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De fonte de renda familiar a garantia de emprego para jovens

por admin

Na zona sul da província de Niassa é comum ouvir-se dizer que o algodão é a principal fonte de rendimento para a maior parte das famílias vivendo em zonas rurais, principalmente. Vezes sem conta, esta cultura, também conhecida por “ouro branco”, leva jovens desempregados, mas formados academicamente, a usá-la como uma actividade lucrativa com a qual se auto-empregam, livrando-se de práticas maliciosas como, por exemplo, o consumo de drogas, álcool, vadiagem, entre outros males que afectam a juventude nos dias que correm.

Com o efeito, o governo provincial e a Sociedade Algodoeira do Niassa, SAN, principal fomentadora desta cultura de rendimento, mostram-se entusiasmados com o facto de, nos últimos tempos, o algodão estar a contribuir positivamente no crescimento da economia local, ao se tornar um dos principais produtos de exportação da província de Niassa.

Sobre o assunto, o director geral da SAN, Manuel Delgado, revelou ao nosso jornal que, depois de um período menos bom, que caracterizou a campanha anterior, este ano, a produção superou as expectativas. O número de produtores envolvidos cresceu substancialmente, com destaque para a parte sul da província, onde esta cultura é tradicionalmente praticada.

Enquanto isso, Delgado revelou que até ao fim da presente campanha a sua empresa vai investir mais de seis milhões de dólares norte-americanos na comercialização de pouco mais de 14 mil toneladas de algodão caroço, aos quais se somam os outros milhões de meticais gastos por aquela empresa na compra de insumos agrícolas para o apoio aos camponeses, nomeadamente sementes, enxadas, catanas, tractores, pesticidas, sacos, entre outros.

A nossa fonte revelou que a presente campanha de comercialização iniciou cedo, em Maio, contrariamente ao que tem sido hábito. Tal, segundo Delgado, deve-se à necessidade de comprar todo o algodão dos camponeses antes de se deteriorar.

“A opção de comprar, cedo, o algodão tem a ver com as novas exigências dos mercados, tendo em conta a necessidade de processá-lo em tempo útil para garantir a qualidade que é exigida pelos mercados nacionais e internacionais”, explicou aquele gestor, que insta os produtores a conservarem o “ouro branco” durante o período em que este se encontra no processo de manuseamento.

De acordo com a fonte que temos vindo a citar, a Sociedade Algodoeira do Niassa iniciou este ano o fornecimento da fibra de algodão à Riopele de Marracuene, uma unidade têxtil recentemente inaugurada pelo Presidente da República, Armando Guebuza, durante a última edição da Feira Internacional de Maputo, FACIM.

SAN NO MERCADO JAPONÊS E EUROPEU

Manuel Delgado deu a conhecer que mercê do reconhecimento dessa qualidade a sua empresa conseguiu entrar no mercado japonês, considerado muito exigente em termos de qualidade.

De referir que a qualidade da fibra do algodão da SAN foi testado internacionalmente, tendo, para o efeito, recebido o BCI (Better Cotton Initiative), um diploma que é atribuído a empresas que trabalham com qualidade, nomeadamente a observância de boas práticas, respeito ao meio ambiente, conservação de terras e água. ”Em resultado deste reconhecimento, estamos agora nos mercados europeus, com destaque para o Reino Unido”, ajuntou Delgado.

Para aprimorar as condições de trabalho, segundo o director da SAN, um grande investimento foi realizado há dois anos, com a construção e equipamento de uma nova fábrica de descaroçamento do algodão, na cidade económica de Cuamba, bem como a aquisição de uma nova báscula e meios circulantes para o transporte do algodão do campo para a fábrica.

A ampliação da fábrica de Cuamba, segundo o director da SAN, fez com que o algodão comprado na campanha anterior, que era de seis mil toneladas, triplicasse, significando a circulação nas comunidades de mais de 2.8 milhões de meticais.

Vários factores determinaram o aumento da produção, entre os quais o preço de compra ao produtor, a distribuição atempada de insumos agrícolas, a introdução das novas técnicas de produção, assistência técnica disponibilizada pela empresa fomentadora, o uso de insecticidas, entre outros produtos.

ADOPÇÃO DE NOVAS TÉCNICAS

“Os produtores saíram de uma campanha má, no ano passado, em que perderam muito dinheiro. Este ano, com o melhoramento das condições agro-climáticas, os produtores aumentaram as suas áreas de produção, daí terem conseguido alcançar resultados encorajadores”, reconheceu Manuel Delgado, quando questionado sobre as prováveis causas que estariam por detrás da grande produção conseguida na presente safra.

