Início » Extensões de cabelo: a mania da cabeça das mulheres

Extensões de cabelo: a mania da cabeça das mulheres

Por admin

Os cabelos têm um valor indiscutível na vida das pessoas. Eles protegem, compõem a moldura do rosto e embelezam. Falam diferentes línguas e respondem às exigências sócio-religiosas, até mesmo políticas, e às artísticas. Fazem parte da natureza do Homem, mas nem sempre geram satisfação. Inconformados com o cabelo original, alguns indivíduos, especialmente mulheres, recorrem aos artifícios que vieram com o tempo: as extensões de cabelo.

Esta tendência chegou a Moçambique há já algum tempo com poder de contaminar. Parte considerável de mulheres entrou na onda das extensões. Mas o que leva a que tanta gente mergulhe nesta tendência?

Para responder a esta e outras questões, as escolhas do domingorecaíram sobre algumas pessoas. Ester Cumbane (Telma, nos meandros artísticos), conhecida como Rainha das Extensões, foi uma das eleitas. Telma é dona de um salão de cabeleireiro onde funciona também uma boutique. Vende todo o tipo de extensões: em saia, para plantar cabelo por cabelo e, também, as próteses.

Afirma que foi ela quem introduziu, pela primeira vez em Moçambique, as extensões para serem comercializadas. “Foi há 12 anos, trouxe-as de São Paulo, eram 100 peças que evaporaram em pouco tempo”.

Quando se fala de cabelos para a venda, Brasil parece ganhar a fama, mas há-os, também, nos Estados Unidos da América, na Índia, Tailândia e na China, e existem em dois tipos de extensões: as sintéticas e as humanas.

As sintéticas são feitas de uma mistura de queratina e plástico e imitam o cabelo natural; existe também em cabelo humano que é doado por pessoas. Esta costuma ser mais cara, em relação à primeira”, explica-nos Telma. 

Até um passado não muito recente, as peças de cabelo custavam os olhos da cara. Mas, actualmente, o preço destas maravilhas parece não mais constituir problema para o bolso das mulheres. Todas podem alongar o cabelo, desde a artista que trabalha com o seu visual, passando pela mulher com posses, até aquela que, teoricamente, não ganha muito dinheiro. Exemplo disto é Dora Magaia, arrumadora de carros, residente no bairro de Chamanculo.

Plantou extensões de cabelo, por curiosidade e para tornar o seu dia-a-dia mais prático. “Queria experimentar um tipo de cabelo que não me fizesse perder tempo. É que é difícil cuidar dos cabelos crespos, exige muita ginástica para deixá-los nos trinque, ademais sinto dores ao passar nele o pente”. Dinheiro para adquirir o novo cabelo até foi salgado: “paguei 2500 meticais, em prestações. Mas não me arrependo”.

BELEZA EM PRIMEIRO LUGAR

Parece estar claro que quem alonga o cabelo tem as suas razões. Entretanto, ao fazermos esta reportagem, partimos do pressuposto de que as razões estéticas aparecem em primeiro lugar, o que foi corroborado em outras conversas que domingo teve com mulheres como Salma Honwana, residente no Bairro Central.

Salma começou a pôr extensões de cabelo “há muito anos”. Chama atenção quando diz que, sem elas,“sinto como se faltasse alguma peça que cobre o corpo”. O seu cabelo original, definitivamente, perdeu a vez, e tudo indica que nunca mais a terá: “Já não me sinto bonita de cabelo natural, quando tiro as extensões só consigo ficar no máximo vinte e quatro horas. Não mais que isso!”.

Afirma ter feito algumas loucuras para ter o cabelo dos sonhos. “Paguei vinte mil meticais, correspondente a uma cabeça e meia e não me arrependi!”. No seu stock tem uma, duas… sete peças diferentes: cacheadas, onduladas e lisas. Contudo, “pretendo ter mais, até porque no futuro a minha filha, ainda pequena, poderá usá-las para ficar mais bonita. As extensões deixam a mulher linda, sem dúvida!”, considera.

Assim sendo, o cabelo leve e comprido, parece ser o escolhido. Seria, então, mais bonito que o crespo? “Não necessariamente”, dispara, “o que ocorre é que, pessoalmente, acho que o cabelo dobranco realça a minha beleza”.

Sobre esta questão conversamos com Juvenália Muthemba, Deputada da Assembleia da República, pela bancada da Frelimo. Questionada sobre o que poderá estar a mover as moçambicanas, especialmente as negras, a colocarem cabelo do branco Muthemba afirma, em conformidade com Salma, que quem o faz pretende mudar a sua aparência. E, concomitantemente, “assistimos a uma tendência de copiar o outro e/ou de seguir a moda”.

MARCAR A AFRICANIDADE

 “O nosso cabelo é crespo, mas bonito. O negro é bonito, genuinamente”, defende Juvenália Muthemba. Assim sendo, considera que introduzir traços diferentes no ser do negro é arranhar a sua essência, deixando de lado o intróito de reforçar a africanidade. Entretanto, esclarece que não é contra quem adopta os cabelos longos e leves, mas “não aprecio! Como disse, nós somos africanos e a nossa essência é marcada pelas nossas próprias características”.

