Sociedade

Trinta crianças portadoras de albinismo recebem óculos de vista

Um total de 30 crianças, portadoras de albinismo, com idades que vão até os 10 anos, recebeu na passada quarta-feira, 1 de Junho, óculos de vista. Os beneficiários residem em alguns bairros dos municípios do Maputo e Matola.

A Iniciativa está inserida no programa "Como Nós" levado a cabo por uma Organização Não Governamental denominada Naturalmente, que tem como objectivo ajudar os pais a garantirem um futuro melhor para os seus filhos.

Trata-se de crianças de pais com baixa renda e que passam por inúmeras dificuldades de saúde, com maior destaque para a visão.Acredita-se que com a referida assistência elas terão a possibilidade de ir à escola, atravessar estradas sem auxílio de alguém, assim como desenvolver algum ofício, entre várias actividades.

É que geralmente as pessoas portadoras do albinismo enfrentam dificuldades de avistar principalmente objectos longe do seu alcance.

Nalguns casos este problema começa desde cedo. No grupo que beneficiou de ajuda, foram registados casos desta natureza. Facto preocupante é que a dificuldade aumenta à medida que o indivíduo cresce.  

Em conversa com alguns encarregados de educação, durante a cerimónia de entrega dos óculos, ficamos a saber que tem havido interacção entre eles e os professores ou direcção da escola à volta do problema das crianças.

Tudo gira em torno das dificuldades que as crianças enfrentam, por exemplo, para visualizar o que é escrito no quadro ou em livros. Conforme foi referido, chegam a encostar na cara naqueles objectos para descortinarem as letras.

Esta situação já se reflecte no aproveitamento pedagógico de alguns desses meninos, ao mesmo tempo que fazem esforços para se obter bons resultados.

A situação tem desesperado os pais uma vez que os óculos são muito caros. Algumas pesquisas feitas no mercado nacional indicam que o preço mínimo é de cinco mil meticais, sendo quatro mil para a lente e mil para o aro.

Contudo, Nuno Maia, do Naturalmente, garantiu que a sua instituição vai adquirir mais 50 óculos para o mesmo número de crianças, já inscritos, que não foram contempladas nesta fase.

Maia fez saber ainda que para além dos óculos, as 80 crianças já recebem cesta básica, protector da pele, uma vez em cada mês, entre vários cuidados médicos. Entretanto, antes de receberem os óculos, “passam por alguns testes médicos. É uma iniciativa que vai se prolongar até 2018. Estamos preocupados com a situação das crianças, temos a informação segundo a qual existem muitas delas que reprovam nas escolas. Estamos a trabalhar para inverter este cenário” disse.

Actualmente, trabalham com crianças com idade que vai até aos 10 anos, das cidades de Maputo e Matola, mas perspectiva-se no próximo ano estenderem as actividades para a província da Zambézia.

“E, brevemente, passaremos a trabalhar com as autoridades da educação e justiça, onde vamos disseminar a mensagem sobre o tratamento da pessoa portadora do albinismo”.    

ALÍVIO

Os encarregados de educação das crianças beneficiárias da ajuda referiram que estão satisfeitos pois a medida veio para aliviar o sofrimento a que os seus filhos estavam sujeitos. Contaram que, devido a sua deficiência visual, algumas mães já mudaram a sua rotina de trabalho para estar perto do filho. Outros, com mínimas condições financeiras, contratam empregadas para exercer essa actividade. E há quem que não tem ninguém que o possa ajudar, e as crianças à sua sorte.

Ivone Massango, residente no bairro Guava, Município de Maputo, é mãe de uma criança de três anos idade, referiu que há muito tempo precisava dos óculos.

Contou que por causa das dificuldades que o seu filho enfrenta no seu dia-a-dia cancelou o negócio de venda de carvão, que ajudava a melhorar a renda da casa, uma vez que o seu marido trabalha. 

O carvão era adquirido em Mabalane, província de Gaza, e as viagens para aquelas bandas levavam dias, o que a deixava sempre preocupada.

“Não é possível ir e voltar no mesmo dia,e isso entreva em choque com a saúde da minha criança. Conversei com o meu marido, e acordamos que devia abandonar o negócio para dispensar o tempo para cuidar da criança. A pessoa albina tem muitos problemas como o da pele e vista. Com isso há pratos que ela não pode comer. Eu imaginava deixando o meu filho nas mãos de outra pessoa seria complicado. Será que essa pessoa teria toda a paciência que tenho? questionou.

Por sua vez, Artimiza Vilanculo, residente no bairro da Matola C, Município das Matola, mãe de uma menina de 10 anos de idade, referiu que já foi chamada por várias vezes pela professora da sua filha para lhe informarem sobre as suas dificuldades. A menina não conseguem visualizar o que vem escrito no quadro, as mesmas dificuldades enfrenta em casa quando chega a hora de passar as refeições. É que para ver o que está no prato tem que aproximar a cara. 

“Em 2014 já fui ao hospital onde me disseram que só deviam tratar a partir de 10 anos de idade. Na altura fiquei triste porque sinto que ela faz muito esforço, mas não podia discutir com os médicos. Acredito que com estes óculos vamos superar este entrave”,disse.

Num outro desenvolvimento, confessou que nunca ficou tranquila, desde o primeiro ano da sua criança, pois já apareceram varias pessoas estranhas na sua rua a tentar falar com a sua menina.

“Começou quando tinha seis meses, apareceram dois brancos pegaram, conversavam em língua que não entendo, ora reparavam no bebé ora me reparavam, e continuavam a falar. Depois foram se embora. Este ano já apareceram outras tantas pessoas de carro. E quando chegam não vêm ter connosco, chamam-na e fazem algumas perguntas, como por exemplo, onde estão os seus pais. Andamos preocupados, pois isso já não anda sozinha. Os irmão acompanham-na à escola, e quando se aproxima a hora de saída vão busca-la. Também não sai de casa”, disse.

Safira Matabele, moradora no bairro de Mogoanine B, Município de Maputo, tem dois filhos com problemas de albinismo, sendo o primeiro de oito anos e outro de seis. A situação desta senhora é complicada porque o pai das crianças faleceu, e ela não trabalha. Actualmente, vende verduras no mercado de Xiquelene.

Contou que quando vai cumprir a sua actividade diária, as crianças ficam sozinhas. Mesmo com as dificuldades de vista que enfrentam, e com todos os riscos, vão e regressam, da escola, sozinhas.

“A situação é complicada porque não tenho ninguém para ficar a cuidar das crianças, mas se não for vender não passaremos as refeições do dia. Mas confesso que só agradeço quando volto e encontro as minhas meninas em casa porque actualmente há muita criminalidade”,disse.

Abibo Selemane
abibo.selemane@snoticicas.co.mz

 

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