O presidente Alassane Ouattara, da Costa do Marfim, anunciou, recentemente, que vai candidatar-se para um quarto mandato na chefia do seu país. Segundo ele, “mulheres e jovens de todas as regiões da Costa do Marfim e inúmeras vozes anónimas dos bairros, cidades e vilas manifestaram-se” a favor da sua recandidatura. De acordo com o presidente, foi em resposta ao clamor popular e “após reflexão madura” que decidiu voltar a candidatar-se às eleições presidenciais. Tendo em conta o ambiente envolvente, em particular o facto de os principais opositores estarem a ser barrados de se candidatar e, segundo os opositores, a candidatura do presidente violar a constituição, é caso para dizer que Ouattara confirma que padece da “Síndrome do Insubstituível”.
Por “Síndrome do Insubstituível” entenda-se, para efeitos deste artigo, a tendência de líderes políticos — especialmente em contextos autoritários ou de democracias frágeis — cultivarem a ideia de que são indispensáveis para o futuro do Estado, como se somente eles tivessem a visão, a experiência ou a capacidade de manter a estabilidade e o progresso. É um padrão de liderança em que o governante se apresenta — ou é apresentado pelo seu círculo — como a única pessoa capaz de governar eficazmente, mesmo quando os mandatos legais expiram ou quando há apelos claros à renovação política. Algumas das características desta síndrome envolvem o personalismo extremo, onde o Estado se confunde com o líder; o culto à personalidade, muitas vezes alimentando- -se uma narrativa messiânica; a deslegitimação sistemática da oposição, rotulada como incapaz, divisionista ou perigosa; o uso da “vontade popular” como escudo, mesmo sem mecanismos democráticos fiáveis para aferi-la; e o recurso a alterações constitucionais ou interpretações criativas para garantir mandatos adicionais. Leia mais…