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“Há pessoas que ainda não sabem atravessar a estrada e condutores maldosos”

Por admin

Texto de André Matola

Haverá uma forma para estancar o sangue que jorra nas nossas rodovias em resultado dos acidentes de viação? A pergunta é de difícil resposta. Ainda assim, fomos à busca do pensamento da Associação Moçambicana de Vítimas de Insegurança Rodoviária (AMVIRO) pela voz do seu Presidente do Conselho de Direcção, Alexandre Nhampossa.

Um trabalho efectuado pelo domingoao longo de semanas permitiu-nos constatar que aliada à indisciplina de alguns automobilistas, há pessoas que não sabem atravessar a estrada.

Por exemplo, algumas pessoas quando descem dos autocarros ou dos mini-bus ao invés de se dirigirem para a parte traseira do veículo vão para frente do mesmo o que lhes retira a possibilidade de enxergar os carros que vem de trás para a frente e, não raras vezes, resulta em atropelamento.

Alexandre Nhampossa, Presidente do Conselho de Direcção da Associação Moçambicana de Vítimas de Insegurança Rodoviária (AMVIRO), uma agremiação com mais de mil membros e que trabalha em três frentes, nomeadamente “Prevenção Rodoviária”, “Mitigação dos Efeitos dos Acidentes de Viação” e “Advocacia”, concorda, mas nota que a culpa deve ser repartida em 50/50.

Se há pessoas que não sabem atravessar correctamente a estrada, também há automobilistas que não sabem conduzir para poupar a vida daqueles que não sabem atravessar”.

Aliás, Nhampossa perdeu uma irmã por atropelamento quando ela pretendia atravessar a estrada nas condições narradas acima. Infelizmente o problema não se esgota por aqui.

Existem automobilistas que vendo e se apercebendo de que o peão tem claras lacunas em atravessar a rua em segurança aceleram propositadamente, porque querem ganhar a luz verde do semáforo.

As paragem do Hospital Geral José Macamo (HGJM) e do bairro 25 de Junho, o cruzamento entre as avenidas Joaquim Chissano e FPLM ou entre a Samora Machel e a 25 de Setembro, para não falar da esburacada avenida Eduardo Mondlane, na capital, e nas proximidades do cemitério da Texlom (Estrada Nacional Número 4), no Município da Matola, são apenas alguns dos muitos exemplos susceptíveis de serem apontados. Mas ao longo do país há mais como testemunhou Nhampossa.

Recentemente percorri algumas estradas da região centro e norte do país, nomeadamente a Estrada Nacional Número 12, a Estrada Nacional 106, a Estrada Nacional 243 (por exemplo Chiúre, Montepuez e Nacala) e constatei que as povoações, as residências, alguns mercados estão cada vez mais próximas da estrada, o que incrementa a insegurança rodoviária”, contou.

Efectivamente, este é um aspecto que doravante as instituições de direito deverão ter em consideração, porque em muitos locais as reservas de estrada não estão a ser respeitadas, uma aflição que também preocupa os transportadores de longo curso.

Nas estradas principais, a área de reserva é de 30 metros. Dentro das cidades, as chamadas vias interiores, admite-se até 10/15 metros, enquanto que a área de reserva para as vias férreas é de 50 metros do eixo da via.

Outro problema referido pela nossa fonte é o crónico problema de velocidade. “Pude notar que alguns automobilistas não respeitam os limites de velocidade a entrada das povoações. Passam a 100, 110, 120 quilómetros por hora, o que periga a vida dos transeuntes”.

Aspecto também verificado e sublinhado por Nhampossa ao longo do seu périplo pela zona norte do país, é a fraca sinalização de algumas estradas recentemente reabilitadas e o incumprimento dos limites de velocidade a sul da província de Cabo Delgado e a norte da província de Nampula, onde a permissão máxima é 50 quilómetros horários mas poucos automobilistas respeitam.

