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Quem tem luz própria incomoda quem vive no escuro

Por admin

O homem é, por natureza, um ser insatisfeito. Está sempre à procura de razões para explicar isto mais aquilo. Aquilo que não compreende move-o para novas fronteiras… quando não o apavora. Um dos temas que, volta e meia, povoa o nosso imaginário é a discussão sobre a despartidarização no Aparelho de Estado e quejandos. O assunto é explosivo.

Anima e atiça uns contra outros. Não haja ilusões; é um tema explosivo e apaixonante. Há quem o defina como conflito de gerações. Há os que teimam em viver na idade da pedra enquanto outros tantos querem dar o salto para frente. O tema ganha contornos mais interessantes quando quem está na berlinda é a Frelimo e o seu Governo.

O cerne do debate é a liderança da Frelimo. A pasta está actualmente à guarda do ex-chefe de Estado, Armando Guebuza. A opinião prevalecente, a vários níveis, incluindo nos partidos da oposição à Frelimo, é de que Guebuza deve entregar a presidência do partido ao novo inquilino da Ponta Vermelha, Filipe Nyusi.

Argumentos abundam sendo o mais repetido de que sem mandar no Partido, Filipe Nyusi tem pouco poder de facto; que não tem como gerir os egos que adejam a “Pereira do Lago”. Há quem alvitre que mesmo o Governo de Nyusi foi largamente condicionado pelo Partido onde, afinal, não tem poder nenhum.

O interessante é que algumas vozes que hoje conclamam que Filipe Nyusi deve dirigir a Frelimo, são as mesmas que há bem pouco tempo reclamavam que havia muita interferência partidária na máquina governativa por culpa da acumulação das duas direcções numa única figura. Que era preciso e urgente despartidarizar o Governo.

Ora, se é verdade que a própria história da Frelimo foi sempre marcada pela prática de “unicidade”, facto que até estava plasmado nos estatutos do partido e materializado aquando das presidências de Chissano e de Guebuza, dizíamos, esse pormenor, ao que tudo indica, não consta dos actuais estatutos. A obrigatoriedade foi tornada nula com a introdução do multipartidarismo. A prática passou a ser histórica…com o peso e valor que tem. Aliás, foi assim na transição da era Chissano para a era Guebuza.

O que alarma as hostes é que, com a entrada de Filipe Nyusi para a Presidência da República, a expectativa generalizada era a de que imediatamente Armando Guebuza entregasse o martelo do poder na Frelimo ao seu sucessor mas, o tempo está a passar e, nada! Isso está a assustar muita gente. As mudanças assustam. Incluindo a oposição. Aliás, Raul Domingo, líder do PDD, verbalizou a questão alto e bom som. E não é o único. Mesmo nas hostes da Renamo, já algumas figuras disseram-se favoráveis a ideia do Presidente da República tomar a rédea ao partido. Interessante este assunto porque um dos temas na berlinda no Centro de Conferências Joaquim Chissano, no diálogo Governo-Renamo, é exactamente a despartidarização do Aparelho do Estado. Ou seja, a separação do Executivo do Partido.

As leituras que se podem fazer são várias; que o que acontece na Frelimo, afinal é de interesse de todos os moçambicanos; que a figura de Armando Guebuza “amedronta” muita gente. A opinião do actual presidente neste quesito é uma incógnita. Publicamente nunca se manifestou embora se diga em surdina que ele não está nada preocupado com a situação. Aliás, há bem pouco tempo, disse alto e bom som que contava, em primeira instância, com os membros do seu partido, a Frelimo. A verdade verdadeira é que apesar do tempo transcorrido desde a tomada de posse do presidente Nyusi até agora nada transpirou no que diz respeito a direcção da Frelimo. Sabe-se que vem ai o conclave do “batuque e da maçaroca” do qual, certamente, sairão muitos coelhos da cartola.

Uma coisa é certa; o que não compreendemos assusta. Teodoro Madureira defende que há um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. Vale dizer que o tempo tem todas as respostas. Precisamos é de ter um pouco de paciência para vermos a luz brilhar porque não importa o quão longa seja a noite, o sol volta a brilhar!

 

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