Em Foco

Moçambique e Itália relançam cooperação futura virada para o domínio económico

Texto de José Sixpence, em Roma e Mauro Vombe (cortesia)

Os laços de amizade entre Moçambique e a Itália, estabelecidos há cinquenta anos, ficaram mais fortalecidos com a visita de trabalho, na semana finda, do Chefe do Estado, Armando Guebuza, àquele país europeu em cujo rescaldo salienta-se a vontade genuína, ao nível bilateral, para a consolidação do amplo campo de convergência de interesses e objectivos nos domínios político e o incremento das relações de cooperação no domínio económico e empresarial, que de forma historicamente particular unem os dois países e respectivos povos.

 

O facto de o Presidente da República, Armando Guebuza, ter escolhido a Itália e o Estado do Vaticano para realizar a sua última visita oficial ao estrangeiro, depois dos seus dois mandatos, sublinha de forma inequívoca o reconhecimento do papel que este país europeu jogou desde os primórdios do inicio da Luta de Libertação Nacional contra o colonialismo português, em 1964, e o apoio prestado durante o processo de pacificação de Moçambique, que culminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz, a 4 de Outubro de 1992, em Roma.

Em jeito de despedida, o Presidente Guebuza aproveitou todas as ocasiões que teve tanto em Roma, capital italiana, assim como no Estado do Vaticano e na região de Reggio Emilia para expressar a sua gratidão e a do povo moçambicano pelo contributo desempenhado por estas entidades na construção dos pilares do Estado moçambicano, na instauração e preservação de um ambiente de paz bem como na promoção do desenvolvimento socioeconómico, isto durante as diferentes fases da história de Moçambique, antes e depois da independência nacional.

Foram cinco dias de intensa actividade do estadista moçambicano que foram marcados por momentos de conversações, no formato tete-a-tete, dos quais destacamos com o Presidente da Itália, Giorgio Napolitano; o Primeiro-ministro, Matteo Renzi; com o Chefe do Estado do Vaticano, Sua Santidade Papa Francisco, com representantes da Comunidade de Santo Egídio bem como com as autoridades municipais da região de Reggio Emília (a cerca de 500 Quilómetros de Roma).

Em todos os encontros Guebuza recebeu prontamente garantias de uma cooperação continuada e ficou, a título de exemplo, vincado o compromisso das autoridades governamentais italianas e do Vaticano no reforço“das boas relações existentes entre Moçambique e Itália e com cada vez mais enfoque no domínio económico para que este se constitua numa base segura para a consolidação destes laços no campo político”.

Instado a pronunciar-se com algum detalhe sobre o resultado das conversações que manteve à porta fechada e em momentos separados com o Presidente da Itália, Giorgio napolitano, e o Primeiro-ministro Matteo Renzi, o Chefe do Estado reiterou ter obtido garantias de que as relações de amizade e cooperação entre os dois países irão se consolidar cada vez mais de tal forma que a “ a Itália continuará a ser um parceiro importante tanto na área política assim como ao nível do apoio ao desenvolvimento socioeconómico de Moçambique”.

Uma das coisas que chama atenção neste momento é que o nosso país está a dar saltos em frente que necessitam de sustentação através de uma economia mais sólida e forte, destacou Guebuza acrescentando que a Itáliaé um dos países que vem investido muito em Moçambique e que deve continuar a faze-lo de forma mais arrojada.

Importa referir que neste momento um dos grandes investimentos da Itália em Moçambique é por via da Ente Nazional eIdrocarburi (ENI) que opera na área dos hidrocarbonetos na Bacia do Rovuma mas que ainda está na fase de preparação das condições para a exploração efectiva do gás natural ali existente.

No rescaldo da visita à Itália o PR fez questão de dizer que os objectivos e resultados da mesma “superaram positivamente as expectativas e ficaram claramente sublinhadas as garantias do reforço da amizade e cooperação entre os dois países e povos”.

