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Líbia pode virar novo epicentro- Considera especialista de segurança, Guido Steiberg

por admin

Ex-assessor de segurança do governo alemão defende intervenção militar terrestre para combater extremistas, mas admite que Ocidente não sabe como lidar com crescimento do terrorismo em território líbio.

A execução de 21 cristãos egípcios pelo "Estado Islâmico", divulgada no último domingo (15/02), chamou a atenção para a Líbia, que desde a Primavera Árabe é marcada pela instabilidade e é considerada hoje terreno fértil para a actuação de extremistas.

Para Guido Steinberg, especialista em terrorismo do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), a Líbia pode vir a se tornar o novo epicentro do radicalismo jihadista no norte da África.

Em entrevista à Rádio alemã Deutschevele, ele defende uma intervenção militar terrestre para combater o EI. Mas admite que nem os políticos europeus nem os americanos têm a menor ideia de como lidar com a situação na Líbia.

"A luta contra essa organização será longa. E o EI continuará a se expandir no mundo árabe", prevê o especialista, que trabalhou como conselheiro do governo alemão para assuntos de terrorismo entre 2002 e 2005.

O chamado "Estado Islâmico" opera agora também na Líbia. Como o grupo terrorista chegou até lá?

Até agora, eu tinha a impressão de que havia grupos radicais menores no país que, devido ao grande êxito do EI no Iraque e na Síria, se declararam membros do movimento terrorista. Actualmente, três grupos na Líbia aderiram ao EI. E se trata de mais do que declarações de intenção. Parece que têm contactos, que estão recebendo apoio. Isso não vale apenas para a Líbia, também há um braço do EI no Egipto, e outro menor no Iêmen, na Argélia e no Afeganistão. Existe o temor de que a organização terrorista construa uma rede internacional como a Al Qaeda em 2001.

Parece que os jihadistas lutam por diferentes organizações terroristas. Qual a lógica por trás disso?

Em primeiro lugar, o êxito é um critério importante. Depois de 2001, observamos a expansão de ramificações da Al Qaeda. Aparentemente, quando grupos extremistas usavam o rótulo de Al Qaeda, eles recebiam recrutas não só da região do Golfo, mas também do resto do mundo, obtendo também apoio financeiro.

O EI também parece funcionar da mesma forma. No entanto, sabe-se que a ramificação egípcia do EI enviou combatentes para o Iraque e a Síria, em troca de apoio financeiro. E desde que esta unidade egípcia, que opera no Sinai sob o nome de Província do Sinai, passou a pertencer ao EI, ela se tornou muito mais eficaz. No caso da Líbia, ao analisarmos o vídeo onde se mostra a decapitação de 21 reféns coptas, pode-se ver que, em nível técnico, ele tem a mesma qualidade que os demais vídeos do EI. Isso significa que as organizações estão realmente a trabalhar em conjunto.

Pelo que parece, a Líbia se converteu num Estado falido, semelhante às zonas no Iraque e na Síria controladas pelo EI. Deve-se ampliar a luta contra o grupo terrorista na Líbia?

Sim, isso seria o melhor. Pois a Líbia pode vir a se tornar o novo epicentro do terrorismo jihadista no norte da África. A grande pergunta é como intervir na Líbia, onde, como é o caso na Síria, o Ocidente não é considerado um verdadeiro aliado. Há grupos islâmicos, milícias e um ex-militar, Khalifa Haftar, que quer edificar uma nova ditadura secular com o apoio do Egipto, dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita. Nem os políticos europeus nem os americanos têm a menor ideia de como intervir no país. Em minha opinião, em primeiro lugar, os europeus deveriam estabilizar os países vizinhos, sobretudo a Tunísia. Os tunisianos estão muito preocupados com o que está a acontecer na Líbia e pedem armas à Europa. Temo que, na Líbia, a guerra civil vá se intensificar e que isso seja algo que os europeus não possam evitar.

O que alcançou, até agora, a coalizão internacional contra o chamado "Estado Islâmico"?

