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“Temos de cooperar mais no domínio da água”

Por admin

A capital da República do Tajiquistão, Dushanbe, testemunhou entre terça e quarta-feira últimas como o mundo está preocupado com a problemática da escassez de água, 

sobretudo a potável.

O Primeiro-Ministro moçambicano, Alberto Vaquina, deixou isso bem claro durante a sua intervenção na sessão plenária de alto nível, que teve o condão de prender o auditório, logo no arranque dos trabalhos.

O governante moçambicano enfatizou que “a cooperação no domínio da água e assuntos afins são de importância vital, sobretudo considerando o facto de Moçambique partilhar nove das 15 bacias hidrográficas internacionais na região da SADC, além de ser o país mais a jusante das restantes oito bacias hidrográficas partilhadas”.

“A localização geográfica de Moçambique”, detalhou o Primeiro-Ministro, “coloca o país numa situação de uma grande dependência hidrológica e vulnerabilidade devido à redução na qualidade e quantidade de água que atravessa suas fronteiras como consequência do uso intensivo nos países de montante. Esta vulnerabilidade é também exacerbada pelos eventos extremos que ocorrem no nosso país numa base cíclica, nomeadamente, ciclones, cheias severas e secas prolongadas”.

Prosseguindo na sua dissertação, o Primeiro-Ministro enunciou que foi concluído que existe uma forte correlação entre a ocorrência de eventos extremos e o desempenho da economia do país.

“Esta tendência foi claramente demonstrada pelas cheias causadas pelo ciclone Elline em 2000, e mais recentemente pelas cheias registadas na bacia do Rio Limpopo, no passado mês de Janeiro”, cujo cenário de dor, desespero e destruição foi visto nos quatro cantos do mundo, graças ao trabalho abnegado dos homens da comunicação social.

“Gostaria de aproveitar esta oportunidade para sublinhar a necessidade urgente para a cooperação no domínio da água para o desenvolvimento económico humano. Em Moçambique é nosso objectivo assegurar que todas as pessoas tenham acesso à água potável contra a situação actual em que esta beneficia 60 por cento da população”, disse Vaquina.

Neste contexto, detalhou uma vez mais Alberto Vaquina, “Moçambique tem estado a desenhar e a implementar programas específicos para o abastecimento de água com o objectivo de assegurar que a população, comunidades e famílias tenham acesso directo à água potável”.

Segundo o Primeiro-Ministro, “este esforço, aliás plasmado no Plano Quinquenal do Governo, tem estado a firmar-se na sua plenitude. Por conseguinte, estamos a eliminar o risco de as pessoas serem atacadas por animais bravios, quando vão acarretar água directamente do rio. Ademais, ao providenciar água potável e saneamento adequado também estamos a lutar contra doenças tais como a cólera”.

O Primeiro-Ministroacrescentou“que cientes da dependência dos rios internacionais, Moçambique têm estado, activamente, a assinar acordos para utilização conjunta das águas ou recursos aquíferos comuns tendo em consideração o fluxo ambiental e água para os seus estuários”

ÁGUA NÃO DEVE SER

FOCO PARA CONFLITOS

Numa altura em que se teme que a causa dos próximos conflitos territoriais – que não se querem de todo – poderá ser a escassez de água, dezenas de delegados ao evento, provenientes dos quatro cantos do mundo, levavam consigo uma preocupação de fundo: como cooperar mais e melhor no domínio da água. É que 85 porcento da população mundial vive no lado mais seco do planeta, e 780 milhões não tem acesso a água limpa.

O presidente do Tajiquistão, Emomali Rajmanon, país anfitrião, disse que as nações e países têm de trabalhar em simultâneo para que a água possa estar disponível, quer para que os que a têm em quantidade quer para os que a possuem em quantidade diminuta.

Emomali Rajmanon sublinhou que o seu país, apesar de encravado entre montanhas, é rico em recursos hídricos, facto que justifica o seu potencial no domínio da geração da energia através de barragens hidroeléctricas.

O enviado especial do Banco Mundial (BM) para as metas do desenvolvimento do Milénio (MDGs), Muhmoud Mohieldin, falando durante o evento, disse que “cerca de cinco mil crianças com idade inferior a cinco anos morrem diariamente por causa do consumo de água imprópria e deficiente saneamento do meio para garantir uma higiene básica”.

A conferência, organizada à luz da resolução 65/154 da Assembleia Geral das Nações Unidas tinha como objectivo abordar a problemática da disponibilidade da água em quantidade e qualidade e sensibilizar os estados membros da ONU sobre a necessidade de empreenderem a cooperação no sentido de assegurarem a implementação com êxito da resolução da ONU, que decretou 2013 como sendo ano internacional para a cooperação no domínio da água.

A julgar pelo calor e emotividade com que foram aflorados os temas é caso para dizer que o mundo não quer deixar fugir a pouco água ainda disponível no planeta. Para já, foi cumprida uma etapa conducente à esse propósito.

Maratona de encontros bilaterais

Durante a sua estada em Dushanbe e à margem da Conferência Internacional sobre Cooperação no Domínio da Água, o Primeiro-Ministro, Alberto Vaquina, manteve vários encontros, ao mais alto nível, com os governantes locais, a começar pelo Presidente do Tajiquistão, Emomali Rakhmov; com o Primeiro-Ministro Tajique, Akil Akilov; com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hamrokhon Zarifi, e o da pasta da Água, bem como com o director da Universidade das Nações Unidas.

O acento tónico desses encontros assentou no interesse do Tajiquistão para o estabelecimento de relações diplomáticas entre ambos países. Segundo soube o domingo, o presidente Tajique manifestou satisfação e interesse pelo facto de Moçambique ter participado na conferência, que foi co-organizado pelo Tajiquistão e pelo sistema das Nações Unidas.

