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Missão mais difícil foi lutar na Rodésia

Por admin

Em 1978, Matias Tomé Upinde recebeu a missão de comandar o grupo das FAM/FPLM (Forças Populares de Libertação de Moçambique), que penetrou no interior do Zimbabwe para combater contra as forças de Ian Smith, que já semeavam terror em Moçambique, destruindo infra-estruturas como pontes e outras e massacrando a população.

“Respondi prontamente ao chamamento. Nos finais de 1978 entrámos no interior do Zimbabwe, mas tivemos dificuldades nos primeiros dias porque o inimigo se tinha apercebido da nossa presença. Caímos em emboscadas, perdi muitos colegas e, passados uns dias, reorganizei as forças e avançámos”, recorda.

O nosso interlocutor diz que as acções de sabotagem e ataques das FPLM que ele comandou foram determinantes para a libertação do Zimbabwe. “Fragilizámos drasticamente a economia da Rodésia. Lembro-me que um dos primeiros grandes ataques foi a destruição de viaturas transportando combustível a partir da Beira e o próprio governo minoritário da Rodésia de Ian Smith noticiou isso”.

Recordou ainda que, devido a frequentes ataques das FPLM a viaturas que saíam do porto da Beira para abastecer aquele país do “hinterland”, o governo rodesiano optou por usar a África do Sul, pensando que as FPLM não seriam capazes de penetrar aquele território até à zona da fronteira com a África do Sul.

“Quando descobrimos que tinham deixado de usar o porto da Beira, começámos também a atacar os camiões que partiam da África do Sul. Lembro-me que certo dia queimámos uma frota de camiões-cisterna de combustível, vindos da África do Sul, capturámos os motoristas e, mais tarde, libertámo-los, para irem contar que não se brincava com os filhos de Samora”, contou.

Entretanto, dentre os ataques que dirigiu em território rodesiano (hoje Zimbabwe) o entrevistado diz ter-lhe marcado o da destruição de um cargueiro no aeroporto de Salisbúria, actual Harare, capital do Zimbabwe, em finais de 1979, em plena luz do dia, quando as FPLM cercaram aquele local.

Nas quartas-feiras, sempre havia um avião que partia de Salisbúria. Depois de uma investigação ficámos a saber que o mesmo exportava carne de vaca para a Holanda. Efectuámos um reconhecimento da área e, certa manhã, atacámos e destruímos a aeronave prestes a levantar o voo. Foi uma notícia que abalou o mundo e fragilizou completamente Smith”, lembrou.

Acrescentou que o ataque resultou na destruição total da aeronave e as FPLM fizeram explodir tanques que serviam de depósito de combustíveis nos arredores do aeroporto.

Foi um fogo de grandes proporções que os bombeiros locais não conseguiram debelá-lo; veio ajuda de bombeiros sul-africanos mas em vão. Só depois de cerca de um mês é que foi extinto”.

Upinde também lembra-se de um ataque do inimigo que o deixou irreversivelmente coxo: “O inimigo cercou-nos e com bombardeiros a largarem artilharia pesada. Na sequência, caí numa cova e o joelho deslocou-se. Escondi-me entre duas árvores, os meus colegas fugiram, alguns morreram. Continuei até o abrandamento da acção inimiga, mas não foi fácil sair do cerco”.

Graças a uma manada de bois saiu são e salvo, pois “meti-me no meio dos bois, andando com apoio das mãos, fui coxeando até conseguir sair da área cercada e encontrar-me com os meus colegas. Submeteram-me a um tratamento, mas a verdade é que a minha perna nunca mais ficou bem. Como vê, tenho este problema”.

As acções das FPLM precipitaram a assinatura dos Acordos de Lancaster House e, terminada a guerra, o grupo regressou a Maputo onde foi recebido com honras de Estado.

 “Foi um dia de muita emoção. Desembarcámos no aeroporto de Maputo, Samora Machel estava lá, e tratou-nos de heróis e internacionalistas vivos. Disse que a missão tinha sido cumprida. Em nome de todos os meus colegas respondi: às ordens!”

Chefe de segurança

na “Ponta Vermelha”

Depois de ter cumprido a missão de Zimbabwe foi para a cidade da Beira onde comandou as FPLM até ser transferido para chefiar a segurança do Palácio da “Ponta Vermelha”, depois do que “pedi para voltar para a minha terra, onde até hoje me encontro, para ficar perto dos meus pais que já estavam muito velhos”.

Chegado a Cabo Delgado, a Upinde foi confiada, uma vez mais, a chefia de um grupo de militares que protegia uma empresa norte-americana que nos anos de 1985 fazia pesquisa e prospecção de petróleo na bacia do Rovuma. Depois do fim da guerra dos 16 anos foi indicado para comandar o centro de acantonamento de Mueda e em 1996 passou à disponibilidade.

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