Nos finais do mês de Outubro, O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, dirigiu, numa remota localidade, chamada Bandece, no distrito de Lago, província do Niassa, as cerimónias centrais de lançamento da campanha agrícola de 2015/2016, que se realizaram sob o lema “Pela Produtividade Agrária, Segurança Alimentar e Nutricional e Geração de Riqueza”.
O lançamento desta campanha acontece sempre no início de cada época agrícola, com um lema anual específico, e é visto como uma oportunidade para promover o papel do sector agrário no desenvolvimento sócio-económico do país. O acto permite também avaliar o desempenho da campanha anterior e lançar as linhas estratégicas com vista ao aumento da produtividade e da produção agrária.
É que Moçambique possui cerca de 35 milhões de hectares de terra arável, dos quais somente 15 por cento estão a ser trabalhados para produzir comida e combater a insegurança alimentar, que continua a afectar um número considerável de moçambicanos.
Somos um país essencialmente agrícola com uma extensão de terra tão grande e tão fértil que continua a ser um escândalo falar-se em pobreza entre nós, pobreza esta que, aliás, só não existe, porque o absoluto não tem realidade objectiva, mas o exagero da expressão traduz o drama de quem a sofre. Começa na fome e vai por aí além, de carência em carência, até aniquilar o cidadão, que acaba consciencializando-se como objecto, deixando de ser dono de si mesmo. Fome, neste contexto, significa não ter esperança de comer nos dias que se seguem.
Os alimentos brotam da terra e terra é o que mais temos, sendo até propriedade do Estado com obrigação de a conceder ou distribuir baseado em políticas de desenvolvimento em função do homem de carne e osso. De carne e osso, repetimos, porque há quem trate o tema em jeitos de abstracção, como até o fazem muitos de nós grudados às secretárias em repartições alcatifadas e impecáveis ares condicionados.
Quem cultiva a terra são homens e mulheres, que também temos em abundância. Se temos o fundamental que faria felizes tantos países em que a terra é um bem sobremaneira escasso e a população está avelhentada, porque é que estamos tão em baixo?
Estamos em baixo na agricultura, mas há centenas senão milhares de moçambicanos que pensam e fazem a agricultura para nos alimentar. Há muita gente dedicada, que apesar de todas as peripécias e dificuldades, continuam a ver este sector como a nossa principal riqueza.
São homens e mulheres de todas as províncias, distritos, postos administrativos, localidades, aldeias do país, que não poupam esforços para produzir cereais, hortícolas, tubérculos e até gado bovino, caprino e outro. Tudo isso é feito na perspectiva de ver Moçambique a crescer e a vencer a batalha contra a fome e pobreza.
O Jornal domingo tem estado a publicar nestas semanas, na sua rubrica “Sobe e Desce”, em jeito de homenagem, alguns rostos destas pessoas que se dedicam à terra para dela poderem tirar alimento para vencermos a fome. Estas caras são de mulheres, as mais premiadas na campanha agrícola passada, e que aqui merecem toda a nossa distinção. Com efeito, é a mulher que alavanca a agricultura neste país, sobretudo a do sector familiar e isso não é de hoje.
Algumas das mulheres que vamos referir aqui pelos nomes e descrevendo parte da sua actividade, receberam prémios das mãos do Chefe do Estado na cerimónia do lançamento da presente campanha agrícola. É gente trabalhadora que arregaçou as mangas e pôs-se a trabalhar a terra, produzindo comida para alimentar não só as suas famílias como também outros moçambicanos e moçambicanas.
Falando dos premiados, dizer que o “Prémio Melhor Produtor Agrícola” da época 2014/2015, foi ganho por uma associação de mulheres de Pebane, província da Zambézia, designada “Associação 7 de Abril”. A mesma foi criada há cerca de dez anos.
O “Prémio Melhor Produtora” foi para Avelina Sumbane, uma agricultora do distrito de Boane, província de Maputo, que explora uma área de quase 15 hectares, na localidade de Mabadja, em Boane, com ajuda de 24 trabalhadores, entre homens e mulheres. Produz tomate, repolho, pepino, cenoura, alho, cebola, piripíri, couve, alface e milho, há mais de 15 anos.
O “Prémio Melhor Investigador” foi para Aida Cristina Cala, veterinária, que recebeu valiosos meios para poder trabalhar melhor na área de sanidade animal, como uma viatura 4×4, dupla cabine, um computador com internet, e outros artigos inerentes ao trabalho que desenvolve como investigadora.
Como referimos acima, estes são alguns dos muitos exemplos que existem no país de gente trabalhadora que faz as coisas com apego e dedicação em prol do desenvolvimento de Moçambique, numa área que é a nossa principal riqueza.
Não é gente que vive sentada à espera de “boladas” ou “way´s” como diz agora a juventude. Não é gente ociosa que espera “comer onde está amarrada”, delapidando muitas vezes os escassos recursos disponibilizados para poder colocar as instituições a funcionar. Os “que comem onde estão amarrados” não acrescentam absolutamente valor nenhum para o país crescer, pelo contrário apropriam-se do pouco que devia chegar a muitos. Estes exemplos que referimos acima, é de gente que pensa nas coisas e as faz acontecer com suor e dedicação, por isso sabe o valor delas, e merece todos os aplausos.
Como dizia alguém por estes dias, analisando mais um caso em que dinheiros públicos foram parar a bolsos alheios: “um dos grandes problemas das nossas instituições e empresas públicas “é que gestores do topo, dos escalões inferiores e outros se fecham na “cozinha dessas organizações” a disputar “tachos”. Moral da história: ninguém fica no leme para indicar a direcção certa para onde navegar, porque todos estão no compartimento errado, pensando na comida, cada um a querer matar gulosamente a sua própria fome. Ninguém está no compartimento certo, assim, o barco só pode andar à deriva”.