O objectivo da nossa visita era o reforço dos laços de cooperação, mais atracção de investimentos e isto tudo aconteceu. Tivemos também a oportunidade de interagir com o Director Geral da FAO com quem analisamos questões ligadas à situação da alimentação e nutrição. Tivemos também contactos com representantes da ENI dos quais sentimos um engajamento em continuarem a investir em Moçambique, disse Guebuza.

Falando na manhã de ontem a jornalistas que acompanharam a sua visita à Itália o Presidente Armando Guebuza admitiu que no campo económico a cooperação entre os dois países podia estar em patamares mais elevados do que está actualmente tendo em conta que a amizade entre ambos foi estabelecida há sensivelmente 50 anos.

Mas para sermos realistas temos que observar que nos começamos a nossa cooperação a partir do que era essencial (no contexto em que a relação foi estabelecida) e nós decidimos começar pelo campo político e as formas eficazes de alimenta-la. Mas não nos esqueçamos que Moçambique viveu momentos em que tinha que olhar mais para si próprio e a Itália também teve ocasiões de crises e que a impediram de ter atenção suficiente para os outros,apontou Guebuza realçando que as partes ate aqui fizeram aquilo “ que era possível mas abrem-se agora novas oportunidades e que devem ser aproveitados numa perspectiva de resultados mutuamente vantajosos”.

Mas mesmo assim, segundo o Chefe do Estado, o balanço do relacionamento entre Moçambique e Itália para alem dos aspectos de cooperação salta logo à vista o facto de este país europeu ter construído duas barragens no sul de Moçambique designadamente a de Corrumana e a dos Pequenos Libombos incluindo todo o apoio que concedeu a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) para o estabelecimento da Faculdade de Arquitectura.

Actualmente a Itália está igualmente a apoiar a Universidade do Lúrio, sediada na província de Nampula, sem contar com uma série de projectos de investimentos em numero de 15 e em áreas diversificadas , sem contar com a ENI, avaliados em cerca de 26 milhões de dólares norte-americanos.

Entretanto, o estadista moçambicano reiterou o apoio de Moçambique e outros Estados membros da CPLP em apoiar a recandidatura do Director Geral da FAO, o brasileiro Graziano Da Silva, numa altura em que está organização internacional acaba de anunciar um fundo de cerca de 10 milhões de dólares para financiar os países de expressão portuguesa na implementação de projectos que visam desenvolver a área de piscicultura.

NO VATICANO

Guebuza despede-se do Papa Francisco

O Presidente da República, Armando Guebuza, considera que Moçambique carrega consigo uma experiência muito especial em matérias relacionadas com a promoção e preservação da paz que pode ser partilhada com outros líderes e povos ao nível do continente africano e no mundo no geral.

Falando momentos depois de ter sido recebido pelo Papa Francisco na Santa Sé, sede do Vaticano, Guebuza revelou à imprensa que dominaram as conversações entre ambos temas relacionados com a paz no mundo e a evolução dos várias tendências e do papel que a Igreja Católica tem desempenhado para que esta prevaleça e se estabeleça la onde não existe ainda.

Para o estadista moçambicano um encontro com o Santo Padre resulta “ sempre numa conversa inspiradora e que, no caso vertente, nos faz compreender que algumas acções que temos levado a cabo em Moçambique e as que ainda nos propomos realizar são correctas tais como a nossa luta contra a pobreza e em prol do desenvolvimento bem assim a defesa da unidade nacional”.

Nos somos um Estado novo onde ainda não está bem consolidado o tecido como Nação. Neste momento, precisamos de reforçar esta componente para garantir que o Estado possa realizar suas missões respeitando a diversidade, referiu Guebuza.

Guebuza não quis ir a Roma e, como sói dizer-se, não avistar-se com o Papa. Sai assim pela “porta grande” e pode-se considerar um homem abençoado já que são poucos os estadistas que, em fim de mandato, resolvem deslocar-se ao Vaticano para interagirem e se despedirem pessoalmente do Chefe supremo da Igreja Católica, neste caso o Papa Francisco.

