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“Rotos” a falarem mal do “rasgado” – o complô árabe contra o Irão

Por Idnórcio Muchanga

No passado mês de Setembro, os membros da Unidos Contra Irão Nuclear (UCIN) reuniram-se, em Nova Iorque, para traçar estratégias sobre como derrubar o governo iraniano. Para os representantes da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos (EAU), coadjuvados por representantes dos EUA e de Israel, não há outra solução senão orquestrar uma mudança de regime no Irão. Entretanto, as mesmas acusações que os representantes dos Estados árabes fazem contra o Estado persa podem também ser feitas a eles. Na verdade, todos eles lutam por dominar a região do Golfo Pérsico, em particular, e do Médio Oriente, no geral. É um caso para se usar o adágio popular de que “o roto fala mal do rasgado”.

Os pronunciamentos dos representantes dos países árabes, a sugerir a mudança de regime no Irão, foram feitos num encontro tendente a unir forças para contrariar o Acordo Nuclear Iraniano de 2015. Para o ministro dos negócios estrangeiros da Arábia Saudita, a solução para parar com o programa nuclear iraniano é o derrube do regime vigente na República persa. No mesmo diapasão, o embaixador dos EAU em Washington disse que a “mudança da política externa iraniana depende de uma ‘intervenção’ externa”, e apelou para que os Estados europeus e asiáticos se juntem no isolamento do Estado iraniano.

De entre as acusações feitas ao Irão estão as tentativas do Estado persa exercer influência sobre os Estados árabes da região, particularmente o Líbano, a Síria e o Iémen. No Líbano o Estado persa é acusado de apoiar o Hezbollah, um grupo considerado terrorista pelos EUA e seus aliados, embora este tenha representação parlamentar. Na Síria, desagrada aos Estados Árabes o facto de o Irão estar a apoiar os esforços de Assad para manter-se no poder. No Iémen os Estados árabes da UCIN temem que o grupo supostamente apoiado por Teerão ascenda ao poder, facto que tornaria aquele país um “satélite” do Irão.

Aos dois membros não árabes da UCIN interessa a mudança de regime no Irão por razões próprias. Para o Estado de Israel, é uma questão de sobrevivência. Localizado numa região em que os seus vizinhos lhe vêem como um Estado imposto pelo Ocidente, Israel vê no Irão a maior ameaça à sua segurança. Aliás, o antigo presidente da República persa dizia publicamente ser sua intenção “dizimar Israel” da face da terra. Os EUA, por seu turno, no passado já mantiveram relações muito próximas com o Irão. Porém, a Revolução Islâmica colocou no poder um regime contrário à satisfação dos seus interesses no país. Portanto, a mudança de regime é relevante não só para defender os seus aliados na região, mas também para “vingar” a humilhação passada pela ocupação da sua embaixada em 1979 e pala “crise de reféns” que se seguiu.

Por Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com

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