Por outro lado, a adopção de técnicas vindas da América Latina, nomeadamente Argentina e Brasil, que consistem na utilização de compasso, veio melhorar o rendimento do algodão.

Prevê-se para a próxima campanha a construção de um bloco de 200 hectares no povoado de Mutetere, no distrito de Cuamba, sendo esta uma das inovações que poderá aumentar a produtividade por hectare.

Manuel Delgado reconheceu, entretanto, que, tratando-se de uma técnica nova de produção, regista-se nas comunidades algumas reticências quanto à assimilação desta maneira de produzir o algodão.

“Nós temos 12 engenheiros agrónomos jovens e motivados, o que faz com que as mensagens sejam disseminadas com insistência até serem acatadas”, sublinhou Delgado, ao mesmo tempo que instava aos produtores mais velhos a seguirem os conselhos dos jovens agrónomos.

Finalmente, o director da SAN reconheceu que a produção do algodão com sucesso só é possível mercê do envolvimento de intermediários – pessoas escolhidas pelos respectivos líderes comunitários – que levam as preocupações dos produtores para a empresa fomentadora e vice-versa. Estas pessoas são depois subsidiadas pela SAN, através de pequenas ofertas, nomeadamente instrumentos de trabalho.

De referir que entre os distritos do Niassa que mais cultura do algodão pratica estão Cuamba, Metarica, Nipepe, Marrupa, Mandimba, Maúa e Ngaúma.

Consultar os produtores

antes de fixar os preços

Florinda Saíde é uma produtora de Etatara, em Cuamba. É conhecida pela sua entrega à cultura do algodão. Mãe de seis filhos, quatro dos quais menores, Florinda conseguiu na presente época agrícola produzir 83 sacos, tendo, segundo ela, ganho o suficiente para alimentar a sua família e colocar os filhos na escola.

Ela diz que praticar o algodão é sua “praia”, cultura com a qual consegue todos os anos arrecadar alguns milhares de meticais. “Construi a minha casa, matriculei os meus primeiros dois filhos na Escola Secundária de Cuamba, onde frequentam a 9ª e 11ª classe, respectivamente”, congratulou-se a nossa fonte, para quem o combate ao desemprego não se faz apenas com o emprego formal.

Entretanto, Florinda não esconde o seu desapontamento quando se decide o futuro dos produtores sem a participação destes. Ela pede a quem de direito para no acto de decidir os preços envolver os camponeses que, afinal, são os principais interessados. “É importante que se revejam os preços todos os anos como forma de harmonizar o factor trabalho/preço justo”, observou aquela camponesa.

O algodão ajudou-me

a criar uma empresa

António Muapua é um jovem empreendedor. Reside em Marrupa onde diz te nascido e dela nunca mais saiu. Depois de concluir a 10ª classe com sucesso e “vaguear” durante três anos, Muapua decidiu abraçar a agricultura, praticando o algodão e o tabaco.

Não tendo conseguido cultivar o tabaco, devido às suas exigências, dedicou-se definitivamente ao “ouro branco”. Segundo ele, no primeiro ano, conseguiu arrecadar 30 mil meticais com os quais comprou algum material de carpintaria para, no ano seguinte, voltar à cultura do algodão. “Desta vez, apostei sério. Consegui 55 mil meticais. Comprei a outra parte do material que faltava, já que a minha aposta era de me tornar um empresário ligado à carpintaria”, afiançou, para depois revelar que neste momento emprega mais cinco pessoas, que sustentam as suas famílias graças ao trabalho que veio do algodão.

O nosso interlocutor disse à nossa reportagem que a sua intenção não é abandonar a cultura que o projectou na vida. Antes pelo contrário, pretende aumentar mais áreas de cultivo de algodão, empregando mais mão-de-obra barata para se tornar um grande produtor de algodão.

Muapua, de 25 anos, leva uma vida regrada. É casado com Isaura Lemula, com quem tem dois filhos, todos menores. “Vamos criar os nossos próprios empregos, não esperando que os sete milhões de meticais façam milagres, e muito menos esperar que o governo produza emprego para todos nós”, convidou Muapua, a terminar.

André Jonas

andremuhomua@gmail.com

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