Desporto

Tchumene pede apetrechamento

Uma área abraçada por residências, adstrita ao Quarteirão 27 do Bairro Tchumene 2, Município da Matola, faz a alegria dos moradores todos os fins-de-semana. Desportistas de todas as idades formam equipas e fazem girar a bola no campo de futebol conhecido como Amarelinho. Contudo, os praticantes encaram dificuldades de vária ordem.

Conforme nos foi dado a conhecer, o Amarelinho existe há bastante tempo. Trata-se de um espaço parcelado para actividades físicas, com destaque para o futebol.

Em conversa com Jaime Hlongwana, de 26 anos, natural de Maputo e residente em Tchumene 2, este revelou que a prática desportiva é encarada com alguma seriedade, sendo que existe uma equipa denominada Futebol Clube de Tchumene, que alista atletas de todas as idades.

“Marcamos jogos para os fins-de-semana, com equipas de diferentes bairros, Mahlampswene, Matola Gare e outros nas redondezas”. Entretanto, segundo avançou, também se realizam jogos entre crianças. Neste caso, são igualmente disputas inter-bairro ou, noutra dimensão, inter-escola.

Atestando as declarações de Jaime, e contra todos os rumores segundo os quais aquele recinto poderia deixar de servir para fins desportivos, Luís Zavala, de 79 anos, chefe do Quarteirão 27, garantiu que a infra-estrutura foi avalizada pelo presidente do município da Matola, Calisto Cossa.

“Ele defende a existência deste espaço para o desporto”. O posicionamento do edil dissipa as dúvidas que se tinham quanto à posse que, no passado, “esteve nas mãos de um sul-africano autorizado por ‘alguém’ lá do município”, denunciou Zavala.

E como se isso não bastasse, “apareceram outras pessoas que se dizia que pretendiam construir um prédio, (aliás, a designação Amarelinho provém do muro construído e pintado de amarelo por um destes supostos proprietários) mas o que sabemos é que o terreno já estava previsto no mapa do bairro para a prática de deporto e, para gáudio dos moradores, o presidente Calisto sossegou-nos ao afirmar que o campo não sairá daqui!”.

E A BOLA GIRA TODAS AS SEMANAS

De forma especial, a prática do futebol faz parte da vida dos residentes de Tchumene. E pela expressão dos moradores denota-se quão o campo é bem-vindo.

António Jaime, de 25 anos, natural de Quelimane, residente em Tchumene 2, declarou que partidas de futebol, geralmente marcadas para os fins-de-semana, já fazem parte da rotina daqueles moradores.

“Ora formamos, entre nós, equipas e realizamos partidas tão-somente para fazer passar o tempo, ora jogam as equipas melhor estruturadas (o Futebol Clube de Tchumene contra clubes de outros bairros). Neste caso, encara-se as disputas de forma renhida, ainda que sirvam, também, de recreação”.

 Já para o chefe do Quarteirão, a serventia ultrapassa uma mera actividade lúdica: “Estamos felizes por este campo existir, ocupa as nossas crianças, através da prática de desporto. Desta forma elas distanciam-se do crime; fazem algo benéfico para a sua saúde e para a sua formação como pessoas”, afirma Zavala.

Entretanto, a actividade desportiva, que está prevista igualmente no currículo escolar, levou a que a área do desporto da Escola Primária Completa de Tchumene (EPC de Tchumene) tomasse a decisão de realizar algumas aulas de Educação Física e sessões de treino de futebol e de atletismo no Amarelinho.

Esta informação foi avançada por Benjamim Chamiça, responsável do desporto naquela instituição de ensino. “A escola usa o campo para a prática do futebol e atletismo. Neste momento, decorrem trabalhos de preparação para competições entre ZIP’s (Zona de Influência Pedagógica). Existem equipas da Matola Gare, de N’Kobe, de 12 de Outubro, e outras. Mais tarde, as disputas serão alargadas ao nível dos distritos”, adiantou-nos.

APOIO PRECISA-SE

Em conversa com os praticantes do desporto em Tchumene, estes declararam a existência de dificuldades que os impedem de levar de forma plena as suas actividades. “Falta-nos quase tudo!”, palavras de Evane Nharriva, de 15 anos, e Vanízio Matiane, de 12.