EM REGGIO EMILIA

Guebuza reencontra-se com o passado

Transcorridas quatro décadas o Presidente da República, Armando Guebuza, reviveu, na sexta-feira última, na cidade municipal de Reggio Emília, e com uma indisfarçável emoção episódios profundamente marcantes que evidenciam o devir das relações de amizade e cooperação entre Moçambique e aquela região mais a norte da Itália em particular.

A convite das autoridades municipais de Reggio Emília e dos amigos da Reggio Africa o Presidente Guebuza teve a oportunidade de voltar a visitar e proferir uma palestra no Teatro Municipal de Romolo, construído em 1857.

Trata-se do mesmo lugar que no longínquo ano de 1973 acolheu a “Conferência Nacional de Solidariedade Contra o Colonialismo e Imperialismo para a libertação de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau”.

Nessa época, conforme reza a história, Guebuza integrava a delegação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que era chefiada pelo saudoso Presidente Samora Machel, e fazia também parte da mesma o veterano deste mesmo partido Óscar Monteiro. A verdade é que dois anos depois da realização daquela Conferência Moçambique alcançou a sua independência e sucessivamente outros países irmãos que ainda estavam sob jugo do colonialismo português.

Importa referir que a Conferência surgiu na sequência de um encontro do senador italiano Renzo Bonazzi com Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos que se encontraram no Outono de 1963, em Varsóvia. Daí em diante começou a haver uma troca regular de correspondências entre Reggio Emília com representantes da Frelimo, seguindo-se o início da luta armada, em 1964. 

CIMENTADA COOPERAÇÃO POLÍTICA

SEGUE-SE A ECONÓMICA

O Governo de Moçambique e as autoridades da região de Reggio Emilia comprometeram-se a dinamizar ainda mais a cooperação na área económica uma vez que no domínio político, social e cultural as relações atingiram níveis classificados por ambos de “muito excelentes”. 

Com efeito, uma missão empresarial desta região devera escalar o nosso país já no próximo ano para fazer a prospecção do mercado moçambicano e identificar oportunidades de negócio bem como potenciais áreas de cooperação mutua.

Com uma área de superfície de apenas 2293 quilómetros quadrados e uma população de cerca de 453 039 habitantes a região de Reggio Emília detém, mesmo assim, um potencial na área agro-industrial invejável que até deixou positivamente impressionado o Presidente Guebuza e a comitiva que o acompanhava nesta visita de trabalho à Itália.

Da enumeração das oportunidades existentes e que podem ser exploradas para uma cooperação económica futura entre Moçambique e a Reggio Emília particularmente avulta o sector da produção agroindustrial.

Guebuza acredita que ainda é possível recuperar o tempo perdido e se estabelecer uma cooperação profícua entre as partes no domínio económico e a Reggio Emília particularmente “manifestou o interesse em trabalhar com Moçambique”.

CONSTRUÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS

ENI vai investir 15 biliões de dólares

para monetarização do gás natural

A companhia Italiana ENI ( Ente Nazional eIdrocarburi – Entidade Nacional de Hidrocarbonetos) poderá investir em Moçambique, num futuro próximo, cerca de 15 biliões de dólares para a construção de infra-estruturas para a monetarização do gás natural que se encontra na sua área de concessão na Bacia do Rovuma.

Falando a partir de Roma e em exclusivo para o domingo, a Ministra dos Recursos Minerais, Esperança Bias, explicou que só depois deste investimento é que a ENI estará em condições de valorizar aquele recurso natural ou, seja, o gás natural será efectivamente explorado e “passará a ser colocado no mercado e naturalmente gerar dinheiro”.

Neste momento a ENI já investiu sozinha cerca de 2.5 bilhões de dólares norte-americanos que se somam a outros investimentos conjuntos que podem chegar a 4 bilhões, disse Bias acrescentando que provavelmente outras companhias italianas poderão investir em Moçambique até porque a 23 de Outubro último foi lançado mais um concurso para a exploração de hidrocarbonetos “mas só saberemos depois da abertura das propostas”. Recorde-se que Moçambique integra actualmente o grupo dos 10 países no mundo (Top 10) com mais reservas de combustíveis fósseis.

Mauro Vombe (cortesia)

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