O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) realizou, na semana passada, uma cerimónia simbólica de destruição das suas armas. Segundo o aprisionado líder do grupo, Abdullah Öcalan, o passo “representa uma transição voluntária da fase de conflito armado para a fase de política e direito democráticos”. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, saudou a decisão e considerou que “o flagelo do terrorismo entrou num processo de extinção” e que “décadas de tristeza, lágrimas e angústia chegaram ao fim”. O anúncio do desarmamento voluntário aparenta prenunciar a desistência da luta pela independência do Curdistão. No entanto, o mesmo pode ser visto como reflexo da reinvenção de um grupo que percebeu que mais vale lutar por maior autonomia, num ambiente democrático, do que perpetuar uma luta armada que aparentemente não tem “pernas para andar”.
O conflito entre o PKK e o Estado turco configura-se como um dos confrontos armados mais prolongados da história contemporânea da região do Oriente Médio. Fundado em 1978 sob orientação marxista-leninista, o PKK iniciou a sua luta armada em 1984, com a intenção anunciada de tornar o Curdistão num Estado curdo independente em partes da Turquia, Síria, Irão e Iraque. Após mais de 40 anos de combate, marcado por intensas perdas humanas e repressão política, o grupo anunciou, recentemente, a sua decisão de encerrar definitivamente a via armada e dissolver as suas estruturas organizacionais.
A fundação do PKK ocorreu num contexto de intensa repressão cultural aos curdos na Turquia. No rol de razões que levaram à sua fundação destacam- -se a proibição da língua, nomes e cultura curda na Turquia; a reivindicação de autogoverno nas regiões curdas; a luta contra o capitalismo e opressão estatal; a resistência à repressão militar, em resposta a décadas de perseguição e militarização no Curdistão turco. Inspirado na ideologia marxista, o grupo propunha a revolução socialista e a independência curda. No entanto, a partir dos anos 1990, principalmente após a prisão de Abdullah Öcalan em 1999, o grupo iniciou uma transformação ideológica rumo ao “confederalismo democrático”, promovendo autonomia local. Apesar de sucessivos cessar- -fogos (2009, 2013), as negociações de paz colapsaram em 2015, reiniciando o conflito. Leia mais…