A Fome ameaça fazer vítimas em Nacumua, no distrito de Metarica, em Niassa. A população local pede socorro e avisa: se não forem tomadas medidas urgentes no sentido de os governos distrital, provincial e central providenciarem alimentos para aquela zona, muita gente vai morrer antes da próxima colheita.
O governador Arlindo Chilundo respondeu, de imediato, ao pedido, garantido que dentro de poucos dias o apoio alimentar vai chegar, não precisando, entretanto, o tempo e as quantidades a disponibilizar à Nacumua, um dos povoados mais desprovidos de comida e água daquele distrito do sul da província mais extensa de Moçambique.
Enquanto isso, Alberto Muahere, a pessoa que despoletou o assunto, explicou, em comício popular, orientado por Chilundo, as razões da presença da fome, afirmando que a queda excessiva de chuvas prejudicou as culturas agrícolas, incluindo as de rendimento, nomeadamente o algodão, o gergelim e o tabaco.
Neste momento, de acordo com João Muteya, que falou ao domingo, à margem do comício popular, algumas famílias têm uma única refeição por dia, havendo outras, segundo ele, que sobrevivem graças às mangas que abundam nesta época do ano.
Nesta altura em que estou a falar, há pessoas que estão noutras partes da província à procura de alimentos, vendendo a sua própria força de trabalho em troca de algumas chávenas de milho ou feijões, vincou.
Por sua vez, as autoridades ligadas ao sector agrícola na província de Niassa reconheceram a existência de fome em algumas zonas da província, justificando que a paragem repentina de chuva – a partir de Fevereiro – prejudicou a segunda época que, regra geral, tem ajudado a salvar o problema da insegurança alimentar causado pela escassez de alimentos, na primeira época.
Por ironia do destino, a falta de alimentos não está só. Está associada, igualmente, ao problema da falta de água potável. Centenas de pessoas percorrem vários quilómetros para atingir um furo de água, sendo que a solução, em alguns casos, passa pela procura deste precioso líquido nos poucos rios que, neste momento do ano, estão com água turva, onde também, os animais matam a sede.
Sem comida e sem água, não sabemos o que vamos fazer nos próximos meses que faltam para a campanha de colheita começar. Não se consegue ficar muitos dias sem água, pedimos que o problema seja resolvido com o aumento de fontes de água e a reparação daquelas que se encontram avariadas há muito tempo, queixou-se Feniasse Somari, ao mesmo tempo se congratulava com algumas realizações de vulto do governo, nomeadamente telefonia móvel, vias de acesso, expansão de redes sanitária, escolar e energia da rede nacional nas sedes distritais, entre outros investimentos.
Em Mecanhelas, Cuamba e Metarica, locais por onde o governador Chilundo passou recentemente, a palavra fome foi muito referenciada pela população local, fazendo crer que a situação é tão grave do que se pensava. Aliás, toda a zona sul da província está afectada, juntando-se os distritos de Nipepe e Maúa.
Por sua vez, Ema Saíde, directora das actividades económicas de Metarica, reconheceu que o problema da fome se faz sentir com maior acuidade nas zonas onde a segunda época não resultou, devido à escassez de chuvas. Disse, entretanto, que para a próxima campanha, o governo está a ponderar o aumento dos insumos agrícolas para garantir que no próximo ano o fenómeno não se repita.
Recorde-se que, para resolver o problema da fome em Niassa, muitos distritos aumentaram as áreas de produção na presente campanha, visando superar as quantidades de alimentos perdidos por fenómenos naturais durante a época agrícola passada, sendo que as zonas baixas serão exploradas com maior intensidade.