Opinião

GERAÇÃO SEM REFERÊNCIAS = GERAÇÃO FAZ- DE- CONTA

“Até quando vós inexperientes, continuareis a amar a falta da experiencia? Até quando, continuareis a odiar o conhecimento?” Pv 1:22

Nos tempos que já lá foram com o tempo, os nossos artistas, (poetas, cronistas e cantadores), pintavam, escreviam e cantavam a nossa história, as nossas “estórias”, o nosso dia-a-dia, o nosso quotidiano. É por isso que muitos deles tiveram de pagar com a sua própria vida. Que o dissessem Malangatana, Craveirinha e Fany Mpfumo. Que o diga Luís Bernardo Honwana. Canções imortais como “loko wohlula Fany u hlule Tingonyama uta teka tiko idrako”, (se derrotares Fany, venceste leões, ganharás a terra, é tua). A PIDE não gostou desta canção nem da pintura surrealista do Malangatana e muito menos do “Xigubo” do Craveirinha. Xidimingwana, José Mukhavele, os Gorowane, Magid Mussá, alguns e algumas que ainda seguem essa linha literário-melódica, também cantam o nosso dia-a-dia. Talvez por expressar-se numa das minhas línguas maternas (tive três em simultâneo: Txi Txopi, Gi Tonga e Xitswa), Magid Mussá ressuscitou em mim, através duma das suas últimas composições “Doutor faz-de-conta”, a minha sempre jazente auto-estima por aquilo que é nosso, aquilo que é genuinamente moçambicano/africano. A culpa foi do falecido marido da minha mãe, que transmitiu-me a inculturação (a relação da fé com as culturas, num diálogo de enriquecimento recíproco). Vendo-se obrigado pela assimilação a dar cada um dos seus catorze filhos nomes judaico-cristãs, não obstante, logo à nascença, rotulou cada um da sua progênie, um nome gentílico, aquele cujo significado dizia respeito à sua (nossa) tradição. Txirhengele, (Caco, fragmento de um objecto de barro), Dzivatako, (Saiba o que é teu, olhe para a tua vida), Vathuni, (Casa da gente, Lar de muitos), Masoakomide, (Visão Curta, Vista curta), etc., etc.. São nomes que significam algo natural, palpável, tal como acontece com nomes portugueses (por exemplo Madeira, Rosa, Pinheiro, Machado, por aí adiante). É que naquela época, dar nomes como Nyankwave, (Princesa); Wutomi, (Saúde); Nyeleti, (Estrela); Nzuma, (Céu), era uma “blasfémia” para os “Tugas”. As Conservatórias dos Registos, dispunham de listas onomásticas com os nomes aprovados pelo regime de Salazar, sem os quais o registo não se efectuava. Hoje já livres e desimpedidos de imposições nominais, caímos no exagero tal que, já não há preocupação por parte dos nossos prosadores, dos nossos poetas e dos geradores de filhos. Quanto mais monótona for a letra da canção, quanto mais “insignificante” for o nome da criança, melhor orgulha-se o autor. Basta que se tenha a alma de escritor, e ou de cantor. Basta gerar uma criatura. Enquanto o nome de uma criança representava muita coisa na continuidade da família, hoje quanto menos ligação tiver com nomes da família, melhor se sente felizes os progenitores. Nomes como Kelly, Seleida, Amável, Cuca, Bucetildes, Himineu, só para citar como exemplos, de cujo género dificilmente pode se saber à primeira vista, (se masculino ou feminino), se são os que estão na moda. Letras de canções repetitivas e a priori sem nenhuma graça, mas desde que o seu autor, (sobretudo autoras), estejam semi-nuas, mostrando tudo o que está de baixo-ventre, são os que estão na moda. “Eu sou boa, eu sou boa, boa, boa, boa, boa”, “levanta a tua saia, a tua saia, saia, saia, saia”; “teka xa mina, naha ya wena, teka xa mina, naha ya wena” (leva a minha, dá-me o teu, leva a minha, dá-me o teu”. Caso para perguntar: que raio de geração é esta? Para onde nos leva esta geração “Café com Leite”? Onde anda a personalidade desta gente? Onde anda a sua auto-estima? Não será esta geração de doutores “Faz-de-conta” cantada pelo nosso prosador Magid Mussá!?”. Quem entrevista a ele para melhor esclarecimento? Mesmo assim, eu, concordo ele.

Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com

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