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Não entremos em pânico

Por admin

Moçambique está a atravessar um momento turbulento causado pelos efeitos nefastos da seca, enxurradas, fortalecimento das principais moedas, tensão político militar e da queda dos preços das matérias-primas no mercado internacional. São solavancos atrás de solavancos que o governo tem a certeza de que serão superados. Por isso, apela à calma. “Nada de pânico”, diz o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário aos agentes económicos.

O nosso país pode ser assemelhado a uma aeronave de grande porte que levantou voo, alcançou a altitude de cruzeiro e os seus passageiros já reclinavam os assentos para disfrutar da viagem rumo à prosperidade.

A economia turbinava de forma espectacular, empregos a serem gerados todos os dias, investimentos estrangeiros chegavam às catadupas, enfim, o mundo olhava enciumado e embasbacado para o ritmo de crescimento estável e a inflação controlada há anos.

Entretanto, quis o diabo tecê-las e aquilo que até então era uma viagem tranquila mudou de figura. De forma súbita, a natureza começou a fazer das suas. Primeiro foram as cheias que destruíram vidas humanas e infraestruturas diversas na região centro e norte do país pouco depois da tomada de posse do actual governo, isto no começo do ano passado.

Os agentes económicos não conseguem se esquecer dos prejuízos que acumularam durante cerca de dois meses em que estiveram privados de energia eléctrica nas províncias da Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa.

Depois veio a Renamo fazer cara feia contra os resultados eleitorais e iniciou uma marcha desgastante para as matas, lugar de onde deu início a sessões infelizes de disparos contra pessoas e bens públicos e privados, com ameaças caipiras de tomar o poder nas seis províncias onde alardeia que obteve bons resultados eleitorais.

Para infelicidade geral, a moeda norte-americana começou a fortalecer a ponto de esmagar a todas as outras, facto que ocorreu em simultâneo com a queda dos preços das principais matérias-primas ou commodities (como os ingleses chamam), impedindo que países produtores de petróleo, gás, carvão mineral, madeira, entre outros perdessem competitividade no mercado global.

A cortejar este quadro, a China e o Brasil que fazem parte do conjunto de economias emergentes mais vigorosas no mundo, começaram a experimentar um certo abrandamento no crescimento e, para o caso do Brasil, a inflação está a começar a chegar a níveis de descontrolo, o desemprego volta a assustar, enfim.

Este conjunto de eventos naturais, políticos e económicos faz lembrar a travessia de um avião por uma área onde se formaram nuvens verticais conhecidas por cúmulo-nimbo, ou “cumulunimbus” (em latim) que dão origem a eventos meteorológicos extremos, tais como tempestades com trovoadas, relâmpagos, chuva volumosa que pode ser acompanhada de granizo e neve.

Não é por acaso que a liderança da Confederação das Associações Económicas (CTA), sentindo os safanões do rumo que o país está a tomar, afirma que “os desafios da nossa economia são muito grandes e estruturais. Somos da opinião de que nunca serão ultrapassados sem uma abordagem clara e pragmática”.

QUADRO DEVASTADOR

O presidente da CTA, Rogério Manuel disse ao Primeiro-ministro que aquela agremiação entende que as consequências dos fenómenos naturais e outros de natureza política são devastadores, uma vez que foram perdidos cerca de 174 mil hectares, dos 389 mil que tinham sido cultivados na primeira época deste ano na região sul do país e 973 mil hectares perdidos na região centro.

A CTA também aponta que os pecuaristas já contabilizam a morte de 4500 cabeças de bovinos por falta de água e pasto, para além de 43 500 bovinos que correm ao risco de morrer na zona sul porque prevalece os efeitos combinados de falta de pasto e de água.

O rumo dos negócios e investimentos continuam a ser abalados pela subida dos custos de produção devido à depreciação cambial que atingiu 73,2 por cento, acumulada até Novembro, embora tenha abrandado até 42,25 por cento, no final do ano”, disse Rogério Manuel.

Mas, o que deixa os empresários quase de rastos, neste momento de turbulência é a instabilidade político-militar que, segundo referem, afecta as zonas rurais, provoca a emigração da força produtiva e coloca em causa o curso normal das actividades produtivas.

Como se isso fosse pouco, a CTA aponta para a Balança de Pagamentos que, na sua óptica, está prenhe de desafios estruturais como a importação de cereais e óleo alimentar que atinge os 400 milhões de dólares por ano, importação de combustíveis que chega a 600 milhões de dólares e de energia que atinge 240 milhões de dólares.