Ao menos ela diminuiu o avanço do EI, obrigando-o a retroceder um pouco. Este é um êxito que se pode atribuir aos ataques aéreos dos EUA e seus aliados, mas também ao apoio que as tropas curdas iraquianas têm recebido dos alemães. O grande problema no Iraque e na Síria é que os ataques aéreos estão perdendo a efectividade, já que todos os grandes alvos foram destruídos. O próximo passo deve ser a criação de alianças com grupos locais. Na Síria, isso não será fácil, mas no Iraque pode ser que isso venha a funcionar. No entanto, o governo iraquiano, de maioria xiita, deve convencer os sunitas no país de que é a melhor alternativa ao EI. Enquanto isso não acontecer no Iraque ou na Líbia, a organização terrorista continuará ganhando força na região.

Tropas terrestres são necessárias para combater o EI?

Claro que sim. Tropas terrestres são necessárias, porque os ataques aéreos já não são mais eficazes. No Iraque e na Síria, são necessários árabes sunitas para combater efectivamente o EI. Com nossos aliados actuais, ou seja, os curdos e as milícias xiitas, não é possível combater com sucesso o EI nos territórios sunitas. Portanto, a luta contra essa organização será longa. E o EI continuará a se expandir no mundo árabe.

União Europeia qualifica

Situação de explosiva

A alta representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Federica Mongherini, qualificou de explosiva a situação na Líbia durante uma intervenção na Cimeira da Casa Branca sobre a luta contra o extremismo e a violência.
"A Líbia é uma mistura de armas e de recursos naturais e financeiros marcada pela ausência do Estado e pela presença de tráfico e de comercialização de seres humanos, o que oferece as condições duma situação explosiva", precisou Mongherini.
Reconhecendo "a complexidade da situação na Líbia", Mongherini insistiu na necessidade para a comunidade internacional desdobrar importantes esforços para o regresso da estabilidade naquele país.
Os receios europeus sobre a situação prevalecente na Líbia são baseados na ameaça terrorista, na degradação dos interesses económicos e na possibilidade de fluxos mais importantes de refugiados se a situação persistir no seu estado actual.
Segundo fontes europeias, a União Europeia e a comunidade internacional colhem actualmente as consequências da intervenção militar na Líbia em 2011 contra o regime de Muamar Kadafi, sublinhando a necessidade de aprender as lições dos erros passados.

Uma reunião sobre a Líbia agrupou em Washington, à margem da cimeira sobre a luta contra o extremismo e o terrorismo, o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Choukri, o seu homólogo americano, John Kerry, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, e a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Federica Mongherini.

O porta-voz do Ministério egípcio dos Negócios Estrangeiros, Badr Abdel Aati, disse que a reunião "baseou-se na perigosa situação na Líbia após os últimos desenvolvimentos de segurança e a importância para a comunidade internacional de assumir as suas responsabilidades a respeito desta situação".
Segundo ele, a reunião quadripartida evocou o projeto de decisão que o grupo árabe no Conselho de Segurança da ONU apresentou sobre a situação na Líbia.
"Os participantes na reunião acordaram sobre a necessidade de continuar o apoio aos esforços do enviado especial das Nações Unidas na Líbia e a instauração dum plano e duma estratégia determinados para tratar a situação líbia, incluindo o uso da força para salvar  a paz", acrescentou Abdel Aati.
Ele indicou que o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros apresentou com pormenores, diante da reunião quadripartida, a posição do Egipto a respeito da Líbia e a necessidade de não deixar este país fazer face sozinho ao seu destino.
O chefe da diplomacia egípcia, acrescentou, "insistiu na necessidade para o Conselho de Segurança de assumir as suas responsabilidades oferecendo todos os meios e possibilidades que permitam ao Governo líbio cumprir com a sua missão e combater as organizações terroristas".
O porta-voz do Ministério egípcio dos Negócios Estrangeiros afirmou que isto "não está em contradição com os esforços do enviado especial da ONU para o diálogo nacional".

 

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