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‘República da Catalunha’: um sonho perto de se concretizar?

Por admin

Um espaço que equivale a 6 por cento do território espanhol, com 16 por cento da população total da Espanha e um contributo de 20 por cento do Produto Interno Bruto, 24 por cento de impostos e cerca de 7.5 milhões de habitantes, esta é a Catalunha que, no momento, protagoniza uma das fases marcantes da história da Espanha.

O ambiente que se vive actualmente na Catalunha é descrito como de ‘fadiga’, decorrente do actual ‘modelo de governo (de Mariano Rajoy) totalmente desacreditado por ter pouca conexão com as classes populares’, palavras de Joan Manuel Tresserras, docente universitário.

Localizada na região nordeste da Espanha, constituindo uma nação relativamente coesa, com uma língua própria – o catalão – e sua própria matriz cultural, a Catalunha vive envolta em uma consciência de não querer depender da Espanha, querendo, portanto, uma dependência política.

Contudo, ao que tudo indica, tal pretensão se vê dissolvida pelo governo, colocando em causa os objectivos da ‘maioria’ dos catalães de ‘ criar a sua política em relação à sua cultura; língua, bem como uma política exterior em relação à África, aos países mediterrâneos; …’, refere Tresserras. Mais vantagens são aqui convocadas, tais como ‘estar na assembleia da UNESCO, cobrar impostos que serviriam internamente este pedaço do território espanhol’, continua.

TENTATIVA FRUSTRADA

Um lugar tão uno quanto cosmopolita (dados do domingo dão conta que entre 2000 e 2008 a Catalunha recebeu cerca de 1 milhão de habitantes idos de diferentes lugares como a América Latina, Magreb, China, entre outros, falando em Barcelona mais de 900 línguas, sendo 30 línguas com mais ou menos 2 mil habitantes) trata-se de um território que, apesar da dependência em relação ao Governo espanhol, foi um das que mais se desenvolveu na região, possuindo grandes indústrias. Com efeito, uma vez se tornado um território economicamente estável, a Catalunha presenciou um movimento intelectual no século dezanove, chamado de ‘Renaixença’ (Renascimento), com o qual se pretendia resgatar a identidade cultural e o idioma original dos catalães. Este movimento esteve na base da busca pela independência da Catalunha.

Em 1932, conforme avançam estes dados, chegou-se a aprovar um estatuto catalão com a criação de um governo autónomo, reconhecido por Madrid, no entanto essa República durou pouco tempo, uma vez que a ditadura de Francisco Franco, o ‘Generalíssimo’, chefe de Estado espanhol, agiu com uma forte repressão.

O SONHO CONTINUA

Será possível alcançar a independência nos tempos actuais? ‘Sim’, responde Joan Manuel Tresserras, ‘porque a maioria assim o pretende. Desde os anciãos aos mais novinhos. Todos pretendemos a independência’.

Com efeito, várias têm sido as acções, que passam por valentes manifestações que o governo considera ‘ilegais’. E a paga não tarda a chegar: ‘não cumpre compromissos que tem em relação aos catalães; distribui injustamente os recursos’, afirma Joan Manuel.

Como forma de reforçar a sua luta, Artur Mas, presidente do governo Regional da Catalunha, defende a criação de uma lista única de candidatos ‘transversal e forte’, que integre os partidos favoráveis à ‘autodeterminação’, juntamente com representantes da sociedade civil, apelando dessa forma à unidade para seguir os passos estabelecidos para o alcance da independência.

Enquanto isso, bandeiras e outras formas de manifestação são hasteadas em varandas de habitações, reclamando a tão almejada independência.

E mais, no dia dois de Dezembro corrente será realizada uma conferência para explicar o projecto que visa alcançar a autonomia. O ajuntamento será, portanto, pela desobediência de uma legalidade imposta pelo Estado.

Paralelamente, algumas outras vozes catalãs gritam. Edu Silva concorda com a causa catalã, pois ‘sei que terei mais facilidades na minha vida, sob o ponto de vista económico. Poderei dar melhores condições à minha família, minha mulher e minha filha. Uma casa, boa escola’. Mas, para outros, nada melhor que pautar pela indiferença. Ramon Medina prefere ficar alheio a essas movimentações. Até porque ‘ser independente ou não, não muda nada na minha vida. Isso só beneficia os políticos’.

Carol Banze, em Barcelona

carolbanze@yahoo.com.br

 

 

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