Editorial

Democracia…mas nem tanto!

Os moçambicanos, de verdade, querem paz. Clamam por ela. Outros querem o caos. A confusão. A balbúrdia. O troar das armas voltou a pontuar o dia-a-dia dos moçambicanos.

São episódios mais ou menos isolados mas que mostram claramente que a confusão está sendo armada. Há gente com vontade de ver mais sangue derramado. Não bastam as tragédias causadas pelas calamidades naturais ou pelos acidentes de viação!

Parece que há sempre alguém interessado em tirar mais um quinhão da nossa tranquilidade. A velha sabedoria popular alerta que quando dois elefantes lutam, a maior vitima é o capim. E capim aqui, pelos vistos, somos eu e tu. Somos nós. São os moçambicanos que, tudo o que querem, é só um pedaço de paz, de tranquilidade para poderem melhorar as suas condições de vida… mas como melhorar com as constantes ameaças de retorno a guerra? É que ameaçar dividir o país é claramente uma declaração de guerra!

E não vamos aqui escamotear a verdade. O protagonista das ameaças é, curiosamente, o mesmo: a Renamo! Renamo que se deseja um partido político mas, como sabe-se, mantém um braço armado. Desde a assinatura dos Acordos de Roma que existe esta pândega de homens armados. Caso único no mundo, parece. Pelo menos na região não consta que haja partidos políticos armados. Estranho. O Presidente da República, Filipe Nyusi, já manifestou publicamente e por diversas vezes, a sua inquietação perante este facto. Recentemente disse claramente que não podemos continuar a ser um país estranho, onde as pessoas andam armadas e não lhes acontece nada. Aqui na região somos o único país que admite isso. Vamos à Suazilândia, não há isso, na África do Sul na acontece coisa igual, etc.etc, e no Zimbabwe, nem pensar”.

E é verdade.

O curioso nisso tudo, é que a mesma Renamo tem representação no Parlamento, o que equivale dizer que tem possibilidades de se fazer ouvir em fórum apropriado. O líder da Renamo, entrevistado em Santugira, disse, esta semana, que dividir o país vai contra a Constituição da República mas, para satisfação das suas intenções, ele e o seu partido, estariam dispostos a tal aleivosia. Que se saiba, a democracia desenvolve-se sob o jugo das leis e não sob a ditadura das armas… mas isso nem devia-nos nos espantar… o pai da democracia socorre-se muito da ameaça para lograr os seus intentos.

O presidente da república já disse que está disposto a receber o líder da Renamo. O pai da democracia diz que não pode sair do mato porque sabe que o querem assassinar. Em que é que ficamos?

Continuam as mortes? O país pára? O que é que segue no próximo episódio?

O que é líquido é que o país não pode progredir com coisas deste género. Não haja ilusões – não há economia que resista ao troar de armas. Aquela pancadaria no Centro do país vai-nos fazer recuar milhares de anos. Estamos a voltar para a idade da pedra enquanto o mundo, lá fora, avança a largos passos para o desenvolvimento sustentável e equilibrado.

É que a manutenção de um partido armado no país nos tira o sono. É que as armas impõem o silêncio ditado pelo vencedor de ocasião. Os partidos passam a ser exércitos que se preparam ciclicamente para a guerra. Se se sentam à mesa do diálogo, levam as metralhadoras a talabarte. O ambiente envolvente é tecido pelo medo, em vez de favorecer a convivência pacífica.

Se os estrangeiros acham que é uma completa estupidez andarmos aos tiros, o que não passará pela cabeça de milhares de moçambicanos – os mesmos que a Renamo afirma representar? Resposta: também julgam que esta confusão é uma completa falta de respeito pela vida e dignidade humanas. Querem paz. Em todos os momentos, apelam para a resolução pacífica do diferendo. Entretanto, parece que os “bosses” da Renamo não fazem a mesma leitura. Todos os dias reiteram a necessidade da guerra.

Isto atinge gravemente o Estado de Direito modelado na Constituição da República. A Renamo aprovou essa mesma Lei-Mãe em ambiente de consenso parlamentar, não se coibindo, agora, de vir a público esburacar o seu próprio texto, amedrontando à esquerda e à direita, atacando, matando e destruindo bens. Isto porque, pensamos, não foi capaz até hoje de se apresentar aos moçambicanos como alternativa credível de governação. A guerra fará tudo menos contribuir para o desenvolvimento do país. Isso é uma certeza absoluta. Falar que o que se está a fazer é defender a democracia, é conversa para boi dormir. Só querer não é poder, é preciso também comprometimento, atitude e perseverança… aspectos que parecem não fazer parte do cardápio de alguns  “moçambicanos”.

O mesmo é válido para alguns que, hoje, se dizem neutros. Há alguns “actores sociais” que, quando o assunto envolve a Renamo, quedam-se mudos. Não atam nem desatam mas aguardam ansiosamente que o Governo tropece nalgum calhau para começarem a uivar.

A Renamo parece estar em desespero de causa. Quer governar na base da chantagem. Agora se agarra apenas à solução militar, única linguagem que ela reconhece ser eficaz para ter razão. Dhlakama parece conhecer a máxima de Aquiles que, na antecâmara da guerra de Troia, proclamou: O que todos os Homens querem, eu quero mais; mas parece esquecer que "o inteligente aprende com os seus erros. Já o sábio aprende com os erros dos outros”.

Nem mais…

 

 

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