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EUA, “surge et ambula” em África

Por Idnórcio Muchanga

Realizou-se, semana passada, em Maputo, a Cimeira EUA-África, que reuniu empresários e alguns chefes de Estado e de governo de África para interagir com empresários e a subsecretária do comércio dos EUA. O evento iniciou um dia após o anúncio, pelas autoridades moçambicanas e pela Anadarko, uma empresa norte-americana, da decisão final de um investimento de mais de 20 biliões de dólares para a exploração de gás natural no Rovuma. Na cerimónia de abertura a subsecretária do comércio dos EUA anunciou a duplicação, nos próximos anos, do montante que o seu país investe em África. Embora sejam notícias promissoras para os Estados africanos, o anúncio e a cimeira em si são reflexo não de um maior engajamento dos EUA para o desenvolvimento de África, mas sim de uma estratégia para conter a ascensão da China e, assim, manter o domínio sobre o continente negro e o globo.

Quando Trump tomou as rédeas da Casa Branca a sua política externa aparentava ser “desinteressada”, e ainda parece, em relação ao continente africano. Imbuído pela retórica nacionalista, uma das medidas tomadas pelo seu governo foi de sugar os fundos da Corporação de Investimento Privado no Exterior (OPIC, sua sigla em inglês) e da Autoridade de Crédito para o Desenvolvimento (DCA, sua sigla em inglês), duas instituições financeiras dos EUA cuja missão é mobilizar capital privado e fornecer garantias nos empréstimos para projectos que visem enfrentar desafios de desenvolvimento no exterior, especialmente em países de baixa e média renda. Para surpresa de muitos, a administração Trump decidiu, em 2018, criar a Corporação Financeira para o Desenvolvimento (DFC, sua sigla em inglês), que, de forma declarada, não só vai fornecer assistência técnica e supervisão reforçada de projectos de desenvolvimento, como também vai duplicar o montante disponível para investimento no exterior.

O anúncio de injecção de mais fundos para o desenvolvimento de África constitui, contundo, uma oportunidade e uma ameaça para os países africanos. É uma oportunidade por trazer a ideia “noronhista” de “surge et ambula”, neste caso reveladora do acordar dos EUA em relação ao continente africano. Mais investimento dos EUA em África reflecte a ideia de que o continente está a sair do esquecimento e marginalização para ascender para o centro das preocupações internacionais para o desenvolvimento. Provavelmente, o tal acordar dos EUA, e de outras potências mundiais, pode dever-se à contínua descoberta de estratégicos recursos naturais que são vitais para o desenvolvimento das economias nacionais. Leia mais…

Por Edson Muirazeque *

edson.muirazeque@gmail.com

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