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O que Lourenço do Rosário disse sobre o assassinato de Gilles Cistac

Por ter sido publicado, de uma forma distorcida, declarações minhas num determinado semanário, a respeito do bárbaro assassinato de Gilles Cistac, Professor Catedrático de Direito Constitucional e Director-adjunto para a investigação e extensão na Universidade Eduardo Mondlane, sinto-me na obrigação de apresentar, publicamente, o que verdadeiramente foi dito, durante a Oração de Sapiência, na Universidade Politécnica, a 5 de Março de 2015:

“Não podíamos ficar calados amedrontados, porque, em nome da liberdade, da fala e do debate de ideias se pode liquidar um cidadão. Nós, como uma universidade, um dos slogans que costumo apresentar aos alunos, na primeira reunião que faço com todos os estudantes do primeiro ano, é que nesta casa é proibido ter medo.

Ontem, tentaram fazer uma manobra de diversão, dizendo que também podia ser que o professor Gilles Cistac tivesse sido assassinado por outras razões que não as suas intervenções públicas, também podia ser que…. também podia ser que… Até pode ser…, nós somos académicos e trabalhamos com hipóteses.

O Professor Gilles, mais alguns académicos, vinha fazendo intervenções de debate de ideias, muito contundentes na nossa sociedade e algumas correntes de opinião, nas redes sociais, comunicação social e debates de café, sugeriram, inclusive, que determinados indivíduos, dentre os quais o Professor Cistac, deveriam ser expulsos para as suas terras, ou então ser eliminados.

Isso passou nas redes sociais. Passou na rádio pública e nas televisões. Nas redes sociais, há uma responsabilidade de cada autor mas, na rádio pública e nas televisões públicas, há dono de cachorros. Então, nós temos quedar o nome ao dono do cachorro. Normalmente, há cachorros mais afoitos, com excesso de zelo, e acabam por actuar em nome próprio, pensando que estão a fazer um bom trabalho para o seu dono, mas é obrigação do dono mandar parar o cachorro.

Eu não acredito, com toda a sinceridade, que tenha havido uma reunião do meu partido que tenha organizado e programado este acto bárbaro. Não é isto que está em causa. Não acredito que um dirigente da Frelimo tenham andado executar o Professor, mas isso não impede que a "mulher de César não pareça apenas honesta, é preciso ser e parecer".

Quando publicamente se incentiva o ódio racial e se diz, claramente, que fulano de tal e cicrano devem ser eliminados e, logo a seguir, um desses fulanos é eliminado há uma relação directa de causa e efeito e a Universidade Politécnica não pode ficar indiferente a estes fenómenos, que atentam contra a academia.

Hoje ouvi, atentamente, o comunicado da Comissão Política do meu partido condenando, como era seu dever, este acto bárbaro, mas devia ter apenas condenado o acto bárbaro, e não tentar justificar-se, porque também há um ditado latino que diz: "quem se justifica sem ter pedido justificação, está a confessar a sua culpabilidade".

Lourenço do Rosário

Reitor da Universidade Politécnica

 

 

 

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