Ambos são jogadores da equipa de futebol feminina e masculina, respectivamente, da EPC de Tchumene.

Evane e Vanízio iniciaram-se na prática do futebol há um ano. “Era um sonho de infância”, disse Evane, que joga na posição de defesa.

Por seu turno, Vanízio, avançado, confessou-nos a sua paixão por futebol, o que, se depender dele alcançará outras competições como a liga inglesa, “alinhando pelo Manchester United”. 

Mas, por enquanto, os seus pés seguem firmes no Amarelinho onde obedece, rigorosamente, aos treinos orientados pelo professor Benjamim e professor António, e remando contra a maré: “Não temos equipamento de treino (chuteiras, caneleiras, camisolas, meias e calções); faltam-nos, inclusive, bolas”, afirmou Vanízio.

Evane  acrescentou a isto, a falta de bancadas, de balizas e iluminação.

É uma ajuda necessária e possível, conforme argumenta o professor Benjamim. “Estamos rodeados de grandes fábricas. Entendemos que deviam cumprir a sua missão de ajudar a comunidade, trabalhamos em condições precárias”. Contudo, a avaliar pelas promessas, muita coisa boa está a caminho.

“Fala-se da construção de balneários, pista de atletismo, bancadas, sombras para o banco de suplentes”. Enquanto não chega, tudo é feito à moda senta-baixo; os espectadores sentados na areia ou, na melhor das hipóteses, empoleirados no muro amarelinho vibrando pelas suas equipas favoritas e na esperança de que o porvir traga mais dignidade para as suas escolhas.

O campo é da comunidade

– Sebastião Bebe, chefe de Serviços da Juventude e Desporto

Fazendo jus à política adoptada ao nível central, que consiste em construir um campo de futebol em cada bairro, o município da Matola pensou também no Bairro de Tchumene onde, de acordo com a confirmação de Sebastião Bebe, chefe de Serviços da Juventude e Desporto “existe um campo perto da Permoc (Matola Gare) e outro (Amarelinho) que se localiza num local com elevada densidade populacional em relação ao primeiro”.

Quanto ao apetrechamento, Bebe afirmou que inicialmente, as atenções estiveram viradas para o campo da Permoc  mas, “obviamente, serão feitas intervenções também no Amarelinho. Até porque já se planeia um trabalho conjunto visando apurar que necessidades do recinto, de forma a se tomar as providências necessárias”.

Quanto à manutenção, referiu que o município encontrará formas de fazer com que o espaço seja saudável. E “já pensamos em admitir a entrada de gestores interessados, pois entendemos que poderá ser uma solução para este problema”.

Outro aspecto a ter em conta é que, não obstante o facto de o Amarelinho ter sido desenhado para a prática de futebol, “nada nos impede de alargar para outras modalidades desportivas, a título de exemplo o atletismo, criando condições para tal”, disse Bebe.

Entretanto, colocando o olho em outros projectos, adiantou-nos que se estuda a construção de complexos desportivos na Matola. “Pensamos em espaços onde se possam concentrar várias modalidades desportivas, a natação, o ténis, o basquetebol, o futebol, entre outras”, disse a terminar.

Cabritos alimentam-se e jogam à bola

Conforme foi referido, domingoconstatou a existência de uma mata que praticamente engole o campo de futebol de Tchumene 2. Uma vez que não se define de forma clara de quem é a responsabilidade pela limpeza daquele espaço, animais como cabritos, orientados pelos seus pastores, vão fazendo a sua festa numa mesa farta e sem previsibilidade de crise alimentar para os próximos tempos. Feita a refeição, distribuem-se pelo campo, qual jogadores de futebol, e realizam jogos a seu peso e a sua medida. 

Outros animais, desta feita peçonhentos, como cobras e escorpiões, de vez em quando saem do seu habitat tranquilo (capim alto) e fazem as suas passeatas pela vizinhança.

“Cobras e escorpiões invadem as nossas residências. Ali o capim é denso, disse Jaime Hlongwane. Para adensar os problemas, “tivemos ocorrências de ferimentos em crianças e até em adultos causados pelos picos espalhado dentro do campo”, referiu o professor Benjamim.

Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br

Inácio Pereira

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