A prioridade deve ser a produção de alimentos e combustíveis, que totalizam uma importação anual de um bilião de dólares. Também propomos que o Estado diminua os seus activos que estão no Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE) e em empresas públicas a favor do sector privado. Esta diminuição de activos deve ser, estrategicamente, para os activos em sectores com impacto na redução das importações”, disse.

NÃO ENTREMOS EM PÂNICO

Tal como acontece nos aviões quando atravessam áreas com alguma turbulência, a tripulação procura sossegar os passageiros, por via da difusão de informações úteis sobre o que se está a passar e o que cada um deve fazer para a sua própria segurança.

No caso vertente, o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário apelou ao sector privado para manter a calma. “Não entremos em pânico”, disse ao mesmo tempo que reconhecia que o presente ano, tal como o ano passado, está a ser marcado por factores conjunturais internos e externos.

Riscos e incertezas que ditam a perda de valor do metical face as principais moedas internacionais, causando a subida do custo de vida”, disse o Primeiro-ministro que lamenta o facto de o país continuar a consumir mais do que produz.

Para que se tenha clareza sobre este último ponto, Carlos Agostinho do Rosário foi buscar os números referentes ao que importamos e o que exportamos. “No ano passado a receita de exportação de bens foi de 3.372 mil milhões de dólares contra 6.648 mil milhões referentes às importações”.

Logo a seguir referiu que os agentes económicos, particularmente do sector cambial, devem ter um papel activo no combate a algumas práticas que estão a comprometer o curso normal do “voo”.

Para estes, apelou para que estimulem o uso do sector bancário para as operações com o exterior com vista a reduzir a aparente pressão da procura do dólar para pagar bens e serviços domésticos e procedam à facturação em meticais para ajudar a estabilizar a moeda nacional e favorecer a redução da taxa de câmbio.

Sobre os ataques que a Renamo tem estado a protagonizar aqui e ali, Carlos Agostinho do Rosário disse que o Chefe de Estado, Filipe Nyusi continua aberto para dialogar sem pré-requisitos com Afosno Dhlakama com vista a encontrar caminhos para uma paz efectiva. “Devemos todos dizer não à guerra”.

Para que o país possa abandonar a área de tempestade em segurança, o Primeiro-ministro afirma que será necessário apostar seriamente na produção interna, pois, “nenhuma economia pode viver e sustentar-se de empréstimos, importações e subsídios do Estado ao consumo”.

Assim sendo, o governo decidiu concentrar esforços e atenção especial em quatro sectores-chave que podem fazer a diferença e servir de catalisadores para a operacionalização do Programa Quinquenal de 2015 a 2019.

INVISTAM AQUI E ALI

Sem descurar de outros sectores, o governo aponta que gostaria de ver o sector privado orientar o seu capital para o sector da energia que tanta falta faz ao país pois, embora seja uma área relacionada com infraestruturas, decidiu-se conferir-lhe um certo destaque dado o seu potencial na geração de renda e emprego para ser distribuída no país.

Para o caso da agricultura, o governo entende que é preciso tornar mais produtiva toda a terra irrigável através da expansão da irrigação para a produção de hortícolas a par do aumento da produção e produtividade do milho e arroz, bem como o esforço da produção de carne bovina e de frangos.

No turismo queremos tornar Moçambique um destino turístico na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Índico, investindo massivamente nos produtos turísticos peculiares como o turismo de praia, turismo cultural, cinegético e de negócios”.

Para o efeito, deverão ser estimulados investimentos em polos turísticos como Ponta de Ouro, Cidade de Maputo, arco Vilankulo-Ilha de Moçambique, os quais irão dinamizar os destinos turísticos regionais e circundantes.

No domínio das infraestruturas, Carlos Agostinho do Rosário disse que a ideia é centrar-se na construção de estradas, pontes, linhas férreas, portos e aeroportos vitais ao desenvolvimento e, particularmente, a logística para a actividade produtiva no interior do território nacional e no interland.

A par destes investimentos, a aposta deve residir na construção de barragens necessárias para o abastecimento de água para as cidades em rápido crescimento, para a irrigação e gestão estratégica das cheias nas bacias mais problemáticas, com destaque para o Limpopo e o Lúrio.

Ainda no quadro das infraestruturas, o Primeiro-ministro referiu que o governo privilegia o desenvolvimento dos corredores internacionais sul, centro e norte, com destaque para a ligação de Niassa para o resto do país e com os países vizinhos. “A participação do sector privado pode ser feita através da modalidade Parceria-Público Privada inclusive em áreas como portos, caminhos-de-ferro e transporte de cabotagem”.

Jorge Rungo

jrungo@gmail.com

fotos de Carlos Uqueio

 

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