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A condução eleva-me às alturas!

Por admin

Texto de Carol Banze e Fotos de Carlos Uqueio

Quem vê a escolta do Primeiro-Ministro (PM) voando pelas ruas da cidade de Maputo, não imagina que no comando dos pedais da viatura desta alta individualidade está um motorista no feminino. Seu nome é Albertina Banze. Natural de Maputo, formou-se e entrou para o corpo policial no ano de 1989.

A primeira missão foi como Polícia de Trânsito. Suas apostas e encantos ressaíram desde os primeiros anos de vida: ser agente da lei e ordem era já uma decisão tomada e sacramentada, daí que hoje brinca ao afirmar que “se não fosse polícia, seria… polícia”. A paixão pela velocidade e pelas máquinas sempre corre, de igual modo, pelas suas veias: “A condução eleva-me às alturas!”.

Trata-se de uma mulher e tanto, que quebrou estereótipos e preconceitos, respondendo positivamente a uma solicitação do Comando, através da UPAI – Unidade de Protecção de Altas Individualidades: “precisava-se de senhoras com habilidades ao volante. Fiz a carta de condução e passei! Fui, também, aprovada nesta alta condução”.

Lembre-se que no passado essa lida era marcadamente masculina. Actualmente as coisas mudaram. São vários os factores. Entretanto há que ter em conta que os indivíduos do sexo feminino desabrocharam e, à mais ínfima oportunidade que têm de demonstrar o que valem, assim o fazem. O resultado é bom, aliás, óptimo. O desempenho de Albertina a bordo de um veículo sempre foi de se lhe tirar o chapéu. “Veja que cheguei a trabalhar com o Ministro Pacheco. Ele é muito exigente… se não gostasse do motorista, mandava trocar”.

Reconheça-se, portanto, que transportar altas individualidades exige muita destreza. Com efeito, necessário tornou-se passar por uma reciclagem. “Antes de trabalhar com duas altas individualidades (na altura eram ministros do Interior)primeiro com o ministro Pacheco e mais tarde, durante quatro anos, com o ministro Mondlane, fui motorista do comandante da polícia, como forma de aperfeiçoar a minha condução”.

E com a intenção de tornar ainda mais segura e esmerada a função, Albertina Banze passou por uma capacitação na Casa Militar. “Os treinos eram feitos no ATCM. Usávamos a pista para esticar e fazer as gincanas necessárias para nos tornarmos mais seguros ao volante”, diz-nos.

Actualmente, demonstra a sua mestria transportando o PM, Carlos Agostinho do Rosário. Desempenha esta função desde Fevereiro do corrente ano.

COMO MOTORISTA

DOU-ME 17 VALORES

Na escala de um a vinte valores a motorista do PM atribui-se a nota “dezassete (17). Os outros dão-me vinte valores, mas eu pauto pela modéstia”. Segredo? Qual segredo? “Alio a perícia à condução defensiva”. Até porque precaução precisa-se, ou,“seria difícil safar-me nas travagens bruscas”, revela.

De qualquer modo, Albertina Banze trata o carro por tu. “Quando tenho que esticar, estico. Obviamente, onde a estrada e o código de trânsito permitem”, garante.

A marcha da escolta de Altas Individualidade é de fazer pular o coração. Chega a 140 quilómetros por hora. Haja pé e coragem. De contrário, coloca-se em risco a pontualidade das Altas Individualidades. São vários os compromissos ao dia. É uma marcha feita em coordenação. “Normalmente sou dependente dos outros que vão à frente. Quando eles puxam, tenho que puxar também”. De qualquer forma, não lhe falta a oportunidade de se tornar na maestrina e dirigir a banda. “Quando o chefe afirma estar atrasado para algum compromisso é a minha vez de pressionar. Sou obrigada a apertar os que vão à frente. Esse é o sinal”, revela.