Entretanto, começa a pontificar outro tipo de colisão, referimo-nos aos acidentes ferro-rodoviários. Efectivamente, com a dinamização do transporte ferroviário, alguns carros são abalroados nas passagem de nível com ou sem guarda devido à distracção dos motoristas, umas vezes alcoolizados e outras por pura desatenção motivada pelo volume ruidoso dos seus receptores. Alguns carros se não são autênticas discotecas ambulantes pouco falta para arrebatarem esse epíteto.

120 MORTES POR MÊS

ENTRE 4 A 5 POR DIA

Entretanto, nem tudo são péssimas notícias. O primeiro semestre do presente ano registou menos acidentes quando comparado com igual período do ano passado.

Fontes oficiosas apontam para a redução na casa de 12 porcento. Ainda assim, este número fica aquém do definido à escala planetária pelas Nações Unidas para a Década Global de Acção para a Segurança no Trânsito (2011 /2020) que fixa essa diminuição em metade, o que significa que Moçambique terá de obter uma cifra igual ou abaixo de sete por cento.

Esta iniciativa propõe que os Estados-Membros fixem metas ambiciosas de redução, promovam a monitorização dos resultados e apostem no aumento de recursos para a segurança rodoviária.

A Cidade de Maputo e Maputo Província com um registo médio de 21 a 28 por cento do total médio de acidentes de viação lideraram a contagem dos primeiros seis meses do ano em curso. Mas a cidade de Maputo, paradoxalmente e pela positiva contribuiu estatisticamente apenas um peso médio de acidentes mortais na casa dos cinco por cento.

“Quer dizer, na capital do país é onde se registaram mais acidentes de viação mas com menos mortes. Sofala com um registo médio de oito por cento de acidentes teve 16 por cento de óbitos.Temos de olhar para estes dados como ferramentas de reflexão e de trabalho de todos os intervenientes neste processo de prevenção de acidentes rodoviários”, sublinhou Nhampossa.

Entretanto, o presidente da AMVIRO louva o trabalho que está sendo desenvolvido pela Polícia de Trânsito (PT) em coordenação com demais parceiros e a sociedade moçambicana no seu todo.

“Apesar de tudo não podemos relaxar. Os números são ainda bastante preocupantes. Três a quatro pessoas perdem a vida por dia e em média 120 por mês nas nossas estradas. É muito”,disse Nhampossa.

GRITO DAS CRIANÇAS

Papás, não nos atropelem, queremos crescer saudáveis e em paz

É como se denomina a iniciativa que está a ser desenvolvida pela AMVIRO nas escolas em coordenação com os professores, a Polícia de Trânsito, Instituto Nacional de Transporte Terrestre (INATTER) e autoridades municipais para adoptar as crianças de conhecimentos básicos sobre a forma correcta de atravessar a estrada e domínio alargado sobre as regras de trânsito.

Nhampossa justifica o desencadeamento desta iniciativa, que não é de todo nova mas circunscreve-se no ciclo de interesse pela segurança rodoviária e incrementa comportamentos positivos e aprendizagem num contexto de entretenimento musical, pelo facto de apesar do número de atropelamento de crianças até 15 anos ter diminuído de 25 para 23 por cento no primeiro semestre ainda ser bastante alto.

No dia 8 de Maio lançamos a campanha “Grito das Crianças: papás, não nos atropelem, queremos crescer saudáveis e em paz”, na escola de Macuti, na cidade da Beira. Em Junho e Julho arrancamos com a réplica nacional. A campanha já passou pela Escola Primária Unidade-2, na cidade de Maputo; epela escola 31 de Janeiro, município da Matola, pela escola Eduardo Mondlane, na cidade da Beira e Os Belenenenses, na cidade de Nampula”, narrou.

De referir que a AMVIRO está activa nos Jogos Desportivos Escolares que terminam hoje na cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, no âmbito da segurança rodoviária.

André Matola
matolinha@gmail.com

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