Internacional

Madiba: o advogado dos Direitos Humanos

Funeral realiza-se próximo domingo. Nelson Mandela dedicou a maior parte da sua vida ao serviço da comunidade. Conhecido e acarinhado em todo o mundo pela luta contra o regime do apartheid, instituído na África do Sul, ‘Madiba' foi durante várias décadas advogado de direitos humanos.

 A sua consciência e a luta que travou neste domínio levou-o a estar preso durante 27 anos na cadeia de Robben Island.

O seu percurso político começou aos 23 anos, quando se mudou para Joanesburgo. Mandela tornou-se advogado e símbolo da luta da resistência não-violenta juvenil. Nessa altura foi acusado de traição e fugiu à polícia. Anos mais tarde, tornou-se o prisioneiro mais famoso de sempre.

PERPÉTUA PARA

O PRISIONEIRO 46664

Durante o julgamento que o levou à prisão, Mandela declarou-se inocente dos crimes de que era acusado, à excepção da luta pelos direitos humanos e pela liberdade. Foi condenado a prisão perpétua a 11 de Junho de 1964 e recebeu o número de prisioneiro 46664.

As paredes que lhe cercaram a vida durante 27 anos não travaram a mensagem que estava em marcha. A África do Sul acabou por deixar cair o regime de segregação racial e abriu portas a um novo modelo social. Libertado em 1990 e nomeado Prémio Nobel da Paz em 1993, Nelson Mandela foi eleito o primeiro Presidente da República negro da África do Sul, no ano seguinte.

Deixou o poder em 1999 e desde então tem levado uma vida mais recatada, também devido aos inúmeros problemas de saúde. Em 2001, combateu um cancro na próstata. A sua última aparição numa cerimónia pública ocorreu durante o Mundial de 2010, realizado naquele país africano.

Nelson Mandela casou duas vezes, a última aos 80 anos com Graça Machel. Ao longo da sua vida teve seis filhos, 20 netos e nove bisnetos.

Ensinou uma nação

dividida a unir-se

– Desmond Tutu

O arcebispo emérito da África do Sul, Desmond Tutu, classificou o seu compatriota e Prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela, que faleceu esta quinta-feira, como um homem que ensinou uma Nação dividida a unir-se."Ao longo dos últimos 24 anos [depois da sua libertação], Madiba ensinou-nos a sermos unidos e a acreditar em nós mesmos e nos outros. Ele foi um unificador a partir do momento saiu da prisão", escreveu Tutu, também vencedor de um Prémio Nobel da Paz e outro herói da luta anti-apartheid, numa mensagem enviada aos órgãos de comunicação social.

Vai guiar os que lutam

pela justiça e pela paz

Dilma Rousseff

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, afirmou hoje que o exemplo de Nelson Mandela "vai guiar os que lutam pela justiça e pela paz", considerando que os brasileiros receberam "consternados" a notícia da morte do ex-presidente da África do Sul. "Personalidade maior do século XX, Mandela conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história contemporânea — o fim do "apartheid" na África do Sul", lê-se numa nota de pesar assinada pela Presidente brasileira, Dilma Rousseff, publicada no portal do Governo do Brasil. A governante brasileira destacou ainda "o combate" de Mandela que se "transformou em paradigma, não só para o continente africano, como para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade" e que "o exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo

Um homem profundamente bom

– Barack Obama

O Presidente Barack Obama classificou Nelson Mandela como “um homem corajoso e profundamente bom”.Numa declaração na Casa Branca, o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos agradeceu à família de Mandela por o ter partilhado com o resto do mundo. “Neste momento devemos fazer uma pausa para agradecer o facto de Nelson Mandela ter existido. Foi um homem que tomou a história nas mãos e apontou o arco do universo moral para a justiça. O seu percurso desde prisioneiro até Presidente personaliza a promessa de que os seres humanos e os países podem mudar para melhor. Deus abençoe a sua memória e o guarde em paz”, disse o Presidente dos EUA. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou nesta quinta-feira que as bandeiras americanas na Casa Branca e em outros edifícios públicos sejam hasteadas a meio mastro até o anoitecer da próxima segunda-feira, em luto pela morte do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela.

