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Enchente à medida de um nacionalista

Por admin

A homenagem a Bernabé Adison Kajika, declarado herói nacional pelo governo moçambicano, constituiu o momento ímpar para familiares, amigos de infância, colegas de profissão e companheiros de guerra falarem da vida e obra do finado, cujas cerimónias coincidiram este ano com os 40 anos desde que, no povoado de Lupilichi, no distrito do Lago, província de Niassa, perdeu a vida precocemente em combate, vítima de um morteiro lançado pelas tropas portuguesas que ocupavam o território moçambicano.

As cerimónias centrais de homenagem ao combatente nascido em Chuanga, a sete quilómetros da vila municipal de Metangula, distrito do Lago, foram presididas pelo Chefe do Estado moçambicano, Armando Emílio Guebuza.

 Cedo, o povoado de Chuanga, onde Kajika nasceu, cresceu e se fez homem, denunciava a ocorrência de um acontecimento invulgar naquele dia, quarta-feira, 11 de Junho. Muitas pessoas vindas de todas as partes do distrito do Lago, e não só, concentraram-se nas imediações da residência de Kajika, emprestando ao bairro uma alegria contagiante.

Dezenas de grupos culturais representativos da tribo nyanja e mais apreciados pela população local, devido à melodia das suas canções e a forma alegre dos seus dançarinos, com o canda e a chioda à testa, animaram a festa. As crianças, essas, sempre estiveram presentes, em massa, em todos os locais onde as cerimónias tiveram lugar, denotando o desejo de ouvir e compreender o porquê de Bernabé Kajika ser considerado herói nacional.

Porque todos os caminhos foram ter a Chuanga, por algumas horas, aquele bairro turístico tornou-se em capital do país, devido, ao facto de a maioria dos representantes de instituições de soberania nacional se terem “transferido” para aquela zona do distrito do Lago, por sinal, o local onde se encontra uma das melhores praias lacustres do Niassa.

Logo à sua chegada, o Presidente da República procedeu à entrega de uma residência à família do malogrado para, de seguida, visitar o cemitério familiar de Kajika, onde depôs coroas de flores em três campas e, mais tarde, desta feita no centro da vila municipal de Metangula, inaugurar o Monumento construído em memória àquele herói nacional.

Marta Katupila, uma grande amiga de infância de Bernabé Kajika, disse à nossa reportagem que o antigo enfermeiro e intérprete era uma pessoa simples, sensível, solidário para com os seus companheiros e, principalmente, de trato fácil, o que, segundo ela, justifica a grande moldura humana que caracterizou a cerimónia.

Contou que, em plena aula, Kajika foi expulso da sala por ter sido apanhado a ajudar um colega que precisava de nota alta para passar. “Kajika sabia que o seu colega chumbaria se não conseguisse tirar uma nota que pudesse recuperar as negativas anteriores. Daí, como aluno muito inteligente, tentou resolver a prova do companheiro, mas viria a ser surpreendido pelo professor que o expulsou da sala”, sublinhou aquela anciã, que aparenta estar na casa dos setenta anos, justificando o facto de aquela cerimónia ter mobilizado muita gente.

Informações em nosso poder indicam que Bernabé Kajika nasceu a 29 de Agosto de 1938, no bairro de Chuanga, localidade de Metangula-sede, no distrito do Lago, em Niassa. Filho de Adison Kajika e de Matilde Chilondalonda, Bernabé era o quarto filho do casal, todos feaecidos precocemente, para além de uma outra irmã, resultado de uma anterior união matrimonial de sua mãe.

Conta-se ainda que a zona de Chuanga é predominantemente povoado pelo grupo etno-linguístico “nyanja”. De origem bantu, a palavra Chuanga, traduzida para a língua portuguesa significa “resolver”, por aqui onde as lideranças e as comunidades se encontravam para resolver problemas de vária índole, com destaque para as lutas tribais entre os régulos Messumba, Chilombe, Massange e Maendaenda.

As pesquisas feitas pela “Vida e Obra de Bernabé Adison Kajika” revelam que em infância, o malogrado foi atribuído pelo seu avô materno o nome de Chipongwe, palavra que, entretanto, em ciNyanja comporta muitos significados, nomeadamente abuso, malandro, irrequieto e atrevido.

O pai de Bernabé Kajika era um mineiro de profissão, tendo trabalhado na antiga Rodésia do Sul, actual Zimbabwe. O facto de a profissão de mineiro ser considerada, na altura, uma actividade muito prestigiante, Kajika era visto pelos colegas como sendo um menino com um “status” especial no seio da comunidade por a sua família ter a facilidade de acumular recursos financeiros em curto tempo com os quais podia adquirir bens valiosos, como bicicletas, máquinas de costura, rádios e roupas diversas.

Segundo Francisco Evans Saíde, um outro amigo de infância, o facto de Kajika ter abdicado de todas as “mordomias” e optar pela luta de libertação nacional, deixou os amigos e a comunidade do bairro perplexos, para além de que na casa dos 30 anos, o homenageado já tinha uma vida social sólida, depois de ter conseguido abraçar profissões tão prestigiantes como eram as de enfermeiro e intérprete.

Como intérprete, acrescentaram as nossas fontes, Bernabé Kajika começou a viver por dentro, a parte mais suja do colonialismo, chegando a omitir pronunciamentos que poderiam comprometer a vida dos seus concidadãos. “A partir de certo ponto, a PIDE-DGS começou a desconfiar da fiabilidade da interpretação de Kajika, tendo-o, por essa razão, associado à Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO”, apontou Djenela Saíde, um companheiro de luta, que, por sinal, testemunhou a morte de Bernabé Kajika, em combate.

Testemunhos impressionaram-me

O Presidente da RepúblicaArmando Emílio Guebuza, disse ter ficado muito impressionado com os testemunhos feitos pela família, amigos, colegas e companheiros de trincheira cujas narrativas enalteceram a heroicidade e bravura de Bernabé Adison Kajika, através de detalhes sobre a sua vida e obra desde o seu nascimento a 29 de Agosto de 1938 até à sua trágica e prematura morte, em 1974.

Depois de considerá-lo homem do povo, Guebuza Instou os moçambicanos a seguirem o exemplo de Kajika por se tratar, segundo o estadista, de um aluno dedicado, um grande mobilizador dos colegas para o cumprimento das tarefas da escola e na Nação.

“A vontade de escalar mais degraus para colocar o seu saber ao serviço do povo, levaram-no a frequentar o curso de enfermagem, no ano de 1956, tendo terminado com sucesso”, acrescentou Armando Guebuza para, de seguida, revelar que “foi nesse momento quando começou a trabalhar no Hospital de Messumba que Kajika compreendeu a necessidade de fazer mais para o bem do povo moçambicano, bem esse que passava pela luta de libertação de Moçambique do colonialismo português”.

Quer durante os momentos de interacção com a família quer durante o comício popular que se seguiu, o Presidente da República deixou sempre palavras de conforto, enfatizando o facto de Bernabé Kajika ter morrido no exercício do seu dever de nacionalista visionário.

André Jonas

andremuhomua@gmail.com

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Hotel Charme Fonte do Boi 5 de Setembro, 2023 - 19:02

Hotel Charme Fonte do Boi

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