Editorial

Profissionais abnegados

Há homens e mulheres deste país que fora de qualquer tipo de holofotes dão o seu melhor para a construção de uma nação mais forte, mais igual, mais promissora e sobretudo próspera. São os chamados heróis anónimos. É assim há anos e eles vão continuar a existir ao longo do tempo.

Desde a passada quinta-feira, o país testemunha o trabalho abnegado dos profissionais de saúde, nomeadamente, médicos, de diversas especialidades, técnicos de saúde, enfermeiros, farmacêuticos e pessoal auxiliar que não têm mãos a medir no Hospital Provincial de Tete para minorar o sofrimento das vítimas da tragédia de Caphirizange.

Aqueles profissionais de saúde não ouvem e nem olham para o tic-tac do relógio. Isto é, a hora de entrar e sair do Hospital Provincial de Tete foi substituído por uma e única preocupação: prestar a todo o tempo maior e melhor atenção aos internados.

Efectivamente, não deixa de ser comovente ver médicos de mão cheia, enfermeiros experimentados, estudantes de saúde, segurando lágrimas no canto dos olhos perante tamanho infortúnio, porque tal e qual um comandante de navio não podem e nem devem ser os primeiros a abandonar o navio e/ou a desfalecer. Pelo contrário, eles tentam transmitir coragem e ânimo para quem de facto já perdeu a esperança e a força de viver.

Está-lhes estampado nos olhos, nos gestos, na voz embargada pela emoção, o quanto querem e desejam que aquelas pessoas se salvem e possam voltar, ainda que passado um período longo de reabilitação e convalescença, às suas famílias, às suas vidas e rotinas. Vivem e sentem a dor e o sentimento de dor dos pacientes que com eles nutrem grande empatia.

As graves lesões que muitos das vítimas sofreram, sobretudo queimaduras profundas, exigem, como fez questão de frisar uma médica especialista, imenso cuidado no seu tratamento e várias sessões de cirurgia plástica, para repor o tecido danificado e consequentemente muito tempo para sarar. É que muitas das vítimas apresentam lesões em cerca de setenta e cinco por cento do corpo, o que torna o trabalho dos especialistas ainda mais delicado.

Estes profissionais abnegados estão a provar para a nossa sociedade a deontologia e competência sempre necessários, o cometimento com o seu trabalho, o alto sentido de responsabilidade e patriotismo, porque efectivamente também é um acto patriótico e humano tentar salvar o maior número de vidas e minorar este luto em que o país mais uma vez está mergulhado.

Épor demais sabido que Moçambique tem brilhantes médicos e não poucas vezes são chamados a emprestar o seu saber em outras unidades sanitárias do globo, onde vão bastas vezes para especialização e em resultado da sua competência técnica são solicitados para colaborar.

Ainda que sabendo que tanto o enfermeiro como o médico estão ambos para o doente e entre eles vigora a cumplicidade profissional, vale a pena recuperar uma parte do juramento de Hipócrates, proferido, por norma, na altura da graduação do médico.

“Eu, solenemente, juro consagrar minha vida ao serviço da Humanidade.  Darei como reconhecimento aos meus mestres, o meu respeito e a minha gratidão.  Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade.  A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.  Respeitarei os segredos a mim confiados.  Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica.  Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza.” 

No hospital de Tete, e, claramente, em outras unidades sanitárias, sente-se e pratica-se o juramento de Hipócrates, por isso vai o nosso apreço a estes abnegados profissionais.

Entretanto, é de anotar o grau de solidariedade que vai crescendo em todo território nacional para com as vítimas da tragédia, bem como para as suas famílias. Este é o espírito que deve caracterizar o povo moçambicano. Sempre fomos de dar a mão a quem mais precisa.

Eis aqui um exemplo que fica. Claro que não é único e nem podia ser. Por isso, vai também o nosso apreço, para todos os profissionais de saúde desta pátria, feita também, pela humildade de muitos heróis anónimos em variados sectores da nossa sociedade.

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