Texto de Jonas Wazir
Matias Tomé Upinde, 75 anos de idade, Major na Reserva, é depositário de um percurso invejável na história da luta libertação de Moçambique e da consolidação da independência e da defesa da soberania do país. Chefiou o grupo de militares moçambicanos que se infiltraram no Zimbabwe, para acelerar o alcance da independência deste país. Foi ele quem deu os primeiros treinos a alguns dirigentes históricos da FRELIMO. Eis a escolha do domingo para assinalar o 25 de Setembro, dia do início da luta armada de libertação nacional e das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Com este propósito, a reportagem do domingo escalou o bairro Pamunda, na vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, para entrevistar este homem que ingressou na Frelimo em 1964, em M´twara, na República Unida da Tanzânia.
De altura respeitável, natural da aldeia Nakitengue, neste distrito setentrional de Cabo Delgado, Matias Upinde nasceu a 25 de Fevereiro de 1945 e terminou o ensino primário rudimentar nos finais da década de 1950, depois do que foi catequista na missão Nambude, actual posto administrativo de Mbau, em Mocímboa da Praia.
Anos depois, Upinde foi professor primário no mesmo local e, em 1963, com ajuda dos pais, obteve clandestinamente o cartão de membro da FRELIMO, facto denunciado por colegas fiéis ao governo português.
Segundo contou, um dos denunciantes, depois de ter sido severamente torturado pela tropa colonial, revelou os nomes dos jovens que possuíam cartões da FRELIMO. A lista foi depois enviada a Nambude, com o objectivo de ludibriar os denunciados a seguirem para Mocímboa da Praia, onde seriam presos.“O indivíduo chegou a Nambude e tentou convencer o padre que dirigia a escola missionária para que dispensasse todos os professores e fossem à Mocímboa da Praia, para uma reunião com o administrador. Mas porque ele tinha a cara inchada, sinal de ter sido torturado, o padre não aceitou. Chamou-nos e sugeriu-nos em surdina que fugíssemos imediatamente para a Tanzânia”, contou Upinde.
O padre, que era holandês, sabia que “se fôssemos à Mocímboa da Praia seríamos presos, pois tinha informação segura de que eu e alguns colegas tínhamos cartões da FRELIMO. Fugimos e entregámo-nos à FRELIMO em M´twara, onde se encontrava o velho Lázaro Nkavandame que dificultou muito a nossa entrada, pensando que fôssemos infiltrados”.
Upinde foi submetido a treinos militares em Bagamoyo e, mais tarde, no campo de Kongwa, onde passou por exames pedagógicos para apurara o nível dos seus conhecimentos, de onde saiu aprovado e posteriormente chamado para Dar-Es-Salaam para novas missões.
Já em Dar-Es-Salaam, numa reunião dirigida pelos dirigentes da FRELIMO, foi-lhe dada a oportunidade de frequentar um curso superior na Bulgária, tendo optado por cursar engenharia civil. Porém, a viagem à Bulgária não chegou a acontecer, por razões que até hoje desconhece.
Feito isso, Upinde regressa a Bagamoyo, onde foi indicado instrutor militar. É aqui onde diz ter dado os primeiros treinos militares a jovens que acabavam de chegar do interior do país.