O Parque Nacional de Banhine, localizado no Norte do distrito de Chigubo, na parte Norte da província de Gaza, é também conhecido como paraíso das avestruzes por ser o único local no país onde se pode apreciar esta espécie às centenas. Apesar de serem resistentes à seca, estes animais começam a mostrar a sua debilidade face ao clima que já roça ao desértico porque não chove há três anos e faz um calor tremendo. Para agravar, caçadores furtivos actuam ao desbarato. O paraíso está a ser corroído pelo inferno.
O nome “Banhine” foi atribuído a esta conservação pelas gentes locais, changanes, que há muitos anos perceberam que o relevo desta região é feito de planícies com largas baixas onde, nos raros tempos chuvosos, a água se acumula e forma extensas lagoas.
A área foi declarada Parque Nacional como forma de oferecer protecção total aos grupos de avestruzes que povoam a zona e que são cortejados por várias outras espécies de fauna, com destaque para elefantes, cabritos vermelhos e cinzentos, oribís, inhalas, búfalos e cudos. Para quem gosta de fauna bravia, Banhine é paraíso mesmo. Aliás, a flora também é exuberante.
E mesmo a propósito de flora, dá para fazer um parenteses e dizer que apensar da seca, que podemos rotular de severa, grandes partes da floresta continuam a apresentar plantas com um verde de fazer inveja a muitos lugares irrigados. Entendidos na matéria caracterizam aquele tipo de floresta como Mopane e até lhe descrevem ao detalhe.
Voltando à avestruz, sabe-se que esta pode viver largos períodos sem beber água, a depender apenas de folhagem, ervas e insectos que vai encontrando aqui e ali. Porém, a estiagem que está a assolar a região de Banhine há muito que deixou de ser tolerável. “Passam três anos sem um pingo de chuva por aqui e, por isso, as lagoas secaram por completo”, revela Hélder Mandlate, chefe de fiscalização do parque.
Com a seca que está a ganhar proporções alarmantes, a equipa que administra esta área de conservação começa a contabilizar carcaças que não apresentam sinais de abate por arma de fogo ou lesões provocadas por armadilhas, o que sugere que possam ter morrido de sede. “Identificamos algumas carcaças sobretudo nos últimos três meses”, refere.
Mas, não são apenas as mais de 500 avestruzes ali existentes que sofrem com a seca. As girafas foram declaradas como extintas e o quadro se torna aterrador porque os animais de grande porte, de tipo elefante e búfalo, há muito que abandonaram a região.
Para além da seca e da emigração dos animais, a caça de subsistência também tem o seu impacto na gestão da fauna, uma vez que a população humana que reside na zona tampão alega que abate os animais porque não tem o que comer.
CAÇA GROSSA
Mas, o que deixa os gestores do Parque do Banhine apreensivos não é a caça de subsistência, apenas. Pelo que percebemos no local, perturba ver que muitos residentes das cercanias, e não só, continuam a ver a fauna bravia como “carne para churrasco”.
Para demovê-los dessa tese e tentar impingir a ideia de que é preciso preservar as espécies como meio para o alavancar o turismo que, por seu turno, pode gerar emprego, renda, impostos, crescimento e desenvolvimento económico continua a ser uma missão impossível.
Em conversa com Hélder Mandlate sentimos que o caminho para a consciencialização geral das comunidades continua longo e sinuoso, pior porque o número de fiscais é reduzido. “Somos 36 homens para controlar cerca de 700 mil hectares. Precisamos e 160 fiscais para cobrir minimamente o espaço”.
Vele ao Banhine o facto de o governo ter aceitado o envolvimento do projecto “MOZBio” na gestão do espaço. Graças a essa parceria, o parque hoje tem uma nova administração que integra, entre outros, um oficial de desenvolvimento comunitário.
Segundo Hélder Mandlate, desde então observa-se uma nova dinâmica na interacção com as comunidades, incluindo em matérias ligadas às queimadas descontroladas que eram uma dor de cabeça. “A fiscalização melhorou e podemos afirmar que estamos a ser bem-sucedidos”.
Com efeito, se em 2015 só tinha sido possível efectuar 92 patrulhas, este ano (2016) foram realizadas mais de 300 operações de fiscalização que resultaram na autuação de 35 caçadores furtivos, parte dos quais com processos criminais instaurados e outros com multas que vão para lá de um milhão de meticais, dos quais mais de 200 mil foram colectados.
Nestas 300 patrulhas foram igualmente apreendidos dois tractores, uma viatura, vários casos foram encaminhados ao tribunal dos quais onze réus condenado a favor do parque. “A maior parte da caça que se verifica é de animais de pequeno e médio porte, como cudos, oribis, inhalas, cabritos, avestruz e alguns búfalos”.
Por outro lado, observa-se que os caçadores furtivos que mais actuam por ali são provenientes da província de Inhambane e fazem-no sem dó nem piedade. “Abatem grandes quantidades e não escolhem as espécies. Caçam para valer”, revela Hélder Mandlate.
O responsável pela área de fiscalização do Parque Nacional de Banhine afirma com visível desagrado que “temos sempre muito trabalho porque precisamos reduzir esta caça intensa feita por esses forasteiros impiedosos e ainda procurar soluções para minimizar o impacto da caça de subsistência que também assume grandes proporções”.
Entretanto, e no que se refere às comunidades locais, Hélder Mandlate afirma que parte do problema reside no facto da população não conhecer os novos limites do parque aprovados recentemente e que levaram a que o parque passasse de 600 mil hectares para 700 mil.
Dados em nosso poder indicam que a decisão de redimensionar o parque resultou do facto de se ter constatado que não havia fundos para reassentar a população que vivia dentro desta área de conservação que, como se sabe, é de protecção total. “Assim sendo, optou-se por estabelecer uma nova linha que contorna os aglomerados populacionais e os coloca na zona tampão”.
Para tornar os limites conhecidos por todos, o Parque Nacional de Banhine precisa investir fundos de que ainda não dispõe para colocar sinais em diferentes pontos e, sobretudo, construir uma estrada que separe o parque da zona tampão.
Mas, mais do que fixar limites, a administração do Banhine pretende ver crescer a componente turística para que seja possível gerar receitas que possam ser canalizadas para as populações e, dessa forma, seja mais fácil contar com a colaboração destas nas acções de preservação da flora e fauna local.