PM GOSTA DE CARRO PERFUMADO

Algumas curiosidades soltas, durante a nossa conversa, levam-nos a perceber que se engana, redondamente, quem pensa que pelo pouco tempo que os dirigentes levam dentro das viaturas protocolares, lhes falta espaço para exteriorizarem os seus desejos. “O meu chefe exige que o carro esteja rigorosamente limpo e perfumado. E olha que não quer ver sequer um mosquito sobrevoando o seu espaço”.

Não obstante o perfeccionismo, Carlos Agostinho do Rosário é descrito como uma pessoa afável e humana: “Não tenho razões de queixa. Sinto-me à vontade trabalhando com ele. Até porque tudo se torna fácil quando“se cumpre à risca o que estiver programado”.

É uma tarefa que Albertina tira de letra: “pessoalmente sou organizada. Tenho a disciplina militar. O facto de ter trabalhado, anteriormente, com pessoas muito rectas também contribuiu para a minha postura actualmente”, confessa.

SER POLÍCIA

ERA SONHO DE INFÂNCIA

Jogar à bola; paixão por carros; desejo de ser polícia…, só para ilustrar, já deixaram de ser argumentos para sustentar a teoria segundo a qual se tratam de elementos ligados apenas a indivíduos do sexo masculino. Hoje em dia, as profissões já não são atribuídas de forma estanque. Há mulher motorista, mulher polícia, mulher presidente, mulher piloto…há também homem cozinheiro, secretário…, ou seja, o mundo transformou-se e abriu espaço para as livres escolhas. Albertina Banze fez a sua.

Desde criança “escolhi ser polícia!”. E teve o apoio de pessoas muito importantes na sua vida. “Não houve nenhuma objecção por parte dos meus pais. Eles apoiaram-me nesse meu desejo. E veja que tenho uma filha polícia, também”. Se não fosse polícia, teríamos hoje em dia, uma… polícia. É realmente uma realização pessoal.

Pena que não tenha, ainda, aprendido a pilotar uma motorizada. “Quando trabalhava como PT, ficava com uma invejazinha de colegas minhas que sabiam andar de moto. É maravilhoso!”, confessa.

Acompanhando a dinâmica do momento, pretende crescer sob o ponto de vista académico. “Tenho a 12ª classe feita, mas pretendo estudar mais, fazendo o nível superior, formando-me em Direito”. O único obstáculo no momento é o tempo “seria-me difícil conciliar o meu trabalho com a escola”. 

MINHA FAMÍLIA

ORGULHA-SE DO MEU TRABALHO

Casada há dez anos e residente no Bairro das Mahotas,Albertina Banze tem quatro filhos “três meninas e um menino”. Trata-se de uma família que se desmonta em elogios pela mãe que tem. “Sentem orgulho por eu desempenhar uma tarefa normalmente masculina”. E é por esse motivo que os amigos dos seus filhos exprimem-se dizendo “eu rendo com a tua mãe!”, revela.

Quanto ao seu companheiro, não poderia ser diferente: “Ele apoia-me, até porque somos do mesmo ramo. É polícia”.

Nos seus tempos livres, Albertina cozinha e cuida de todas as tarefas domésticas. “Faço todos os afazeres domésticos e com competência. Sou mulher, não sou?, brinca. Seu prato predilecto é caril de vaca com amendoim, mas aos domingos não falta frango assado com uma boa xima à mesa, melhor dito, ao ar livre, no seu quintal, no aconchego da sua família. É, também, durante as suas folgas que faz o que a encanta. A bordo da sua máquina pessoal, “levo a minha família para passear. Conduzir dá-me prazer, eleva-me às alturas”. Quando pode, participa em cerimónias religiosas “é importante para pedir a Deus que abençoe os meus passos, a minha caminhada, dia após dia” e também na esperança de que um dia responda às suas preces, realizando o seu sonho de ter qualquer coisa como… uma viatura da marca Range Rover. É o carro dos meus sonhos”, entrega-se. 

Texto de Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br

Fotos de Carlos Uqueio

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