A Rússia tornou-se, na semana passada, no primeiro país a reconhecer formalmente o governo dos Talibãs no Afeganistão. Para marcar a ocasião, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia indicou que “acreditamos que o acto de reconhecimento oficial do governo do Emirado Islâmico do Afeganistão dará impulso ao desenvolvimento de uma cooperação bilateral produtiva entre os nossos países em vários campos”. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão, Amir Khan Muttaqi, a mensagem é clara: “esta corajosa decisão servirá de exemplo para outros”. O aparente improvável reconhecimento, tendo em conta que os Talibãs “sempre” foram tidos como párias, e até terroristas, é uma evidência da máxima realista de que “em relações internacionais não há amigos nem inimigos, apenas interesses”. Embora no passado a Rússia tenha colocado os Talibãs numa lista de terroristas, a convergência de interesses mudou a política de Moscovo e hoje o governo dos Talibãs é tido como parceiro de cooperação.
O governo dos Talibãs no Afeganistão não era, até semana passada, formalmente reconhecido por nenhum outro governo a nível internacional apesar de as Nações Unidas o considerarem de “autoridades de facto”. O grupo voltou a tomar o poder no país em Agosto de 2021, quando as forças norte-americanas, que apoiavam o governo internacionalmente reconhecido, se retiraram de forma abrupta depois de duas décadas de ocupação após a invasão de 2001. Moscovo, que classificou a retirada dos EUA como um “fracasso”, apressou-se a tomar medidas para normalizar as relações com as autoridades Talibãs desde então, vendo-as como um potencial parceiro económico e aliado no combate ao terrorismo. O anúncio da semana passada confirma essa visão de Moscovo, ao mesmo tempo que demonstra que a máxima realista de que “em relações internacionais não há amigos nem inimigos, apenas interesses” continua bem patente nas relações internacionais do século XXI. Leia mais…