Opinião

EM CA DA ESQUINA, PAIRA O ESPECTRO DO CRIME

“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela”(1 Samuel 12:6).

Ao longo de muitos anos, eu ia no mínimo três a cinco vezes ao ano visitar a minha falecida avó, a pé e a qualquer hora de dia ou de noite, a partir da vila-sede do distrito à povoaçãozinha que me viu nascer e que pela última vez irá, mais cedo do que tarde, receber e sepultar aquilo que serão os meus restos mortais ali onde jazem os dos meus ancestrais (avós e pai). Eram dezassete quilómteros em corta-mato, e não havia nenhuma estrada que ligasse a vila àquele meu “berço-mausoléu”, senão aquele carreiro. Apesar de ter de embrenhar e atravessar uma densa floresta, não havia que temer nada. As pouquíssimas escolas de artes e ofícios de então, destinadas a estudantes indígenas, ainda não dispunham e nem ministravam cursos, profissões ou ofícios como os de “assaltantes à mão armada, bandidos armados, violadores de mulheres, violadores de túmulos, violadores de menores, traficantes de órgãos humanos, caçadores de albinos, raptores profissionais, homens-catana e esquadrões de morte”. O único temor naturalmente justificável  era a possibilidade de se esbarrar com algumas manadas de búfalos da mata de Txitshotswe, e ou hipopótamos do lago Phwelela, que, vezes sem conta, abandonavam os seus “tugúrios” e devastavam as machambas dos camponeses que, aproveitando as margens férteis da desembocadura do Rio Nyadhimi e o Lago Phowelela, plantavam algumas hortícolas ou mesmo milho e mandioca. Tirando isso, viajava-se sem nenhum sobressalto. De dia, caminhava-se ao som da melodia das aves (e.g., rolas, rouxinóis, xiricos, toutinegras, perdizes, pintassilgos), e de muitas outras já extintas. Fosse  de noite, o cricrilar dos grilos e o ulular  das hienas esfomeadas, ou o piar dalgumas corujas e mochos, brindavam-nos com as suas “agoureiras” vozes. Lá todos  nos conhecíamos, e, quando um desconhecido escalava a nossa aldeota, era imediatamente identificado pelo seu rastro. Hoje, já se vai de carro da vila ao meu lugarejo numa nova estrada de terra batida de cerca de trinta quilómetros percorridos numa hora, só de dia no período que vai das seis às dezassete horas. Fora desse período já ninguém utiliza o corta-mato, porque o percurso, agora livre de hipopótamos, búfalos e hienas, dizimados pelo Homem, agora, em cada ladeira, em cada atalho, o perigo de alguém perder a vida aVIDA, esse dom precioso oferecido somente pelo “Arquitecto do Universo”, é iminente. Não só a caminho da minha vetusta aldeola, mas em todo o território nacional, actualmente, em cada esquina, em cada beco ou em cada viela, paira o espectro da morte. As cenas do crime são reportadas diariamente um pouco por toda a parte.As noites (e mesmo os dias) já são dominadas por profissionais de delito, munidos de um terrível e assustador arsenal, com todo o tipo de instrumentos de agressão: “AKM”, “AK47”,  pistolas,  catanas, paus, chaves de fenda, chaves francesas, pés-de-cabra, gazuas e outros tipos de chaves falsas. Muitas outras circunstâncias podem ser apontadas, algumas relevantes, outras coadjuvantes de uma realidade que vem num crescendo, já bem próxima à ferocidade de um “Tsunami”, porém para mim não é tão difícil apontar a principal causa que desencadeia um crescimento acelerado da violência que assola o país: a manutenção e proliferação de armas de fogo em mãos alheias.Sem ser de forma coerciva, não acredito numa entrega voluntária por parte de quem embora a possua indevidamente, tem nela o seu ganha-pão. FDS, salvem-nos, por favor!

Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com

One Comment

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