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Governo sem manobras para reaver dinheiro emprestado

Por admin

As autoridades governamentais do distrito de Gondola, na província de Manica, andam sem espaço de manobra para recuperar os valores atribuídos aos beneficiários do Fundo Distrital de

 Desenvolvimento (FDD).

Tudo se complica por ainda não haver um instrumento legal que abra espaço para cobranças coercivas. Por isso, alguns beneficiários deste fundo vão se furtando às suas obrigações.  

Pelo que se sabe, desde 2007 até ao ano passado, o governo distrital de Gondola aplicou 46.567,700,00 meticais para o financiamento de 909 projectos, dos quais 354 de produção de comida e 555 de geração de renda.  A acção resultou na criação de dois mil e 312 postos de trabalho, tendo beneficiado, directa ou indirectamente, a dezasseis mil e 752 indivíduos.

Este ano, de acordo com dados em nosso poder, naquele distrito, por sinal o mais populoso da província, foram aprovados 213 projectos orçados em 7.325,611,80 meticais. Metade deste valor já foi entregue aos mutuários. Dos projectos em referência, 116 são de geração de rendimento e os restantes de produção de comida, cobrindo onze associações e 202 singulares.Espera-se que sejam criados 391 novos postos de emprego.

O sector de agricultura é que aparece com mais proponentes, 108, seguido de comércio com 80, indústria, 17, e pecuária com menos de uma dezena. Os mesmos dados ilustram que 157 homens e 56 mulheres passarão a ter emprego este ano como resultado da aplicação do FDD.De salientar que, no plano deste ano, 41 jovens com projectos de alívio à pobreza serão receberão o dinheiro do FDD.

Numa visita feita aos beneficiários dos “Sete Milhões” no distrito de Gondola, o nosso jornal constatou que, em termos de actividades parece estar a ser feito pouco para prosperar, ou seja, quase nada se viu que justifica os investimentos que duram há seis anos, altura em que o Governo decidiu alocar o dinheiro aos distritos. Alguns cidadãos, não canalizaram um centavo sequer aos cofres do Estado. Quando questionados, defendem-se, com muita frieza, alegando que receberam e tentaram investir, mas faliram porque  o valor não foi suficiente para cobrir todas despesas.

Um dos exemplos concretos vem do pastor Tamai Mussito Sande, que recebeu em Agosto do ano passado, cinquenta mil meticais dos 250 mil que havia pedido. Disse que investiu na criação de galinhas para produção de frango, abriu uma padaria e uma banca fixa.

O aviário fechou as portas porque as galinhas foram atacadas por uma epidemia e a padaria também por falta de lenha. A única viatura pertencente ao pastor, com a qual transportava lenha avariou. O que funciona neste momento é apenas a banca fixa. Num ano, aquele mutuário devolveu somente três mil meticais do valor atribuído. Ele promete reabrir o aviário e a padaria a partir deste mês de Agosto. Segundo ele, só assim é que poderá acelerar o pagamento do montante em dívida.

Recebi pouco dinheiro. Pedi 250 mil meticais e deram-me apenas cinquenta. Quando me aconteceram os infortúnios, informei às estruturas locais que compreenderam a minha situação”, disse Tamais Sande. Inicialmente, segundo contou, empregava cinco pessoas. Depois do encerramento das duas unidades de produção, o número reduziu para dois que neste momento trabalham na barraca fixa.

Em situação similar encontramos uma carpintaria, onde conversámos com o proprietário que se identificou como Luís Mairosse. Referiu que produz mobília diversa e em quantidades elevadas. O constrangimento com que se debate neste momento que o leva a não reembolsar os valores é a falta de mercado para a venda do seu produto.

Segundo disse, pedira trezentos mil meticais, mas sem saber as causas, recebeu apenas 40 mil meticais que, adicionados a outro dinheiro que tinha, tentou investir, sendo que agora tem mercadoria estagnada, o que concorre para que não consiga proceder à devolução.

Se me tivessem dado o valor que pedi, meu plano era trabalhar e levar a mercadoria para vender noutras províncias. Isso não aconteceu, tenho as coisas feitas e agora não há comprador. Aqui na vila de Gondola o movimento é muito reduzido. Tenho mobília para sala, quarto e cozinha. Mensalmente só consigo vender uma ou duas peças. E isso não ajud,a porque tenho outras despesas para além de devolver o dinheiro, lamentou-se Luís Mairosse.

NEM TUDO VAI MAL

Mas nem tudo vai mal. Num outro empreendimento, recebemos uma boa nova. José Bernardo fez-nos entender que o seu projecto anda às mil maravilhas. Recebeu 50 mil meticais do FDD no ano passado e investiu na criação de galinhas para produção de frangos. Construiu uma capoeira onde meteu, numa primeira fase, trezentos pintos. Agora aumentou a capacidade para quinhentos. Tem um trabalhador e o frango é vendido localmente. O sonho deste mutuário é continuar a crescer para atingir patamares mais altos e concorrer com outros produtores existentes na província.

Estamos a caminhar bem” referiu o nosso entrevistado com um semblante alegre. “O nosso sonho”, continuou,“é chegar mais longe. Começamos com trezentos pintos. Agora passamos para quinhentos. Quem sabe, qualquer dia havemos de concorre com outros criadores de referência”. E continua a sonhr:“mais tarde pretendemos nos estender para outras zonas da província e qualquer dia cobrir o país todo”.

E na área da agricultura as coisas, também, vão bem. Há sinais de prosperidade dada as potencialidades agro­-ecológicas que o distrito apresenta.

O senhor Patrício Avelino Alficha, um dos produtores de renome, testemunha isso. Explicou-nos que recebeu cinquenta mil meticais do FDD em 2010.   Apostou na agricultura e produz cereais, hortícolas e ananás numa área de cerca de seis hectares. Antes de obter o valor tinha apenas dois hectares. Com a venda do ananás consegue sustentar a sua família e comprou uma viatura para além de possuir moagens. O produto é vendido dentro do distrito de Gondola, na cidade de Chimoio e em outros cantos do país. Sem avançar o montante, garantiu-nos que está a devolver o dinheiro e que dentro de poucos anos poderá livrar-se da dívida.

“ Nós estamos a trabalhar. É que as pessoas devem saber que o governo, quando atribui esse dinheiro não é para ser esbanjado. Há que investir seriamente nos projectos que temos, porque, caso contrário, só havemos de arranjar problemas”apelou aquele produtor.

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