No encontro que Vaquina manteve com a segunda figura da hierarquia daquele Estado, o Primeiro-Ministro Akil Akilov, segundo Henrique Banze, vice-ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, ficou patente que, para além da vontade do estabelecimento de relações diplomáticas no mais curto espaço de tempo possível, “começarmos a trabalhar em áreas como gestão das águas”.

 Aliás, este foi um dos problemas levantados na conferência, sobretudo no que se refere à troca de experiência na gestão da cooperação regional sobre a partilha das águas, por um lado, mas também a experiência que deve existir na utilização, no armazenamento e na utilização das águas por cada país.

Tajiquistão tem muitas dificuldades nesse aspecto dado que 93 porcento do território é montanhoso, porém o governo tem de garantir abastecimento de água à sua população.

“Isso implica muito investimento na área de infra-estruturas. Logo há aqui uma experiência que podem aprender de nós e nós também podemos aprender deles, sobre como fazer melhor o abastecimento de água. Aliás,eles acham que Moçambique está muito avançado neste aspecto”, disse Banze.

Neste contexto, o ministro responsável pelo sector da água predispôs-se em receber, o mais cedo possível, moçambicanos que queiram formar-se na área de gestão de águas, bem como troca de delegações entre especialistas moçambicanos e tajiques. Todavia, todo o processo só poderá ser desencadeado após o estabelecimento de relações diplomáticas.

Outra das áreas com bastante interesse para Moçambique é a hidroeléctrica. Aliás, Alberto Vaquina teve a oportunidade de visitar na quinta-feira última a Hidroeléctrica de Nurek, barragem de referência para o Tajiquistão e também da região da Ásia Central, localizada a 70 quilómetros do centro da capital.

“Queremos ver como podemos fazer a troca de experiência, porque eles acham que Moçambique está muito avançado nesse aspecto. A par disso, há muita similaridade entre os nossos países. O executivo tajique mostrou-se também disponível não só na troca de peritos da área da água, mas também ao mais alto nível da esfera governamental”.

Sobre o encontro solicitado pelo director da Universidade das Nações Unidas, o objectivo foi o de renovar o interesse por um estudo que está em curso no nosso país, e respectiva avaliação, para a abertura de um Instituto em Moçambique que possa tratar de questões de estudo e pesquisa sobre como fazer para melhorar a utilização da água.

Estamos abertos a fontes

diversificadas de cooperação

 Alberto Vaquina, em conferência de Imprensa aos jornalistas moçambicanos que o acompanharam a Tajiquistão

O Primeiro-Ministro, Alberto Vaquina, classificou de positiva a participação de Moçambique na cimeira de água, porque além de ter sido considerada notável e boa a experiência do nosso país no concernente à partilha da bacia do Zambeze com os países da SADC, também outros ganhos poderão advir, findas as demarches para o estabelecimento de relações diplomáticas entre Moçambique e Tajiquistão.

“Quanto mais diversificadas forem as fontes de cooperação, quanto mais oportunidades se abrirem para a formação dos nossos quadros, para o nosso empresariado, oportunidades de crescimento, vamos capitalizar tudo isso a bem da nação”, disse o Primeiro Ministro.

Vaquina enfatizou que o país tem também interesse em explorar outras áreas com grande impacto para a nossa sociedade, como a área médica, tendo inclusive efectuado uma visita de carácter exploratório à Faculdade de Medicina localizado na capital, Dushanbe.

“No que toca à Medicina, Tajiquistão tem uma das melhores escolas do mundo. Depois, creio que à medida que formos aprofundando o conhecimento mútuo, poderemos descobrir outras áreas para formação de moçambicanos, tanto na nossa terra como aqui no Tajiquistão”.

No passado, muitos moçambicanos se formaram no Tajiquistão quando o território era parte integrante da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

De referir que Moçambique e Tajiquistão tem múltiplas similaridades como o de ambos países serem grandes produtores de algodão, fabricantes de topo de alumínio, fomentarem a agricultura e estarem presentemente na rota de desenvolvimento, depois de uma guerra civil fratricida que aconteceu nos dois países.

Entretanto, a caminho de Dushanbe, capital tajique, Alberto Vaquina escalou, em trânsito, Istambul, a segunda maior cidade da Turquia, com 15 milhões de habilitantes, onde foi recebido pelo presidente da câmara municipal local e conferenciou com o respectivo governador.

Primeiro PM africano a visitar Tajiquistão

Alberto Vaquina, ao se deslocar a Dushanbe para participar na cimeira da água, tornou-se no primeiro Primeiro-Ministro africano a escalar este país da Ásia Central, por sinal o mais pequeno em superfície (143,100 quilómetros quadrados), que faz fronteira com o Afeganistão ao sul, Uzbequistão ao oeste, Quirguistão ao norte, e a República Popular da China, a leste.

Até ao momento, Tajiquistão não possui nenhuma representação diplomática em África o que pode explicar o baixo nível de relacionamento entre este país asiático e os países africanos.

Os contactos inter-governamentais são realizados nos diferentes centros nevrálgicos da diplomacia universal, nomeadamente, Nações Unidas e Organização do Conselho Islâmico.

Caso os contactos corram a ritmo esperado, Moçambique poderá ser o primeiro país africano a estabelecer relações diplomáticas com Tajiquistão.

Na arena internacional, a República do Tajiquistão é membro dos Estados Independentes da Commonwealth (CIS), Aliança Económica da Ásia Central (SAEA), Cooperação da Organização Económica (OEC) e a Organização da Conferência Islâmica (OIC)

André Matola

Fotos de Alfredo Mueche

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