Mesmo assim, cada vez mais, as mulheres moçambicanas parecem marginalizar essa ideia. Silsa Mabuie, estudante universitária e residente no Belo Horizonte, afirma que não gosta do seu cabelo: “não gosto do meu próprio cabelo, não me sinto tão bonita, como me sinto quando coloco extensões”. Porém, essas extensões devem ser de cabelo leve. As mechas, com as quais igualmente se consegue fazer tranças de todos os comprimentos, não resolvem o seu problema estético. Ao longo da conversa, Silsa chama atenção para o facto de algumas pessoas precisarem de reforçar o seu cabelo por razões que vão além da beleza: as quedas do cabelo (alopecia) e/ou falhas no couro cabeludo.

INSPIRAM ALGUNS CUIDADOS

Se, por um lado, as extensões de cabelo podem camuflar falhas no couro cabeludo, por outro, podem criá-las, e Silsa Mabuie confirma. “Já sofri queda de cabelo, fiquei algum tempo fazendo tratamento, mas sem retirar as extensões para cuidar desse problema”.

Sobre esta questão, a esteticista Dionilde Igreja, funcionária de um Spa, no Polana Serena Hotel, chama à razão ao afirmar que a Saúde deve estar sempre em primeiro lugar. “É verdade que as extensões realçam a beleza da mulher, e talvez por isso viciam, quem as coloca uma vez não quer mais tirar. Elevam a auto-estima, alteram o semblante e o interior, mas há que dar prioridade à saúde. Muitas vezes, as profissionais de cabelo carregam a culpa, por plantarem estas peças de forma incorrecta. É que existem técnicas apropriadas que evitam que a pele seja machucada, afinal o couro cabeludo é muito sensível”.

De qualquer forma, o desejo de acompanhar as tendências actuais faz com que o cabelo crespo não caia no regalo das mulheres. Mesmo assim, Dionilde Igreja defende que “com o cabelo crespo e curto é possível conseguir um resultado esplêndido em termos estéticos”, bastando para tal saber fazer o penteado certo, em tranças ou penteando-o.

Comummente, os cabelos crespos são atribuídos à pessoa de cor negra, já os lisos, aos indivíduos alvos. Seja qual for a lógica, há que considerar que os tempos foram mudando e satisfazendo as vontades do homem em relação aos seus fios de cabelo. Hoje em dia, é possível vencer a natureza e implantar cabelos longos e lisos ou ondulados ou ainda cacheados em uma cabeça onde nasce cabelo crespo e curto.

Ser africano não se reduz

a negro de cabelo crespo

– Patrício Langa, Sociólogo

Em conversa com Patrício Langa, sociólogo e docente da Universidade Eduardo Mondlane, cimentamos a ideia de que a indumentária e os cabelos são elementos a tomar em conta quando se toca na história de diferentes povos. Em países árabes, o uso da burca e véu é um aspecto marcante, que os identifica. Quanto aos cabelos, a natureza de alguns remetem a um dado grupo. Por exemplo, os eslavos, seus cabelos não são nem totalmente claros ou louros, são levemente avermelhados. 

Com efeito, mesmo considerando o facto de a humanidade ser dinâmica, feita de cruzamentos, de encontros e desencontros, não se descure a existência de formas de se apresentar de acordo com a religião ou com qualquer outro elemento que une um dado grupo. “Qualquer grupo tem elementos identitários que os distinguem dos outros”, aclara.

 Questionámo-lo sobre o uso de extensões de cabelo, em especial pela mulher moçambicana negra de cabelos crespos e curtos. Poderia, esse facto, trazer alguma reacção hostil por parte dos elementos conservadores, que defendem que o negro deve permanecer com os traços que o identificam? Cauteloso, Langa afirma que qualquer avaliação e/ou julgamento feito em torno desta questão “pode ser problemático, porque reduz África à ideia de que o africano é igual à pele escura e ao cabelo crespo. É que, na verdade, “o que faz crer que somos africanos não se cinge aos elementos fenótipos”, ou seja, às características ou caracteres que têm a ver com propriedades bioquímicas ou fisiológicas e de comportamento.

Mesmo assim, reconhece que diferentes elementos, incluindo o cabelo, podem ser considerados um traço importante e exigível para um determinado grupo, se se considerar que os seus membros devem se apresentar de maneira adequada ou conformada com os seus princípios.

Mas, há que considerar que a grande circulação de informação ou de ideias, permite fazer chegar a diversidade de maneiras de ser e estar, o que pode contribuir para a tolerância ao novo e/ou ao incomum. 

Mudanças respondem

 ao desejo de ser bela

– Quitéria Mabasso, Psicóloga

Em conversa com o domingo, a psicóloga e docente universitária, Quitéria Mabasso, esclarece que o acto de mudar de cabelo tem a ver com “aquilo que é o imaginário de beleza de muitas pessoas. Pode ser que o cabelo do branco seja visto como o ideário de beleza, daí a vontade ou necessidade de uma mulher negra de cabelos crespos e curtos estender o seu cabelo”.

A psicóloga esclarece que esse facto não tem nenhuma ligação com algum distúrbio mental, “a não ser que essa pessoa nunca se veja sem esse cabelo; não saia de casa em situações de insuficiência financeira para satisfação visual; não vá trabalhar, ou seja, quando há interferência na sua rotina. Mesmo assim, há que ser feito um diagnóstico correcto para não cair em equívocos; são vários sinais que devem ser tomados em consideração, e os familiares e/ou pessoas muito próximas são importantes nesse momento para os detectarem”.

Mas o que leva à guerra com a própria imagem? “Depende de muita coisa, mas o básico é a incapacidade de olhar para sim mesmo e dizer estou bem assim! Quando a pessoa não tem recursos psicológicos e emocionais para se aceitar”.

Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana