As chuvas intensas, às vezes com ventania, que caem em alguns pontos do país desde finais do ano passado, destruíram casas, desenterraram tubos de canalização de água e derrubaram árvores na cidade de Nacala, causando grandes prejuízos.
A chuva, pela qual os munícipes ansiavam para se livrarem do sofrimento por falta de água para o consumo, virou um pesadelo pois, para além de aumentar a falta do preciso líquido, algumas vias que lhes permitem aceder às fontes de água estão intransitáveis porque as valas abertas pelas águas invadiram a cidade e alguns bairros suburbanos. Em determinadas zonas os tubos que transportavam a água foram removidos.
Uma parte das valas foi aberta pela água da chuva que sai da cidade alta e segue à vala de drenagem construída pela edilidade. As valas abertas pelas chuvas chegam a ter seis metros de profundidade e 30 metros de largura
Enquanto se evita o surgimento de charcos na cidade, a água vai fazendo estragos nos bairros para onde é escoada, como é o caso dos bairros Ontupaia, Sangane e Triângulo.
Neste momento, no município de Nacala casas de cerca de 700 famílias viram as suas casas serem estão destruídas pelas chuvas e outras tantas correm o risco de desabar a qualquer momento.
Muitas dessas casas foram construídas com base em blocos de matope e cobertas de plástico e capim ou chapas de zinco e de luzalite.
Refira-se que os bairros mais afectados foram definidos pelas autoridades municipais como zonas de expansão, por se considerar que há condições de habitabilidade.
FALAM OS AFECTADOS
As famílias afectadas pelas chuvas na cidade de Nacala contam que, por causa deste fenómeno, estão desesperadas, pois muitos não têm a ideia de como poderão refazer as suas casas, porque dependem da agricultura.
Entretanto, mesmo sabendo que as suas casas a qualquer momento podem ser destruídas pelas águas pluviais, dizem que não pensam em mudar para outros sítios devido à sua localização. Alguns estão a envidar esforços para construir abrigos provisórios, enquanto esperam pelo fim da chuva.
Zacarias Naconha, residente no bairro Ontupaia, conta que quando chove, sobretudo à noite, todas as famílias que moram nas bermas da vala não apanham sono, porque têm medo de serem arrastadas.
Ele vive naquele bairro desde 2008. Hoje a sua residência está perto de uma vala aberta pela chuva.
Hoje tudo é diferente, ninguém pode andar de motorizada. Temos também medo de os nossos filhos caírem na vala porque eles brincam ali todos os dias. Por serem crianças não imaginam o que lhes pode acontecer,disse.
Naconha disse ainda que não tem condições para se mudar para lado e por isso irá permanecer ali.
Também porque nesta zona estamos perto da estrada. É fácil chegar aos nossos destinos. Acredito que se for para mudar será para mais longe da estrada e dos locais onde adquirimos água, considerou.
Por sua vez, Tarcisia Saide disse à nossa equipa de Reportagem que perdeu todos os seus bens, sobretudo duas casas, uma era do seu pai. Uma das casas ficou completamente destruída; a outra ficou sem o tecto.
Fomos acolhidos em casa do papá. É uma casa que ainda está em obras mas por causa desta situação acabámos ocupando. Vivemos oito pessoas, das quais quatro são meus filhos, meu marido e meus pais, disse.É doloroso porque o espaço é pequeno, pior ainda é que só poderemos sair daqui depois de terminar a época chuvosa, disse.
Por seu turno, Alfredo Petecula, adjunto-secretário do bairro de Sangane, conta que cerca de 25 residências foram destruídas. Os seus moradores neste momento vivem nas casas dos seus familiares e outros estão em casas arrendadas.
Segundo Petecula, a situação constrange os munícipes porque nem todos têm condições para pagar o arrendamento de uma casa.
EDILIDADE DISTRIBUI
MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
O município da cidade de Nacala está, desde a semana passada, a distribuir pelas famílias afectadas chapas de zinco, cimento e barrotes nos bairros de Muanona, Ontupaia e Triângulo, de modo a fazerem pequenas intervenções nas suas casas, como o levantamento das paredes, assim como a cobertura.
O processo está inserido na primeira fase de actividades que a edilidade preparou para ajudar as famílias necessitadas.
Chandrek Niconela, do município de Nacala, explicou que a edilidade não está a reconstruir as casas, apenas está a ajudar a melhorar as residências. A edilidade tem cerca de 3000 chapas de zinco, 700 barrotes e 600 mil sacos de cimento
A nossa ajuda depende do estado da casa porque o Conselho Municipal não tem condições para construir imóveis novos para todas as famílias que foram afectadas, disse.
Acrescentou que“estamos satisfeitos porque nesta fase conseguimos ajudar as famílias a fazer algumas intervenções nas suas casas. Mas posso dizer que nos sentiríamos aliviados se todos munícipes tivessem conseguido solucionar os seus problemas por completo.”
Abibo Selemane
FOTOS DE Carlos Uqueio
