Benjamim Abacar, camponês de Marrupa, é um dos “rostos populares” que expressou de forma veemente a sua indignação pelo actual cenário de insegurança provocado pelos homens armados
da Renamo que amiúde perpetram ataques a cidadãos indefesos e suas propriedades e até mesmo a algumas unidades militares.
Para Abacar, o país está a desenvolver-se a passos largos, com a reconstrução de tudo o que foi destruído pela guerra dos 16 anos, nomeadamente escolas, hospitais, estradas e pontes, entre outras infra-estruturas públicas e privadas.
Este cidadão entende que nada pode justificar a destruição do que os moçambicanos a muito custo estão empenhados em reconstruir, sobretudo tendo em conta as lições e marcas profundas deixadas pela desestabilização promovida, também dessa vez, pela Renamo, que destruiu o tecido social e económico e provocou cerca de um milhão de mortos e um número ainda maior de feridos.
Mais adiante, este popular afirmou que a guerra do momento deve ser a de criar condições para que o combate contra a pobreza seja efectivo e nunca o retardamento do desenvolvimento do país almejado por todos moçambicanos.
“Não faz sentido que numa altura em que os moçambicanos estão preocupados em reconstruir o país, haja pessoas que estejam interessados em ver tudo recuar, perpetuando os índices de pobreza dos seus concidadãos que se mostram altos, apesar de se notar um trabalho sério tendente a melhorar as condições de vida dos cidadãos”, observou Abacar que, apelou ao Governo a tudo fazer para que o país continue estável, evitando deste modo que os seus habitantes deambulem dum lado para outro todos os dias, temendo os efeitos da guerra.
Outras intervenções populares centraram-se no esforço que o Governo está a fazer visando melhorar as condições das comunidades mais desfavorecidas. Foram apontados, a título de exemplo, os “sete milhões” que estão a alavancar a economia nas zonas recônditas do nosso país, bem como a promoção de mais postos de trabalho, através do auto-emprego.
A necessidade de construção e reabilitação das vias de acesso e de infra-estruturas sociais, nomeadamente, a expansão das redes sanitária e escolar e a extensão de energia eléctrica da rede nacional de Cabora Bassa foram longamente destacadas pela maioria dos intervenientes.
Com cerca de 60 mil habitantes, o distrito de Marrupa, por exemplo, ressente-se do problema da falta de água, depois que o pequeno sistema avariou há vários anos.
Outro problema que deixa a população daquele distrito constrangida está relacionado com o conflito Homem-Fauna Bravia. Marrupa faz parte, parcialmente, dos seis distritos abrangidos pela Reserva de Niassa, detentor de numerosa fauna bravia, onde abundam animais de grande porte, cujo efectivo suspeita-se que suplante, em termos numéricos, a população humana.
A este propósito, Manuel Milange, ou, simplesmente, nduna Nanliji, queixou-se do mau relacionamento entre a população local e o operador turístico da MWA, o moçambicano radicado em Portugal e antigo seleccionador da selecção portuguesa, Carlos Queiroz.
Segundo relatou, desde 2008 que aquele operador não paga às comunidades locais os 20 por cento estipulados pelo Governo como obrigação pela exploração da área que lhe foi concessionada e muito menos contribui na construção de infra-estruturas sociais para o benefício da comunidade local, tais como centros de saúde ou salas de aulas.
“E em consequência disso, a população acusa-me de estar a beneficiar do dinheiro que deveria se destinar às comunidades quando na verdade nunca nos foi canalizado pela MWA”, queixou-se aquele líder comunitário de Marangira, pedindo uma intervenção do Presidente da República.
No cômputo geral, grande parte dos intervenientes reconheceu que o distrito está a registar um notável desenvolvimento, mercê do envolvimento da nova gestão do distrito e do município, apesar de alguns se terem queixado de elevados custos no consumo de energia eléctrica da rede nacional de Cahora Bassa.
“Com estes preços de energia, Cahora Bassa é mesmo nossa?”, questionou Fernando Mahape, que igualmente reclamou a transferência do Instituto de Fauna e Ecoturismo Armando Emílio Guebuza para a cidade de Lichinga.