Opinião

SOBRE BÊNÇÃOS OU MALDIÇÕES AS AGRESSÕES

Manda o ditado para se porem as nossas barbas de molho quando vemos arder as do vizinho.

 

Depois de mais de mil mortos queimados e soterrados nas fábricas infames de Dacca, as grandes marcas lembraram-se que deviam velar pela segurança dos míseros operários.

Os interesses pelos recursos naturais determinaram as guerras coloniais e do racismo contra os povos da África Austral.

Em paralelo há que considerar a protecção do meio ambiente, para que não fiquemos com os buracos, as águas poluídas e eles com os lucros. No Golfo do México, ao largo dos Estados Unidos, uma petroleira poluiu as águas. Há lá experiência e conhecimento para combater uma catástrofe ecológica, a petroleira viu-se obrigada a pagar uma indemnização séria.

Aqui? Zero! Pande ardeu durante anos. Katina P destruiu uma parte da nossa costa, da sua fauna e flora. Nada se pode fazer. 

Para não mencionarmos os casos da Guerra do Ópio contra a China no século XIX, contra os povos da América Latina e do Médio Oriente, as experiências em relação à África recomenda-nos vivamente a maior prudência quando lidamos com as transnacionais.

A saga da brutalidade inicia-se no final da década de cinquenta do século passado com a independência do Congo (K).

A Conferência de Berlim, que partilhou o continente entre os apetites contenciosos das potências europeias, ofereceu nos jogos de interesses, como propriedade pessoal, o Congo a Leopoldo II Rei dos Belgas, parente de todas as realezas europeias.

Havendo-se constatado problemas gravíssimos contra as populações e após um inquérito iniciado em 1904, o Rei entregou o território à Bélgica em 1908, com a designação pomposa de Estado Livre do Congo, que manteve até 1959.

Face à vitória em eleições livres e democráticas do Movimento Nacional Congolês de Lumumba a 30 de Junho de 1960 e à derrota consequente do ABAKO (Aliança Bakongo) de Kasavubu, dez semanas depois uma conspiração belga, francesa e americana derrubou o governo num golpe de estado. Anteriormente, menos de quinze dias após a independência, organizou-se a secessão do Catanga.

Para eliminar Lumumba e os principais dirigentes nacionalistas, entregaram-se os prisioneiros a Tshombé. Em Janeiro de 1961 uma força belga fuzilou Lumumba e os seus companheiros no Catanga. As Nações Unidas, o Secretário-Geral Dag Hammarsjkold desloca-se ao Congo e em rota para Ndola na Rodésia do Norte em Setembro de 1961 o avião desapareceu. Encontraram o avião e quinze mortos, entre eles, o Secretário-Geral.

 A Comissão rodesiana de inquérito concluiu que se tratava de um acidente. Porque negras, recusou testemunhas que viram aviões do tipo usado pelos mercenários no Catanga a perseguirem e dispararem contra o DC 6 das Nações Unidas. Para nós um déjà vu! Nos bastidores dos crimes, os interesses das mineradoras.

Organizou-se o golpe contra N’Krumah no Gana, o país do ouro. O Gana emancipava-se e tornava-se mau exemplo. O não da Guiné (C), dona de bauxite, valeu ao país sérias represálias. Os funcionários franceses e colonos antes de partirem deitaram cimento nas pias, arrancaram os fios eléctricos, tentaram destruir ao máximo as habitações e infra-estruturas.

Acompanhamos a saga da secessão do Biafra entre 1967 e 1970. Provou-se o envolvimento da petroleira francesa ELF AQUITAINE, assim como dos regimes de Israel, Rodésia, África do Sul, Portugal, França e do Vaticano, tal como de várias ONG’s.

Fez-se a partição do Sudão, promoveram-se os conflitos nos Grandes Lagos, liquidou-se a Somália e por detrás sempre o cheiro dos recursos naturais, do petróleo e do interesse das transnacionais.

Os apoios a terroristas argelinos, a agressão contra a Líbia fedem sempre a petróleo. Os terroristas da Argélia circularam livremente na França até que cometeram crimes nesse país. Tornaram-se inimigos descartáveis. Antes utilizaram-se estes homens nas guerras contra a Sérvia e o Afeganistão. Ligaram-se a Bin Laden.

As tensões que podem suscitar um conflito entre o Malawi e a Tanzânia no Lago Niassa não estão separadas das prospecções de hidrocarbonetos.

Até agora e nos tempos recentes, após enorme período de cumplicidades com o colonialismo e os sistemas racistas, o Primeiro-Mundo e as transnacionais tratam-nos como bons rapazes, pretinhos com alma branca, como se dizia num passado de que nos lembramos. Alguns na nossa terra acreditam, ou fingem fazê-lo em troca dos trinta dinheiros de Judas.

Em nenhum momento podemos cair na ratoeira ingénua da bondade das transnacionais.

Sem rompermos com ninguém, estejamos armados de prudência e para isso o meu abraço,

Sérgio Vieira

P.S. Um cidadão americano, Edward Snowden, trabalhando para uma empresa subcontratada pela CIA, no quadro de um programa denominado PRISMA, denunciou e provou publicamente que serviços do seu país, em nome da luta contra o terrorismo, registavam e gravavam todas as comunicações no mundo inteiro via telefone, celulares e internet.

Sabendo que existe nos EUA e no mundo o direito ao sigilo da correspondência e comunicação, estamos perante um grave atropelo dos Direitos Humanos até consignados na Constituição americana. A União Europeia já se insurgiu contra os atropelos aos direitos dos seus cidadãos.

Matando até gente inocente nos bombardeamentos com aviões não tripulados, espiolhando as vidas de centenas de milhões de pessoas não estarão os EUA a criar diariamente novos inimigos a conquistarem vitórias a Pirrus? A arrogância do quero, posso e mando conquistam corações ou ódio?

Um abraço à grande nação americana e um voto para que os seus cidadãos imponham o respeito à dignidade humana no seu país e no mundo,  

SV

 

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