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Egipto: o referendo da “perpetuação” do domínio dos generais sobre a governação

Por Idnórcio Muchanga

Enquanto a Argélia e o Sudão estão em “alvoroço”, com o povo a pedir que os militares abandonem o poder e deixem que os civis governem, o general e presidente Abdel Fattah el-Sisi, do Egipto, procura estender a sua permanência na liderança do país. Nos primeiros dois países, os respectivos presidentes, que vieram do exército, acabam de abandonar a presidência, um por renúncia e o outro por “intervenção” dos militares que o detiveram. Apesar destes sinais, no Egipto o general presidente “impôs” um referendo que, a ser aprovado (tudo indica que o voto será positivo), vai legalizar a possibilidade de sua permanência no poder até 2030. Em referendo os egípcios terão de decidir, entre 20 e 22 de Abril, se aceitam ou não a extensão do mandato presidencial de quatro para seis anos. Embora contestado por alguns resquícios de uma “silenciada oposição”, a realização do referendo não passa de uma estratégia para a legalização da perpetuação da governação dos generais no Egipto.

O Egipto tem sido governado, desde o golpe de estado de 1952 que propiciou a abolição da monarquia e instauração da república, pelos militares. Após o golpe de estado, Nasser tomou as rédeas da governação e, desde aí, governaram o país somente generais, à excepção de um curto interlúdio enquadrado no contexto das revoltas populares cunhadas como “Primavera Árabe”. Um dos maiores desafios que Nasser enfrentou à governação dos militares foi a Irmandade Muçulmana, que na altura do golpe de estado já se apresentavam como um grupo organizado. Nessa altura, algumas das medidas tomadas por Nasser para consolidar o domínio militar sobre a governação foi a ilegalização de partidos políticos e a perseguição de eventuais dissidentes, com particular destaque para os membros da Irmandade Muçulmana.

Nasser morre em 1970 e é substituído pelo seu vice-presidente, Anwar Sadat, este também um general que participou nas investidas do grupo de oficiais militares que aboliu a monarquia na primeira metade da década de 1950. A subida de Sadat à posição de proeminência propiciou a ocorrência de mudanças no regime político, levando à emergência de uma cultura política pluralista. Sadat profissionalizou o exército, procurou distanciá-lo da política e indicou civis para altos postos de governação. Pela primeira vez desde o golpe de 1952, os civis conseguiram ocupar os postos de vice-presidente e primeiro-ministro. Eventualmente, as reformas implementadas por Sadat levaram à introdução de um sistema multipartidário em 1977, mas que era fortemente controlado pelos generais.

 
Por Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com

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