Foi um gigante da justiça

– Ban Ki-moon

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, recordou Nelson Mandela como “um gigante pela justiça” que inspirou movimentos de libertação no mundo inteiro. “Estou profundamente triste com a morte de Mandela. Nelson Mandela foi um gigante da justiça e uma fonte inspiração humana. Em todo o mundo muitos foram os profundamente influenciados pela sua luta altruísta em defesa da dignidade humana, da igualdade e da liberdade. Ele tocou as nossas vidas de formas profundamente pessoais”, disse o Secretário-Geral da ONU.

Grande símbolo

contra o Apartheid

– Lech Walesa

O prémio Nobel da Paz Lech Walesa, chefe histórico do sindicato polaco Solidariedade, homenageou Nelson Mandela, que considerou "um grande símbolo da luta contra o apartheid e o racismo". "Um grande homem morreu. Como o pastor Martin Luther King e o arcebispo Desmond Tutu, ele era um grande símbolo da luta contra o apartheid e o racismo, pela igualdade. Assim ficará na memória do mundo e na minha", disse Lech Walesa à agência AFP. Nobel da Paz em 1983, Walesa recordou que graças a Mandela e ao ex-presidente Frederik Willem de Klerk, a África do Sul teve mudanças relativamente pacíficas e pôs fim às divisões entre as pessoas privilegiadas e as outras", sublinhou o antigo presidente polaco.

"Margaret Thatcher acaba de partir. Antes dela foi o papa João Paulo II e hoje Nelson Mandela. Cada um deles trabalhou para quebrar as divisões na Europa ou nas vidas dos povos. Mais um grande opositor das divisões do século XX morreu", lamentou Lech Walesa.

OS DISCURSOS MAIS CONHECIDOS DE MANDELA

“A luta é a minha vida»  

Nelson Mandela tornou-se um símbolo da luta pela liberdade e durante os anos em que se manteve activo dedicou a sua vida ao serviço da humanidade. Recordemos alguns dos excertos dos discursos mais inspiradores de Madiba.
Junho 1961

“Não se pode esperar que pessoas que vivam na pobreza e com fome paguem rendas exorbitantes ao governo e às autoridades locais (…) Por que temos de continuar a enriquecer quem rouba o produto de nosso sangue e do nosso suor, a quem nos explora e nega o direito de nos organizarmos em sindicatos?”
“Lutarei contra o governo junto com vocês, polegada a polegada e milha a milha, até que conquistemos a vitória. O que vocês vão fazer? Juntam-se a nós ou vão cooperar com o governo nos seus esforços para reprimir as reivindicações e as aspirações do nosso povo? Da minha parte, já fiz minha escolha. Não abandonarei a África do Sul, nem me entregarei. Somente com dificuldades, sacrifício e acção militante se pode conquistar a liberdade. A luta é minha vida. Continuarei a lutar pela minha liberdade até o fim dos meus dias.”

Novembro de 1962

“Odeio a arrogância racial que decreta que as coisas boas da vida devem ser direito exclusivo de uma minoria da população e que reduz a maioria da população a uma condição de servilismo e inferioridade e a mantém como rebanho desprovido, que trabalha onde mandam e se comporta como lhe diz a minoria governante.”
Abril de 1964

“Há duas maneiras de deixar a pobreza. A primeira é através da educação formal e a segunda quando o trabalhador adquire maior conhecimento em seu trabalho e, assim, um salário mais alto.”

Junho 1990

“Permanecerá para sempre como uma mancha que não será apagada da história da humanidade o mero facto de que o crime do Apartheid ocorreu. Sem dúvida as gerações futuras perguntarão: Que erro se cometeu para que esse sistema pudesse vigorar depois de ter sido aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Permanecerá para sempre como uma acusação e um desafio a todos os homens e mulheres o fato de que demoramos tanto tempo para bater o pé e dizer basta
Setembro de 1998

“Se todas as esperanças podem ser traduzidas em um sonho realizável e não em um pesadelo que atormente as almas dos velhos, então terei paz e tranquilidade, então a história e biliões em todo o mundo proclamarão que valeu a pena sonhar e se esforçar dando a vida por um sonho realizável.”

