo está a realizar pela província com o objectivo de, segundo disse, conhecer a realidade da província e, por outro lado, avaliar o estágio das realizações em curso com vista a dar uma resposta adequada.

Na ocasião, aquelas pessoas acusaram, igualmente, os empreiteiros locais de não estarem preparados para responderem ao sofrimento das populações afectadas, nomeadamente, na reconstrução das infra-estruturas destruídas pela fúria das águas, com destaque para a reposição da ponte sobre o rio Muandá, que dá acesso ao centro da segunda maior cidade da província de Niassa.

Porém, os ânimos dos populares viriam a ser amainados quando o governador de Niassa anunciou a chegada a Cuamba, para breve, de um contentor vindo da vizinha província de Nampula, contendo 10 toneladas de colchões e a construção de 50 casas para pessoas vivendo na condição de vulnerabilidade, resultado da contribuição de pessoas de boa vontade daquela província nortenha, também chamada capital do Norte.

Em quase todas as intervenções dos populares, feitas nos três distritos visitados, elas deixaram claro que as enxurradas que fustigaram algumas zonas da província, com mais incidência para a zona sul do Niassa, vão criar algumas bolsas de fome durante a presente época agrícola, apelando para o efeito a disponibilização pelo governo de sementes e outros utensílios agrícolas para atenuar os prováveis efeitos da fome.

Basicamente, as preocupações, consideradas como efeito directo do desenvolvimento, centraram-se sobre a necessidade de criar mais condições para o melhoramento das condições de vida das comunidades, nomeadamente a construção e reabilitação de mais e melhores estradas e pontes, abertura de mais furos de água para a provisão deste líquido às populações, a construção de mais salas de aulas, bem como a elevação dos níveis de escolarização (ensino secundário do segundo ciclo), a construção de mais unidades sanitárias, algumas das quais equipas com blocos operatórios, a expansão da rede nacional da energia eléctrica de Cahora Bassa e telefonia móvel a mais locais de escalão inferior, tais como postos administrativos, localidades e povoações.

Enquanto isso, através das mensagens das populações lidas durante os comícios populares, foi dado a conhecer o reconhecimento aos esforços do governo visando a criação do bem-estar das populações, principalmente na área de infra-estruturas. Sobre o assunto, Cassiano Bassane, de Cuamba, lamentou o atraso na demarcação de talhões para os reassentados, apelando para uma intervenção urgente das autoridades provinciais no sentido de persuadir para a flexibilidade do processo.

“Estamos fora das nossas casas e não sabemos o que será de nós daqui para frente. Pedimos aos governos distrital e provincial que intercedam junto de quem tem a missão de organizar e distribuir talhões para o fazer com maior brevidade”, pediu Bassane ao mesmo tempo que clamava por infra-estruturas sociais nas áreas de reassentamento (Ntchato e João), nomeadamente salas de aulas, centros de saúde, entre outros serviços.

Já em Mecanhelas, um outro distrito de Niassa fortemente afectado pelas chuvas, a população deplorou o estado em que se encontra a rodovia que liga a sede distrital, Insaca, aos povoados de Iataria e Mepanhira, locais considerados potenciais produtores de milho, feijão, algodão, tabaco, entre outras culturas agrícolas.

Américo Saíde, por exemplo, encorajou as autoridades governamentais a tudo fazerem para que, num futuro muito breve, as vias de acesso destruídas estejam reabilitadas para permitir a circulação de pessoas e bens.“Em alguns momentos sentimo-nos desamparados, chegando ao ponto de os nossos opositores começarem a perguntar-nos se valeu a pena apostarmos na Frelimo e em Filipe Nyusi”, lamentou aquele ancião, que garantiu ao governante a disponibilidade das populações de aumentarem as áreas de produção, diversificando as culturas na segunda época.

Reclamações populares são

resultado do desenvolvimento

– afirma governador Arlindo Chilundo

O governador de Niassa, Arlindo Chilundo, disse, na vila sede de Metarica, que as reclamações das populações são resultado do desenvolvimento pois, segundo aquele governante, “a solução de um problema abre, sempre, espaço para o surgimento de um novo problema”.

Chilundo respondia assim, em jeito de balanço, às preocupações apresentadas pelas populações dos três distritos por si visitados há dias, nomeadamente Cuamba, Mecanhelas e Metarica, durante a qual teve a oportunidade de interagir com as suas comunidades, inteirando-se dos principais problemas ali vividos.

De salientar que entre as preocupações apresentadas pelas populações figuram a extensão do ensino secundário do segundo ciclo aos distritos e localidades, a construção e equipamento em material e pessoal de unidades sanitárias com blocos operatórios, a expansão da energia da rede nacional de Cahora Bassa, entre outras necessidades.

Respondendo a uma pergunta sobre se estava satisfeito com o que viu nos distritos visitados, Chilundo respondeu positivamente, garantindo que os governos locais estão a fazer um grande esforço no sentido criar condições para o bem-estar das populações. “É visível o trabalho realizado pelos governos distritais nos distritos que visitei”, afirmou o chefe do Executivo de Niassa, destacando, particularmente o distrito de Metarica, que apresenta sinais de crescimento, apesar de necessitar de mais infra-estruturas por se tratar de um distrito de segunda geração, nascido na divisão administrativa de 1986.

Por outro lado, o governador do Niassa lamentou o uso excessivo de força pela polícia da República de Moçambique, PRM, tendo, para o efeito, pedido a intervenção da Procuradoria da República para investigar o baleamento de um motorista, em Cuamba, e a morte de um cidadão, por uso de arma de fogo pela PRM, durante os tumultos entre a polícia e a população, na cidade capital de Niassa, Lichinga.

Sobre o assunto, Arlindo Chilundo recomendou que se evite o excesso de zelo na actuação da polícia, criando condições para que a corporação seja vista como um elemento de protecção popular e nunca o contrário.

A terminar, o governador do Niassa reconheceu a existência, em algumas zonas da província de Niassa, de bolsas de fome e pediu as comunidades no sentido de aumentarem as suas áreas de produção na segunda época, diversificando as culturas para a eliminação da fome na província mais extensa de Moçambique.

André Jonas

andremuhomua@gmail.com

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