Opinião

DAS NOSSAS LAMENTÁVEIS ATITUDES!

Senhor, salva o teu povo, e abençoe a tua herança; apascenta-os e exalta-os para sempre” Sl 28:9

Eu faço tudo o que é possível para seguir o conselho do Buda Sakyamuni.Ele, um dia ensinou a um dos seus seguidores que: “Não viva no passado, não sonhe com o futuro, mas concentre a sua mente no momento presente”. Quero, veementemente, consertar a minha mente, somente no presente, porém…existe um passado que impregnou-se indelevelmente na minha mente e persegue-me implacavelmente. É o saudoso passado vivido com as minhas avós. Cada ano que passa, separando-me do convívio delas, separando-me daquele tempo que eu era criança, cheio de esperança e de ilusões, do tempo em que elas ensinavam-me os princípios de Sakaymani, os bons costumes e as boas maneiras inculcando-me que eu por minha vez deveria transmiti-las aos meus filhos. Foi um vasto leque de verbos de todas as conjugações gramaticais! Recordo-me delas e desse passado com nostalgia. Esse passado com elas, que não me larga, e porque é passado que não pode ser presente, entristece-me. Foi com elas que aprendi e transmiti o que delas aprendi aos filhos da filha da minha sogra. Para as minhas avós, as nossas atitudes nunca deveriam ser censuráveis. Para elas, uma pessoa imoral era alguém que revelava imoralidade, sem pudor, e estava ligado à libertinagem e obscenidades. Uma pessoa assim era descrita por elas (avós), como devassaindecente e desonesta, pois revelava falta de carácter e vivia sem regras, sem auto-estima. Essa era, para as minhas avós, uma pessoa “Txipumbu, Xiphukuphuku, Wo Hunguka, Wo Xanga”, em suma, uma pessoa lamentável, ignorante, pois para elas, a ignorância era a causa de todos os problemas. Para elas, quem não respeitasse os “tabus”, era ignorante. Uma das minhas avós era analfabeta, mas não era ignorante. Elas nunca confundiam analfabetismo com ignorância. Tudo isso transmiti aos filhos da filha da minha sogra e eles, não me desiludiram até hoje. As minhas avós, empanturraram-me com muitos tabus que agora perante os filhos dos filhos da filha da minha sogra revelam-se como perda de tempo, uma estupidez! Cada ano que passa, os filhos dos filhos da filha da minha sogra crescem e se tornam fisicamente robustos, mas do ponto de vista moral, não passam de estátuas grandes, “cujo esplendor é excelente, mas a sua vista terrível, cabeças de ouro fino; peito e braços de prata; ventre e coxas de cobre; pernas de ferro; pés em parte de ferro e em parte de barro” (Dn 2:31-35). Eu sinto-me um inútil perante eles, porque o que ensinei aos pais deles, já não tem enquadramento no diário destes. Para eles a solidariedade e a moral que deviam ser a “guarda-chuva” da sua vivência e convivência, tornaram-se uma letra morta, sem valor nem autoridade. Segundo as minhas saudosas avós, uma das coisas mais importantes nos relacionamentos interpessoais, era o respeito mútuo, para que a convivência na sociedade fosse mais agradável. Por exemplo, passar no meio entre duas pessoas, cruzar com alguém sem cumprimentar, comprazer-se com o sofrimento alheio, assobiar de noite, tudo isso para elas era um verdadeiro atentado ao pudor, típico de ignorante. Vem este todo “arrazoado” a propósito do que os filhos dos nossos filhos, encabeçados por alguns adultos praticam diariamente. Num acidente de viação, os jovens (e alguns adultos), os mais “sensatos”, ao invés de socorrer as vítimas, tiram fotografias para enviar no “Wats up”. Os mais “ousadas”, desapropriam os haveres dos acidentados o máximo que puderem. Em linchamentos, assistimos com tristeza, imagens horríveis de jovens, (instigados por alguns adultos), gritando de júbilo, como numa orgia de loucos pela morte do linchado. Nós, avós, só conseguimos fazer passar para os filhos dos filhos das filhas das nossas sogras, verbos da primeira conjugação:assaltar, abafar, arrebatar, cabular, “catanar”, (novo verbo), desapropriar, destruir,devastar, depredar, engomar, esbulhar, escamotear,espoliar, estragar, furtar, imitar,larapiar,pilhar,rapinar, roubar, saquear, surripiar, tirar, trepar, …enfim, atitudes muito lamentáveis. Lamentamos muito quando “a bala sai-lhes pela culatra” como bem sói dizer-se. Que lamentáveis atitudes!

Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com

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