Abril de 1999

“Não é a nossa diversidade que nos divide, não são nossas características étnicas, a religião ou a cultura que nos divide. Desde que conquistamos a liberdade, só há uma divisão entre nós: entre os que levam a democracia no coração e os que não!”
Janeiro de 2004

“A paz não é simplesmente a ausência de conflito, a paz é criação de um algo em que todos possamos prosperar, independentemente de raça, cor, credo, religião, sexo, classe, casta ou qualquer outra característica social que nos distinga. A religião, as características étnicas, o idioma e as práticas sociais e culturais são elementos que enriquecem a civilização humana, que se somam à riqueza de nossa diversidade. Por que deixar que se convertam em causa de divisão e violência?”
Julho de 2005

“Vivemos num mundo em que o conhecimento e a informação avançaram a passos gigantes. Porém, milhões de crianças não vão à escola. Vivemos em um mundo em que a epidemia da SIDA põe em perigo o próprio tecido da nossa vida, mas gastamos mais dinheiro em armas do que para garantir o tratamento e o apoio para as milhões de pessoas infetadas com HIV. É um mundo de grandes promessas e esperanças, mas também é um mundo de desesperança, enfermidade e fome. A eliminação da pobreza não é um gesto de caridade. É um ato de justiça.”

Mundo ficou órfão

– Armando Guebuza

O Presidente da República, Armando Guebuza, destaca na sua mensagem de condolências apresentada hoje pelo desaparecimento físico na noite de ontem do Presidente Nelson Mandela, líder histórico contra o apartheid, “que o mundo viu apagar-se a voz livre e libertadora, a voz de uma figura emblemática cujos ideais registam seguidores e beneficiários em todo o mundo”.

Guebuza, disse que a morte de Nelson Mandela, primeiro estadista sul-africano, representa o apagar de uma voz lutadora de um homem que foi exemplo de coragem e determinação na luta pela transformação de ideais nobres em realidade.

Guebuza reconheceu as qualidades do primeiro presidente da África do Sul democrática, que faleceu na noite de quinta-feira, aos 95 anos, no momento em que rendeu homenagem o ícone da luta contra o regime do apartheid naquele país africano.

“Nelson Mandela vive e viverá para sempre nos corações de todos aqueles que partilham os seus ideais de criação de uma sociedade mais justa, unida, onde se cultiva a paz, o amor ao próximo e a solidariedade”, sublinhou Guebuza.

Para Guebuza, apagou-se a voz livre e lutadora. A voz de uma figura emblemática cujos ideais registam seguidores e beneficiários em todo o mundo.

O estadista moçambicano disse que o facto de a África de Sul se orgulhar de ser uma nação “arco-íris” é, em grande medida, um legado e, ao mesmo tempo, uma homenagem a Mandela cuja visão sobre a diversidade enriquece e catapulta um país para a estabilidade do progresso.

“Por isso, Nelson Mandela vive e viverá para sempre nos corações de todos aqueles que partilham os seus ideais de criação de uma sociedade mais justa, unida, onde se cultiva a paz, o amor ao próximo e a solidariedade”, referiu hoje, em Maputo, numa mensagem de homenagem àquele herói.

Guebuza disse, por outro lado, que o ícone vive e viverá para sempre nos corações de todos aqueles que, no seu dia-a-dia, em palavras e actos, promovem o desenvolvimento social e económico para o bem-estar de todos os povos deste planeta.

Aliás, o presidente explicou que os vários prémios de organizações regionais e internacionais com que foi agraciado e o facto de o seu nome ter sido atribuído a avenidas, edifícios e eventos, sublinha o reconhecimento pelo mundo da majestade da sua obra.

Guebuza disse que o país vinha acompanhando, com um misto de ansiedade e esperança, as informações que davam conta da situação do estado de saúde do Mandela, que era também carinhosamente conhecido por Madiba.

Ansiedade porque não se sabia quando é que o seu estado de saúde poderia registar melhorias. Esperança porque demonstrou, ao longo da sua vida, ser um combatente vitorioso que saia vencedor em muitas e duras batalhas e que, por isso, também, nesta, sairia vitorioso.

“Infelizmente, a nossa ansiedade e esperança desvaneceram para dar lugar a dor e o luto pela perda irreparável deste génio que o povo sul-africano gerou e que o nosso continente e o resto do mundo reclamam como seu herói também”, disse.

Guebuza, em nome do povo moçambicano, endereçou ao actual presidente, Jacob Zuma, ao povo sul-africano e à família do Mandela as mais sentidas condolências.

“Neste momento de dor, consternação e luto, endereçamos ao nosso irmão e amigo o presidente Jacob Zuma, ao povo irmão sul-africano e à família do Presidente Nelson Mandela, as nossas mais sentidas condolências. Ao vosso lado e de mãos dadas, choramos a perda deste génio, deste ilustre filho da África do Sul, cidadão de todo o mundo. Até sempre Madiba” – apontou.   

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo