Nacional

O regresso dos costureiros

Texto de Maria de Lurdes Cossa e Fotos de Jerónimo Muianga

A costura é uma actividade indispensável ao homem. É através dela que são feitas diversas peças de roupa como calças, saias, camisas, blusas, casacos e até mobiliários domésticos. Por conta disso, tem estado a desenvolver dia-a-dia, sendo exercida por várias indústrias e até por singularidades.

Em Maputo, já teve dias melhores, quando o “compra-feito” ainda era complicado e as pessoas tinham-na como a forma mais barata de se vestir.

Actualmente, muitas famílias ainda se sustentam através dele. Uns fazem-na em empresas, outros em casa, e há ainda aqueles que preferem estar em mercados, sobretudo informais.

Procuramos ver como é o negócio da costura para aqueles que preferem fazê-lo em mercados e locais informais.

Na Baixa da Cidade e no Mercado Xipamanine, locais que visitamos, o negócio flui à alta velocidade. A clientela, essa, já se pode adivinhar: mulheres, de quase todo tipo de idades. Após a compra da famosa “xikalamidade”, lá vão elas emendar o que não está no seu agrado.

Há ainda aquelas que depois da compra de capulanas e mucumes para lá se dirigem à procura de alfaiates para fazerem as famosas “bainhas” e também o bordado da renda, no caso dos mucumes.

As famílias de baixa renda é que procuram mais os serviços destes alfaiates, porque as casas especializadas cobram muitas vezes valores elevados.

Na Baixa da cidade, o trabalho é feito ao ar livre. Nos dias de chuva estes profissionais são obrigados a interromper suas actividades ou até mesmo a trabalhar sob dificuldades, nas varandas de algumas lojas.

No Xipamanine, o cenário é um pouco diferente Os alfaiates que ali labutam têm bancas próprias e cobertas e localizam-se dentro do mercado.

São um pouco mais de 60 alfaiates concentrados a desenvolver sua actividade, naquele espaço disponível desde 1993, quando 15 homens desempregados decidiram falar com os responsáveis do mercado para que lhes fosse cedido um espaço no qual pudessem passar a coser.

Ao domingo estes trabalhadores revelaram o que os levou a tomar tal decisão:escassez de postos de trabalho.

VIM BUSCAR

SUSTENTO

Felizardo António, 42 anos de idade residente na Machava-Socimol, é um dos alfaiates que trabalha nas ruas/avenidas da Baixa com quem conversamos. Natural de Quelimane, começou a exercer a costura em Sofala, nos anos 90. Quando vim a Maputo não tinha emprego então decidi em 2008 começar a trabalhar neste local para fugir da pobreza.

Casado e pai de três filhos, Felizardo garante o sustento da sua família através da costura na rua e paga a escola de suas crianças e da esposa na base do mesmo trabalho.

Segundo conta, não tem sido fácil, mas é prefiro a ficar em casa, porque pelo menos consigo coisas que se não estivesse a fazer nada não conseguiria.

Ele chega no seu posto às 8 horas. Seus potenciais clientes são os jovens que vendem calamidade pois sempre têm alguma coisa para ser emendada.

TENHO

CLIENTES

Dalila Jossane, 37 anos, natural de Nampula, é residente de Malhampsene, e iniciou-se na actividade de costura há três anos. Chega ao seu local de trabalho às 9 horas e 17 horas despega.

Segundo conta, parou na costura de rua devido ao sofrimento mas é feliz uma vez que pelo menos já consegue ajudar nas actividades de casa. Antes não trabalhava, então meu marido achou melhor pagar-me um curso de costura e depois incentivou-me a vir aqui, disse Dalila Jossane.

Mãe de 4 filhos, a nossa interlocutora afirma que nem sempre há movimento, mas dias de semana como sextas e sábados são muito bons uma vez que há muita gente que procura por seus serviços.

Depois de terminar o trabalho por volta das 17 horas, carrega sua máquina e deixa-a numa loja onde paga uma taxa de 10 meticais diários.

Contou, num outro momento que nos dias de chuvas não tem sido fácil trabalhar pois é obrigada a ajeitar-se nos arredores das lojas mas que sinto-me bem em fazer o trabalho aqui, apesar de serem poucas mulheres e das inúmeras dificuldades é agradável.

JÁ NÃO É

COMO ANTIGAMENTE

Por seu turno, Ricardo Mendías, residente na Matola, afirma que duns tempos para cá o trabalho não tem corrido da melhor maneira uma vez que aumentou a oferta (alfaiates) e diminui a demanda (clientes). 

Nos últimos tempos o negócio não tem sido bom, há poucos clientes, mas preferimos estar aqui para não roubar, pois o pouco que conseguimos dá para sustentar nossas famílias.

Está naquele lugar há quatro anos, sendo a vida o maior incentivo dessa atitude. Se estou aqui é por falta de alfaiataria, e enquanto não tiver tenho de vir. Sou pai e devo sustentar meus filhos.

TRABALHO

COM EMENDAS

Costuro aqui no mercado Xipamanine desde 1996. Decidi cá estar quando meu pai ficou doente e já não tinha como nos sustentar. Como era alfaiate e tinha máquinas decidi instalar-me aqui para trabalhar.Assim se pronunciou Rodrigues Jotamo, residente no Bairro de Chamanculo B, nascido em 1974, casado e pai de quatro filhos, igualmente alfaiate.

Segundo ele o movimento de clientes é normal pois tem conseguido trabalhar. No entanto, afirma que os meses de Janeiro e Fevereiro são os que têm mais trabalho, uma vez que tem muita gente à procura de uniforme. Nos restantes meses a calamidade é que o que me sustenta, pois solicitam-me mais para diminuir calças e camisetas.

ESTOU AQUI

HÁ 20 ANOS

Por sua vez, Julião Faife, 58 anos de idade, pai de treze filhos, referiu que o trabalho de alfaiataria no mercado não tem sido muito rentável quanto era há anos. Nos últimos tempos o trabalho não tem sido fácil uma vez que há carência de clientes. Já somos muitos. É que hoje em dia, existe muita gente a exercer essa actividade nas casas, o que fez com que percamos uma parte daquelas pessoas que, antigamente, vinham mandar coser roupas.

O alfaiate trabalha no mercado Xipamanine há 20 anos: desde o dia 19 de Outubro de 1994.

É UMA ACTIVIDADE

DA FAMÍLIA

Marques Alfredo, residente em Xipamanine, casado e pai de quatro filhos, natural de Vilanculos, também falou a nossa reportagem. Segundo conta, em toda sua vida sempre exerceu essa actividade, pois é uma profissão da família. Meus avôs, meu pai, tios, meus irmãos também costuram. Agora isso é que me influenciou a gostar dessa área.

O nosso interlocutor trabalha no mercado Xipamanine desde 2001 e afirma que foi lá parar porque queria dar conta das despesas da casa: as coisas já não se comparam a anteriormente, uma vez que tínhamos mais movimento contrariamente aos dias de hoje.

 

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